Todo mundo foi neném

'Fui o Chico Bento na infância', diz Mauricio de Sousa

Arquivo Pessoal/Gustavo Epifanio/Folhapress
O cartunista Mauricio de Sousa, aos 6, e hoje

RICARDO BUNDUKY
DE SÃO PAULO

Os primeiros anos de vida do criador de Mônica e sua turma o fazem lembrar seus personagens. "Vejo muito do Chico Bento na minha infância", afirma Mauricio de Sousa, ao falar das brincadeiras "com a turminha" na rua Ipiranga, de terra, na cidade de Mogi das Cruzes (SP).

Passava o dia jogando pega-pega, bolinhas de gude, ou nadando no rio. "Eu tive a sorte de a minha família toda morar em dois quarteirões. Duas avós, duas tias, primas, padrinho."

Com as casas sempre abertas, a criançada entrava na mais próxima para fazer um lanche ou tomar um copo d'água. A rua Ipiranga era também uma "Nações Unidas": tinha o armazém do turco (que, na verdade, era libanês), do espanhol e do japonês. "Ali eu aprendi a conviver com o mundo."

As histórias fantásticas que ouvia da avó, como as de lobisomem, serviram de combustível para os seus primeiros rabiscos. Aprendeu a ler com os livros do pai e, claro, com o seu primeiro gibi ("O Guri"). Entre as leituras prediletas, cita um dicionário de francês.

Só ingressou na escola aos seis anos, na capital. Foi também o primeiro momento do qual se lembra que usou sapatos. Mas a referência mais saborosa do período é o gosto do pão com goiabada, que levava de lanche.

Sousa nasceu em 1935, surpreendendo os pais, que visitavam Santa Isabel, e onde acabaram vivendo em seu primeiro ano. Foi amamentado pelo "leite delicioso de uma negra", amiga da mãe.