Caos hídrico

'Nova matriz' trouxe distorções

FERNANDO CANZIAN
ANDRÉ FELIPE
ENVIADOS ESPECIAIS A PETROLINA (PE)

Sobradinho na Bahia é o maior lago artificial da América Latina e está quase seco, com cerca de 1,5% da capacidade de geração de energia.

Sua água serve a outras três principais usinas no rio São Francisco: Itaparica, Paulo Afonso e Xingó, também ameaçadas por Sobradinho.

Juntas, as quatro usinas são capazes de suprir o grosso da demanda no Nordeste. Mas ela é atendida cada vez mais pela energia cara das termoelétricas. O impacto é forte nas contas de luz.

A barragem baiana abastece ainda 23 mil hectares de plantações de frutas em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), que sustentam 1 milhão de empregos e geram R$ 1 bilhão ao ano em faturamento.

O governo federal corre contra o tempo com uma obra emergencial de um canal, ao custo de R$ 32 milhões, para garantir água às plantações.

"É o caos hídrico", diz Silvio Medeiros, presidente da Agrobras, um dos maiores produtores da região. "Estressaram todo o sistema."

Sobradinho sofre com a seca e ilustra uma das consequências da "nova matriz econômica" implantada em várias áreas por Dilma Rousseff em 2012, quando passou a ser gestada a crise econômica que explodiu em 2015.

Naquele ano, Dilma baixou em 20%, na média, o preço da energia em meio a forte demanda (o país crescera 7,6% em 2010 e 3,9% em 2011).

O preço mais baixo inviabilizou a produção das termoelétricas e pressionou a vazão dos reservatórios do São Francisco, secando rapidamente Sobradinho.

"Em nenhum momento tivemos uma situação de tensão tão elevada", diz Leonardo Cruz, analista de Desenvolvimento da Codevasf, estatal responsável pelo manejo hídrico do São Francisco.

Na região de Petrolina, outro exemplo de dificuldades de gestão da "mãe do PAC" (como Lula apelidou Dilma) está parado há 13 anos.

Praticamente concluído desde o fim da gestão FHC, o Projeto Pontal, com 57 quilômetros de canais, já consumiu mais de R$ 350 milhões e não irrigou nada dos 7,7 mil hectares previstos.

"É uma situação incômoda essa. É a nossa grande pedra no sapato", diz Cruz.