Perguntas e respostas

Como elogiar, como colocar limites e quando alfabetizar: as dúvidas dos pais

Raquel Cunha/Folhapress
Alunos do primeiro ano em escola de Barueri, Grande SP

1. Quando começar a alfabetização?

Pesquisas mostram que a maturidade para esse processo acontece entre os 5 e os 7 anos, mas não se pode querer definir uma idade certa ou errada. Normalmente, esta é uma demanda que parte da própria criança. Há crianças que demonstram capacidade de aprender a escrever aos 4 anos. E há alunos do 2º ano do ensino fundamental que têm dificuldade na alfabetização. Cabe à escola perceber o momento mais adequado e não ultrapassar uma etapa, se a criança não estiver preparada.

2. Crianças que aprendem mais rapidamente devem 'pular de ano'?

No passado, havia consenso quanto a avançar uma criança nessas condições. Mas a maior parte dos teóricos já não recomenda a prática. Até porque a escola não serve apenas para o aprendizado programático de conteúdo. Há também o lado de amadurecimento emocional, social e até mesmo corporal, que podem ser prejudicados caso a criança avance de ano apenas com base no aprendizado do conteúdo.

3. O ensino de outras línguas atrapalha o aprendizado do português?

Pesquisas dizem que não, desde que esse ensino seja feito de maneira natural e bem estruturada. Em idade pré-escolar, a criança está ávida por aprender e predisposta a receber esse tipo de conteúdo. Mas se começar a haver confusão para a criança, é melhor procurar um especialista.

4. Por que é importante ler para as crianças?

Pesquisas recentes mostram que crianças cujos pais leem histórias regularmente têm atividade maior na região do cérebro responsável pela leitura. Ou seja, elas terão mais facilidade para aprender a ler e a escrever. Também poderão ser mais criativas, pois, ao ouvir histórias ainda pequenas, já começam a imaginar cenas e situações.

Raquel Cunha/Folhapress
Felipe Iagamuti, 2, em São Paulo
Felipe Iagamuti, 2, em São Paulo

5. Os pais devem ajudar na lição de casa?

Devem acompanhar, se interessar pelo que a escola propõe, ajudando a criança a pensar, e não fazer por ela. Organizar com a criança o tempo e o espaço em casa para poder dar conta da tarefas.

6. É bom forçar a criança introvertida a participar de muitas atividades sociais?

Forçar demais só vai expor a criança. O tímido precisa ser respeitado. Mas a exposição pode ser feita de modo gradual. Timidez tem a ver com ansiedade, e é preciso que a criança tenha contato com o estímulo que gera ansiedade para que possa vencê-lo. Outra ideia é prestar atenção em como a criança se comporta socialmente. Pode ser que ela não tenha muito jeito com outras crianças, discuta ou não aceite brincar, por exemplo. Se esse for o problema, é preciso desenvolver habilidades sociais. Os pais podem dizer quais comportamentos são legais e quais afastam os amiguinhos.

7. Como saber se meu filho precisa de apoio psicológico?

A ajuda deve vir quando um comportamento ou problema causa prejuízo à criança, seja social, educacional ou emocional. O primeiro sinal é o sofrimento da criança: se ela demonstra tristeza e desânimo constantes. Baixo rendimento escolar, agressividade, agitação e mudança de comportamento são outros fatores importantes.

8. O que fazer se seu filho é rejeitado ou rejeita um colega de escola e se envolve em brigas?

A escola precisa trazer os pais das crianças envolvidas para conversar. Os adultos têm de interferir. A ação com a criança que sofre rejeição é tão importante quanto com a criança que a exerce. A que sofre precisa aprender mecanismos de defesa. A que exerce precisa explicar suas motivações.

Raquel Cunha/Folhapress
Marina Sommer, 6, e Julia Pfeiffer, 6, em SP
Marina Sommer, 6, e Julia Pfeiffer, 6, em SP

9. Levar muita lição de casa (aos 5, 6 anos) é sinal de que a escola é boa?

Tudo depende do que se considera como lição de casa. Nesta idade, as crianças estão ainda na educação infantil, é sempre bom lembrar. A rotina precisa prever tempo suficiente para brincar muito. Que tipo de lição de casa caberia nesta perspectiva de escolaridade? Visitar um museu, passear no parque e coletar folhas diferentes para levar para escola, fazer um desenho? A escola é boa se propuser muita lição de casa deste tipo, e ruim se propuser mesmo que poucos exercícios de cópia, de repetição, que não desafiem a criança a pensar.

