Perguntas e respostas

Tem filhos de 3 a 4 anos? Tire suas dúvidas sobre como educá-lo em casa

1. Os pais devem coordenar as brincadeiras de seus filhos com outras crianças?

O papel dos pais é muito mais o de preparar os espaços de brincar dentro e fora de casa. Os pais podem sugerir que as crianças montem uma cabana, uma casinha, uma cidade, pintem, cozinhem etc. para que as crianças construam repertórios, espaços ou narrativas de faz-de-conta. Dá também para oferecer materiais, como papéis, tintas não tóxicas, lápis, argila ou massinhas, instrumentos musicais, fantasias e bolas ou sugerir brincadeiras como esconde-esconde ou pega-pega. O importante é que os pais fiquem como observadores enquanto as crianças interagem de forma livre. E que fiquem atentos aos momentos de entrar e sair das atividades, muito mais no papel de acompanhar o interesse e envolvimento das crianças. Se for o caso, podem convidar crianças que ficam "de fora" a se integrar ou escolher uma brincadeira.

2.É bom deixar a criança brincar sozinha?

É importantíssimo dar à criança tempo para brincar sozinha, já que é quando ela brinca com a imaginação e a fantasia. É um momento interessante para os pais ficarem como observadores da dinâmica, dos interesses, das dificuldades e dos diálogos que as crianças travam consigo próprias, com os brinquedos ou com os amigos imaginários. Também estimula a criatividade e a autonomia e ajuda na autoafirmação e na confiança.

Raquel Cunha/Folhapress
Menina brinca no parque Bosque Maia, em Guarulhos (SP)
Menina brinca no parque Bosque Maia, em Guarulhos (SP)

3. A melhor brincadeira é sempre a educativa?

Todas as brincadeiras educam. As brincadeiras são atividades que têm potencial para contribuir com o desenvolvimento integral das crianças, introduzir conceitos e conhecimentos e desenvolver a criatividade. Também ajudam as crianças a assimilar emoções ou vivências que só brincando elas poderão compreender.

4. Os filhos devem ajudar nas tarefas domésticas?

Ajudar nas tarefas domésticas mostra à criança que ela faz parte e está integrada na família e na casa. Assim como é importante criar hábitos de cuidados pessoais (escovar os dentes, lavar as mãos), criar hábitos de cuidados com a casa também ajuda no desenvolvimento da criança, em sua conquista de autonomia e de habilidades sociais, motoras e cognitivas.

5. O que eles podem fazer em cada faixa etária?

A partir dos dois anos, a criança já pode colocar a roupa que tirou no cesto de roupa suja ou na lavanderia, ajudar os pais a arrumar os brinquedos, ajudar a dar comida ao animal de estimação, jogar papéis ou embalagens no lixo. Aos três, elas conseguem passar pano para limpar uma bebida que caiu no chão ou na mesa, varrer migalhas, passar pano de pó em móveis baixos. Entre quatro e cinco anos, podem arrumar cama, esvaziar lixeiras e lavar copos ou pratos de plástico. Com cinco ou seis, vale ensaboar a calcinha ou a cueca no banho, varrer o quarto e ajudar a fazer refeições e a colocar a mesa.

Raquel Cunha/Folhapress
Vida Sarti, 2 anos
Vida Sarti, 2 anos

6. É bom programar atividades extraescolares desde cedo?

As crianças pequenas precisam de tempo para brincar, explorar espaços e materiais. O ideal é terem mais tempo para viver sua infância, com menos interferência. Quanto menores, é preciso mais tempo para brincar, mais tempo sem pressões ou exigências.

7. O tempo para brincar deve ser regulado quando a criança entra na fase da educação formal?

É fundamental que a criança continue a ter tempo livre, contato com a natureza, tempo de conviver com outras crianças e tempo para livre escolha, inclusive para ficar à toa. Quando a criança entra na escola, justamente porque a pressão escolar se torna cotidiana, ela precisa ter tempo para continuar brincando e criando. Introduzir espaços e tempos lúdicos nos quais as crianças possam ter contato com arte, música, histórias, dança e outras atividades físicas é essencial.

8. Como conciliar as regras de casa em relação ao tempo de TV e ao uso de tablets com as de outros ambientes, como a casa dos avós?

Os pais devem conversar com tios e avós sobre as regras presentes no cotidiano da criança para evitar conflitos e exageros, mas é preciso ser flexível. As normas aplicadas em casa podem ser quebradas em outros ambientes. "A casa dos avós é um bom lugar para sair da rotina. Não quer dizer que a criança pode ver televisão por oito horas, mas um pouco tudo bem", diz o pediatra Daniel Becker, autor do blog Pediatria Integral. Segundo ele, o que vai formar o hábito da criança é a norma dentro de casa. E é aí é que mora o perigo. "Muitos pais têm dificuldade para controlar o uso das crianças porque eles mesmos usam demais."

Raquel Cunha/Folhapress
Benjamin Bailer, 3 anos
Benjamin Bailer, 3 anos

9. Vale a pena conversar sobre temas "adultos" (violência, discriminação, abusos) com as crianças? Como e em que circunstância fazer isso?

Dá para conversar desde que a linguagem usada seja compreensível para a criança e que ela tenha demonstrado interesse pelo assunto. Uma ideia para testar se ela está preparada é perguntar o que ela pensa ou então pedir que ela desenhe o que sabe sobre o assunto. Falar sobre temas densos sem que a criança demonstre interesse não é uma boa ideia. Em geral, adultos falam mais do que deveriam e do que a criança tem capacidade de entender. Muitas vezes ela fica mais angustiada, por não compreender o conteúdo. Em casos em que é necessário conversar sobre um tema porque a criança viu ou teve experiências desagradáveis, dá para usar histórias e metáforas. A ajuda de um profissional pode ser indicada quando o adulto fica inseguro e não consegue manter o diálogo.

10. Como evitar que meu filho se torne ansioso e inseguro?

A ansiedade aparece quando a criança não se sente suficientemente informada sobre o mundo à sua volta. Pais irregulares, que mudam de ideia ou não são confiáveis, acabam contribuindo para esse quadro. Os pais precisam trabalhar em si mesmos a insegurança. Muitas vezes eles transmitem aos filhos, além de genes "ansiosos", um ambiente ansioso, em que assumir riscos é visto com preocupação e há a ideia de que coisas perigosas estão prestes a acontecer, não expondo o filho aos desafios do desenvolvimento.O ideal é que os pais demonstrem que estão no comando, deem regras claras, ensinem valores, não estimulem o consumismo e deixem que o filho realize tarefas sozinho, sob supervisão.

Fontes: Adriana Fóz, especialista em neuropsicologia; Adriana Friedmann, antropóloga e pedagoga, coordenadora do Nepsid (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento); Conceição Mattos Segre, da Sociedade de Pediatria de São Paulo;Daniel Becker, pediatra; Fraulein Vidigal de Paula, psicóloga e professora da USP; Guilherme Polanczyk, psiquiatra e professor da USP; Ilan Brenman, autor de livros infantis; Irene Maluf, psicopedagoga; Lino de Macedo, pedagogo; e Saul Cypel, neurologista infantil