Gasto maior com arenas poupou cofres públicos
ÍTALO NOGUEIRA
DO RIO
O gasto com construção de arenas, da Vila dos Atletas e de centros de mídia para a Olimpíada ficou maior do que o previsto no dossiê de candidatura do Rio, apresentado ao COI em 2009. O uso de dinheiro público nessas obras, porém, foi reduzido.
O alívio se deu graças a parcerias feitas pela Prefeitura do Rio com investidores privados, cujas regras são alvo de críticas de urbanistas. Grande parte do gasto privado foi financiada pela Caixa Econômica Federal.
O investimento privado subiu de R$ 1,4 bilhão para R$ 4,2 bilhão. O público caiu dos R$ 2,9 bilhão, previstos no Dossiê de Candidatura de 2009, para R$ 2,3 bilhões –os valores foram deflacionados.
A economia do gasto público, no entanto, poderia ter sido maior. Oito arenas bancadas com dinheiro público ficaram mais caras do que o estimado há oito anos.
A reforma do Centro de Hipismo, por exemplo, custou mais que o quádruplo do previsto há sete anos. O Estádio Aquático custou o dobro do estimado em 2009.
Apenas a reforma do Engenhão ficou mais barata do que o previsto.
A Prefeitura do Rio afirma que o dossiê de 2009 trazia estimativas com projetos sem nenhum detalhamento. Afirma que em muitos casos, como do centro de hipismo, novos itens foram incluídos à construção.
O município diz que, após a contratação das empreiteiras, apenas duas arenas (Centro de Tênis e Velódromo) tiveram aditivos que aumentaram o custo real da obra.
O aumento no custo de construção de arenas foi compensado com a PPP (Parceria Público Privada) do Parque Olímpico. Por meio dela, foram feitos R$ 1,2 bilhão em investimentos privados que retiraram do orçamento público o custo das três Arenas Cariocas, do IBC (centro de transmissão), do MPC (centro de mídia) e de toda a área comum.
O acordo, porém, previu cessão de terrenos públicos à Concessionária Rio Mais, formada por Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken. As empresas vão explorar a região do Parque Olímpico por 25 anos, onde erguerão empreendimentos imobiliários.
O maior investimento privado foi feito pelo condomínio Ilha Pura, tocado pela Odebrecht e Carvalho Hosken, que será usado como Vila dos Atletas.
O dossiê já previa o gasto privado de R$ 1,3 bilhão na obra com financiamento da Caixa. O custo e o empréstimo, contudo, subiram para R$ 2,9 bilhões. O banco também financia os investimentos no Parque Olímpico.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), afirma que o financiamento de banco público não descaracteriza o gasto como investimento privado.
"O financiamento que a Caixa dá na Vila dos Atletas é o mesmo dado a qualquer empreendimento imobiliário no país", afirma o prefeito.
Urbanistas criticam as parcerias por considerarem que a ocupação urbana da região olímpica estimula a expansão da cidade para a zona oeste, exigindo mais investimento em infraestrutura. Paes diz que reduziu a expansão para a Barra ao não construir uma vila de mídia com 20 mil quartos na área.
O gasto total diretamente ligado aos Jogos é composto pela construção de estádios e a operação do evento, feita pelo comitê organizador.
O balanço parcial destes gastos aponta para uma redução de dinheiro público e aumento do privado em relação ao estimado. Mas ainda não é possível fazer uma avaliação final do custo da Olimpíada porque o dispêndio total para a segurança do evento ainda não foi divulgado em detalhes. Ele vai elevar a participação dos governos no custeio da Rio-16.
PREFEITURA EVITA COMPARAÇÃO
A Empresa Olímpica Municipal afirmou que o gasto com a construção de arenas se manteve no mesmo patamar após o detalhamento dos projetos.
Em nota, o município afirma que o gasto estimado no dossiê de candidatura não deve ser usado como comparação com os preços atuais, já que foram feitos sem detalhamento de projetos.
"O documento trazia uma estimativa de valores da época, com projetos sem nenhum detalhamento. Somente com o amadurecimento dos projetos é possível chegar a orçamentos consistentes, seja para projetos exclusivamente associados à organização e realização dos Jogos", diz nota da prefeitura.
De acordo com o município, apenas o Centro de Tênis e o Velódromo custaram mais do que o previsto na licitação. A EOM diz que os aditivos de preço ficaram abaixo do limite legal, de 25%.
"Em relação à segurança, por exemplo, hoje o Corpo de Bombeiros exige que os assentos sejam antichamas, demanda que não existia em 2009 e impacta no custo da construção. Em 2012, uma lei definiu novos padrões de acessibilidade para arenas esportivas, que foram acrescentados aos projetos."
A prefeitura afirma ainda que arenas não previstas inicialmente tiveram de ser construídas com a inclusão do golfe e rúgbi no rol de esportes olímpicos. O estádio de Deodoro, por exemplo, não estava previsto.
O Centro de Hipismo também aumentou o número de instalações. Foram exigidos, por exemplo, clínica veterinária, ferradoria e vila de tratadores.