10. É preciso mesmo elogiar meu filho sempre?

Só quando realmente há motivos para isso. Sem razão, elogio só atrapalha e cria pequenos tiranos mimados. Para evitar efeitos colaterais, o elogio deve se limitar ao momento específico da conquista. Para ser confiante, a criança precisa conhecer suas potencialidades. Além da dose, é preciso acertar na forma. Existem dois jeitos de elogiar: o elogio valorativo e o construtivo. Valorativo é quando a mãe diz: "Você é o máximo, é o melhor, é superinteligente...". Construtivo é quando os pais descrevem uma conquista específica da criança, sem necessariamente focar no resultado, mas no percurso. Por exemplo: "Vi que você se esforçou bastante e sei que isso foi difícil." Os elogios valorativos são irreais: ninguém é o máximo 24 horas por dia. Além disso, criam dependência e impõem uma expectativa alta que a criança fica angustiada para cumprir.

11. Nenhum castigo funciona?

Há castigos que funcionam para a criança compreender a consequência dos atos. "Sem limites o ser humano não se desenvolve", diz Adriana Fóz, especialista em neuropsicologia. O problema é que não é simples castigar. Segundo o pedagogo Lino de Macedo, o castigo não pode ser severo e os pais têm de ser constantes: não dá para ameaçar e depois voltar atrás. O melhor jeito de o castigo ser efetivo é impor uma sanção que tenha relação direta com a atitude que os pais querem corrigir, afirma a educadora Luciana Maria Caetano. "Se a criança não guardou os brinquedos, deverá arrumar a bagunça antes de brincar com qualquer outra coisa. Se estragou, tem que pensar em um jeito de consertar." Castigo universal, do tipo tirar a TV, não funciona. "Não tem nenhuma relação com o fato, diz a educadora.

12. E prêmio por bom comportamento, funciona?

Há controvérsias. Alguns educadores, afirmam que prêmio é importante, porque ajuda a criança a criar referências do que é bom e do que é ruim, do sucesso e do fracasso. Outros são contrários a qualquer tipo de prêmio, por julgarem que comportamentos que são esperados, como se portar bem na escola e fazer a tarefa, não devem ser premiados. Há quem defenda o prêmio, mas sem itens materiais. Pode ser um passeio no parque ou uma ida ao cinema.

Raquel Cunha/Folhapress
Emanuel Silva, 6, em Jarinu, no interior de SP
Emanuel Silva, 6, em Jarinu, no interior de SP

13. É melhor para a criança com necessidades especiais frequentar escola comum?

É um tema polêmico, mas a maioria dos educadores consultados defende que a escola comum é boa para todos. As crianças com problemas de aprendizagem, porém, devem receber ajuda especializada sempre que possível. Ou seja, se a escola comum pode ofertar professores especializados em educação especial, é a ideal. Do contrário, nenhuma boa vontade de professor vai ajudar o quanto um especialista poderia. Não que crianças especiais não possam ir à escola comum: seus professores é que não podem ser comuns, têm de ter condições de atendê-las.

14. Para as demais crianças do grupo, é interessante a convivência com o aluno com deficiência? Não atrasa a turma?

Uma escola tem que ser um espaço de encontro e convivência de todas as crianças, independentemente de suas condições. Para isso, deve ter metas que incluam todos os alunos. Isso não é atrasar a turma, é fazer com que as crianças entendam as vantagens de viver em um mundo com amiguinhos diferentes, não inferiores.

15. Escola em período integral é melhor ou pior para a criança?

Depende da escola. Se o período integral for fazer mais do mesmo e não ajudar a criança a se organizar no tempo, pode não ser bom para ela. Há pesquisas que não viram ganho para a criança matriculada em período integral.