Medicina a distância reduz a fila da consulta com especialista

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Recursos da telemedicina têm sido usados na rede básica de saúde como forma de reduzir a fila por consultas com especialistas, um dos grandes gargalos no SUS.
Em São Paulo, por exemplo, o tempo de espera por um cardiologista é de oito meses. No Paraná, conseguir consulta com um reumatologista pode demorar três anos.
No programa telessaúde, plataforma online do Ministério da Saúde, profissionais da atenção básica esclarecem, remotamente, suas dúvidas e têm uma segunda opinião do especialista.
Funciona assim: após se cadastrar na plataforma, o médico pode ligar gratuitamente ou mandar mensagem online para uma central onde há uma equipe de teleconsultores (formada por médicos de família e especialistas de várias áreas) de plantão para atendê-lo em horário comercial-das 8h às 17h30, de segunda a sexta.
Uma dúvida comum, por exemplo, é sobre o tratamento do diabético que precisa de insulina. Médicos da atenção básica costumam não se sentir seguros na prescrição da droga e encaminham o paciente a um endocrinologista. Conseguir uma vaga, porém, pode levar meses.
Com o telessaúde, ele fala direto com o especialista que, após analisar o histórico do doente e eventuais exames, o orienta sobre a prescrição do medicamento e os cuidados com o paciente.
No Rio Grande do Sul, o serviço tem conseguido resolver 75% das dúvidas e evitado não só que os pacientes amarguem meses na fila de espera como também que se desloquem para outras cidades sem necessidade.
A iniciativa deu tão certo que têm atraído acadêmicos internacionais interessados no modelo. No último mês, o Telessaúde RS recebeu visitas de pesquisadores da Austrália e do Canadá.
"As dúvidas podem ser esclarecidas em tempo real. É como se o médico estivesse falando com um colega. Só que do outro lado será atendido por alguém munido com as melhores evidências científicas sobre aquele problema", diz o médico Erno Harzheim, coordenador-geral do Telessaúde RS e professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Na versão original, o atendimento era prestado só por meio da plataforma digital. Mas a adesão dos médicos era baixa. "Havia unidades que não estavam informatizadas, mas a principal queixa dos médicos era ter que parar o atendimento para preencher os dados na plataforma", conta Harzheim.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
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Paciente aguarda leito no corredor do Hospital Geral de Vitoria da Conquista (BA) |
Em 2013, veio a solução: telefone gratuito. "Qualquer um hoje tem telefone. É imediato, ele liga e é atendido na hora. É um contato mais pessoal, melhor do que escrever numa plataforma."Antes, só com a plataforma, o serviço fazia em média 160 teleconsultorias ao mês. Agora, com o 0800 associado, faz 970.
Na avaliação do coordenador, a equipe tem capacidade de atender muito mais se houve mais procura. "Poderíamos fazer mais 2.000 teleconsultorias por mês via 0800", diz ele.
ENTRAVES
O uso dessa tecnologia esbarra em entraves como unidades sem acesso à internet e a sobrecarga ou desinteresse dos profissionais, segundo Harzheim.
O Ministério da Saúde afirma que está investindo na conectividade das unidades básicas de saúde.
O órgão diz que mais de 5.400 unidades já foram beneficiadas com internet banda larga e que a expectativa é chegar a 12 mil até o final deste ano.
Segundo Hêider Pinto, secretário de gestão do trabalho e da educação do Ministério da Saúde, as unidades de saúde também têm à disposição um software gratuito de gestão (e-SUS).
Entre outras coisas, essa tecnologia permite que o paciente tenha um prontuário eletrônico e reúna todo o seu histórico de atendimento. A ideia agora é somar a ferramenta ao telessaúde.
Para Pinto, o projeto de telessaúde ainda enfrenta a resistência dos médicos. "Para que o processo dê certo, ele precisa estar aberto ao diálogo. Mas existem aqueles que preferem continuar não sabendo cuidar do que pedir informação [ao teleconsultor]."