Especialistas resolvem 15 dúvidas dos pais sobre o desenvolvimento do bebê
1. É verdade que, ainda na barriga da mãe, já se começa a construir as bases para a aprendizagem da criança?
Sim, a multiplicação dos neurônios e a formação dos circuitos neuronais já começa dentro do útero, a partir de determinação genética e de ações hormonais. A organização neurobiológica servirá de alicerce para outras funções que futuramente participarão de aprendizados. A ação de hormônios (como o cortisol), produzidos normalmente pela mãe, ajudam no processo.
2. De que forma o estresse da mãe pode prejudicar o desenvolvimento da criança?
O estresse na gestação libera hormônios, como cortisol e adrenalina, que podem atravessar a barreira placentária. Essas substâncias chegarão aos neurônios fetais, lesionando-os, o que futuramente poderá levar a prejuízos intelectuais e motores.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Laura, 2 meses, com o pai, o designer Vitor Goersch, 32 |
3. O bebê gosta mesmo de música e de conversa ainda na barriga da mãe?
Sim. O aparelho auditivo já se encontra bastante desenvolvido na criança desde a 25ª semana de gestação. O bebê pode ouvir sons como os ruídos intestinais e batimentos cardíacos da mãe, além de sons do ambiente, como conversas. Certamente não terá compreensão, mas perceberá se existe expressão carinhosa ou rude, o que poderá influenciar no desenvolvimento emocional. Também começa a identificar fonemas da língua e a formar uma memória da sintaxe. Além disso, ao ouvir a voz dos pais, ele vai criando vínculo com eles. Pronunciar mais calmamente as palavras, sorrir, brincar, fazer expressões de surpresa ou de alegria colaboram com as formações neuronais que mais tarde levarão o bebê à fala. "Dá para descrever coisas do dia a dia, contar histórias, cantar. Os adultos devem ser cronistas do cotidiano, contando o que está acontecendo na vida do bebê e na família", afirma Lino de Macedo, pedagogo.
4. A ingestão de bebida alcoólica pela mãe de fato prejudica o bebê? Em qualquer dose?
O álcool interfere no desenvolvimento do sistema nervoso durante a gestação, produzindo malformações cerebrais que prejudicarão o crescimento futuro. Trata-se de uma das causas mais importantes de retardo mental em crianças. Não há qualquer comprovação de quantidade segura de bebida alcoólica que possa ser ingerida.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Bernardo Morais, 1 ano e 9 meses |
5. Se tenho pouco tempo para ficar com meu filho, qual a melhor forma de aproveitá-lo?
Conversar, cantarolar e dar contato físico afetuoso são ações fundamentais para bebês com menos de seis meses. Nesse período, a criança é extremamente dependente. A repetição dessas ações produz sensação de proteção. Para os que têm entre 6 e 8 meses, já vale fazer brincadeiras simples usando livrinhos próprios para a idade, com figuras de animais. Nessa fase, as percepções do bebê estão mais evoluídas, e ele se interessa por objetos, cores e pela fala dos pais. Entre 1 e 2 anos, já dá para brincar com carrinhos, bonecos, brinquedos de bichinhos, panelinhas. A criança já tem melhores condições visuais e auditivas, que favorecem a interação.
6. É melhor a criança ficar em casa ou ir para a escola?
O preferível é que fique em casa, principalmente se os pais estiverem disponíveis. Os pais são os grandes moldadores do desenvolvimento nesse período. Quando ambos trabalham, a creche ou a escola é uma boa opção.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Angelian Martins, 1 ano e 9 meses |
7. Devo brincar o tempo todo com a criança?
O importante é oferecer uma relação de boa qualidade com o tempo disponível. Isso não quer dizer que se deve estimular o filho o tempo todo. A brincadeira com os pais pode durar de 15 a 20 minutos; depois, a criança pode se distrair com seus brinquedos. A interação pode retornar depois de algum tempo.
8. Devo dar o máximo possível de brinquedos para a criança?
Não se deve exagerar. É mais interessante a criança explorar cada brinquedo. Muitos estímulos concomitantes podem gerar mais ansiedade do que benefícios.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Enzo Barbosa, 1 ano e 6 meses |
9. Meu filho se interessa por letras, palavras e números. Devo incentivar?
Sim, mas sem excessos. Esse interesse não reflete uma genialidade; mais adiante haverá uma fase de vida mais adiante em que esse incentivo será de maior utilidade.
