Elas e as telas

Artistas dão ideias para brincar com o seu filho em diferentes linguagens

Raquel Cunha/Folhapress
Mia 4, brinca com a mãe, a atriz Mariana Elisabetsky, 35, em praça na zona oeste de São Paulo

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Brincar é de lei. Direito garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a atividade lúdica na infância é levada tão a sério por ser uma das melhores -e mais gostosas- maneiras de a criança se desenvolver.

"Brincar tem o potencial de introduzir conceitos ou conhecimentos, desenvolver a criatividade e ajudar a criança a assimilar emoções ou vivências", afirma Adriana Friedmann, coordenadora do Nepsid (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento).

É brincando que a criança aprende a se relacionar com os outros. "A palavra brincar vem do latim: 'vinculum', que significa laço. O brincar vincula a criança à vida", diz o escritor Ilan Brenman.

É também uma forma de a criança se expressar nas diferentes linguagens, como mostram as ideias nesta página, sugeridas por artistas e educadores. Não é preciso ser especialista nem ter equipamentos especiais para fazê-las em casa. Basta usar a imaginação e, no máximo, objetos do dia a dia.

TEATRO

No teatro, assim como na brincadeira infantil, existe a criação de uma situação imaginária, "um espaço em que se pode ser outra pessoa", como diz a a educadora e atriz Maria Paula Zurawsky. Professora de graduação em pedagogia e membro da cia. Furunfunfum de teatro infantil, ela dá ideias para brincar de teatro com crianças de três e quatro anos.

Brinquem de transformar as coisas: um sofá pode ser o palco de um circo; uma mesa virada de cabeça para baixo pode ser um barco; um lençol estendido sobre um barbante, a parede de uma casa, ou um rio. Uma variação, inspirada pelo trabalho dos grupos de teatro de bonecos, é brincar de faz-de-conta com os objetos. Andem pela casa olhando os objetos e tentando encontrar neles características de seres animados. Por exemplo, um bule: com que animal ele se parece? E um saca-rolhas? Depois, criem uma forma para os novos personagens andarem, falarem ou até dançarem.

Raquel Cunha/Folhapress
Gael Elisabetsky, 4 anos, e sua mãe, Mariana Elisabetsky, 35
Gael Elisabetsky, 4 anos, e sua mãe, Mariana Elisabetsky, 35

MÚSICA

Crianças pequenas adoram brincadeiras sonoras, afirma o professor de musicalização infantil, psicólogo e instrumentista Roberto Schkolnick. Além de ouvir e cantar músicas conhecidas, elas podem brincar de sonoplastia. Enquanto alguém conta uma história, elas reproduzem os sons do enredo: o sopro forte do lobo mau, os sons da chuva, dos passos do gigante. É fácil usar materiais para criar feitos sonoros, como papel celofane para fazer o som do fogo ou um chocalho para o barulho da chuva. Outra sugestão é a cabra-cega sonora. Uma criança fica com os olhos vendados e as outras ficam em diferentes cantos da casa com objetos para produzir som (colher de pau, latinhas). A cabra-cega tem que descobrir de onde vem cada um dos sons.

LITERATURA

Ilan Brenman, autor de mais de 60 livros infantis, conta que se empolgou ao se lembrar das brincadeiras que fazia quando suas filhas eram pequenas. Dessas lembranças saem suas sugestões para brincar com livros. Montem circuitos de aventura pela casa: as crianças têm que andar sobre uma corda, passar debaixo de cadeiras etc. No meio do circuito, fica um livro. Quando as crianças chegarem a essa fase da aventura, precisam encontrar uma ilustração determinada: um lobo, uma bruxa. Só depois de achar a imagem elas podem passar pelo próximo obstáculo. Outra brincadeira é o "conte outra vez". "Crianças têm muita facilidade de memorização, mude uma vírgula e a reclamação já começa: 'Não é assim que você me contou!'."

DANÇA

O corpo e seus movimentos são tudo o que se precisa para brincar... ou dançar. É essa a brincadeira proposta por Uxa Xavier, autora de "Mapas para Dançar em Muitos Lugares" e diretora do Lagartixa na Janela, grupo que cria danças para e com o público infantil. Para um "banho dançante" de mentirinha, imaginem um sabonete. Esfreguem bem as mãos até deixá-las cheias de espuma de faz-de-conta. Deslize as mãos por todo o corpo. Ao ensaboar as costas, imaginem que a coluna vertebral é uma escadinha. Entrem em um chuveiro imaginário e deixem a água escorrer. Quando o banho acaba, é preciso se secar com o vento: não tem toalha! Escolham uma música e dancem fazendo vento até se secarem!