Pai tem que participar

Mulheres excluem pais dos tratos com o filho se não for do jeito delas

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um pai que ajuda nos cuidados com o filho é valorizado por pediatras, psiquiatras, publicitários. E, supõe-se, pelas mães.

Só que a realidade é menos óbvia e mais complicada do que mostram campanhas publicitárias ou fotos da cria tiradas por "pais de selfie" e postadas na rede.

"Mesmo com a revolução sexual e o feminismo, o instinto maternal é enaltecido como sempre foi. E muitas mulheres abusam desse instinto. Falam que o pai tem que participar, mas não deixam se não for do jeito delas", afirma a psicóloga Lucia Rosenberg, coordenadora dos grupos de estudo intitulados "Em busca da intimidade familiar".

Na sua experiência em consultório, Rosenberg ouve muitas reclamações masculinas. "Eles dizem que são tratados feito idiotas, que as mães agem como se ninguém mais soubesse criar o filho e manifestam isso com desdém, chegam a humilhar o outro."

Essa atitude bem comum tem origem no que Rosenberg chama de arquétipos culturais, "da mãe leoa que tem um ciúme sem limites da cria à 'mater dolorosa', que se desdobra em dez para cuidar do filho".

O nó começa a ser feito ainda antes do nascimento, segundo a neuropsicóloga infantil Ana Olmos. Se, durante a gravidez, a mulher não se sente acolhida pelo marido, sua tendência é a de afastá-lo do bebê.

Enquanto muitos homens não entendem essa expectativa da grávida, muitas mulheres querem se sentir "como princesas com o bebê na barriga", afirma a terapeuta de família Tai Castilho.

Esse desencontro pode gerar um monstro de mágoas e ressentimentos que vai resultar em uma mãe que cobra o pai e o exclui da relação com o filho.

Vira um jogo de poder, especialmente nesta época em que filhos são vistos como símbolo do sucesso dos pais. "Tudo o que o pai faz ou deixa de fazer entra no livro-caixa da família. É uma competição para mostrar quem comanda a relação, e o filho vira a fatura", diz Castilho.

E há as mães que não apoiam o pai porque pressentem que uma das funções dele é justamente a de separá-la de seu filho.

O que é bom. "É o pai quem ajuda o bebê a passar da relação simbiótica com a mãe e se perceber como um ser único", afirma Olmos.

Não é fácil para nenhuma mãe aceitar "o lobo mau que vai lhe tirar a criança", diz Castilho. Mas ela tem que confiar no homem, deixá-lo acertar e errar. "E poucos erros são fatais", diz Rosenberg.