10. Brincar com celular, tablet e computador é prejudicial para a criança pequena?
Não há grande proveito em usar essas tecnologias nos dois primeiros anos de vida. O importante aqui é o contato com pessoas, não com telas. Será por meio da interação com adultos que a criança vai estabelecer o contato afetivo e iniciar o desenvolvimento da linguagem e a convivência com regras, lidando com o que pode ou não pode.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Helena, 9 meses, e seu pai, o designer Thiago Capanema, 29 |
11. Devo ensinar outras línguas para meu filho nessa fase?
As opiniões são diversas. O mais recomendado é que a criança aprenda bem uma língua, para que, depois, uma segundo seja incluída. Mas há crianças capazes de dar conta de dois idiomas. Outras ficam confusas, e podem até apresentar dificuldades na aquisição da linguagem. Nesses casos, é indicada a busca de um profissional para avaliar a melhor conduta.
12. Que tipo de atividade os pais devem fazer com bebês?
O ideal é que o bebê tenha contato com a natureza: no início, em passeios de carrinho (entre as 9h e as 11h ou entre as 15h e as 16h) e, mais tarde, em parquinhos e locais onde possa ver animais (aquário, "fazendinhas"). Quando a criança for brincar em tanque de areia, os pais deverão verificar se a areia está limpa e se os brinquedos ao redor não oferecem risco com lascas, pontas etc. A criança leva tudo à boca; por isso, o olhar permanente do adulto e a adequação do entorno são essenciais. A criança precisa de estímulos, mas sem exageros. Por isso não é adequado o ambiente de shopping centers e outros lugares barulhentos e lotados, que deixam os bebês irritados. Espaços de convivência menores, seguros e sem barulho demais são os melhores.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Giovana de Souza, 1 ano |
13. Quais são os indícios de que o bebê recebeu excesso de estimulação?
Irritação, choro, cansaço, agressividade, passividade e problemas para pegar no sono são alguns sinais dados pelas crianças quando há excesso de estimulação. O excesso ocorre, muitas vezes, quando o bebê é exposto a atividades inadequadas para seu estágio de desenvolvimento, como a exposição ao computador. "O bebê até dois anos está em fase sensório-motora. Precisa de estimulação sensorial e de afeto", diz Adriana Fóz, especialista em neuropsicologia.A criança deve entrar em contato com diversos materiais e explorá-los pegando, cheirando, levando à boca. Também é bom estimular o bebê com brincadeiras, músicas e caretas, sempre prestando atenção à resposta.
14. De que adianta contar histórias para bebês?
Com base em pesquisas, a Academia de Pediatria Americana recomenda que pais leiam para os filhos desde o nascimento, porque o ato contribui para aquisição de linguagem no futuro e o estreitamento das relações entre bebês e pais.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Isaque Melo, 9 meses |
15. Dá para fazer uma divisão de tarefas entre pai e mãe que seja mais benéfica para a criança?
O melhor é pensar mais em incluir do que dividir. Isso significa a mãe envolver o pai nos momentos em que, aparentemente, ele está de fora, como na hora de amamentar. Nessa tarefa, o pai ajuda a mãe levantando-se à noite para pegar o bebê e levar até a mãe na cama (nos primeiros meses, dois minutos a mais de sono fazem diferença) e o coloca no berço depois. O mesmo pode ser feito com as trocas de fraldas à noite. É bom que a divisão de tarefas dê chance de o pai ficar sozinho cuidando do bebê, como dar banho, por exemplo, enquanto a mãe vai às compras. Isso ajuda a ultrapassar a relação simbiótica mãe/bebê em direção a uma relação a três: mãe, pai e filho.
Fontes: Adriana Fóz, especialista em neuropsicologia; Adriana Friedmann, antropóloga e pedagoga, coordenadora do Nepsid (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento); Conceição Mattos Segre, da Sociedade de Pediatria de São Paulo; Fraulein Vidigal de Paula, psicóloga e professora da USP; Ilan Brenman, autor de livros infantis; Lino de Macedo, pedagogo; e Saul Cypel, neurologista infantil.