Primeira Infância

Antes da aula

Qualidade da pré-escola é essencial ao desempenho futuro, dizem educadores

Larissa Cruz, 6, na escola

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

A pré-escola é importante para crianças e merece investimento ou o importante mesmo são as séries seguintes?

A Folha levou a seis educadores a pergunta que martela pais, que podem ficar em dúvida em gastar com altas mensalidades para crianças entre quatro e cinco anos.

A resposta, em geral, foi que vale a pena, sim, investir no ensino infantil. Desde que isso que não desorganize a finança e a rotina familiar.

Esse consenso entre educadores sobre a importância da pré-escola, porém, não convence a todos.

A engenharia química Cintia Collis Bernardi, 40, por exemplo, decidiu esperar para colocar seu filho de cinco anos direto no fundamental. "Ele tem aprendizagem avançada, é ativo, convive com outras crianças. Não teria incentivo no pré. Seria apenas dar dinheiro para a escola", diz.

Professora de pedagogia da PUC-RS, Maria Inês Côrte Vitória concorda que em condições ideais crianças podem ter desenvolvimento até melhor em casa nessa idade, devido ao atendimento individualizado que só os pais podem dar. Mas, como não há garantia de que as famílias estejam preparadas para ficar o tempo todo com as crianças, ela defende a matrícula na pré-escola.

"Ainda é muito presente a ideia de que a pré-escola é apenas a escolinha para deixar a criança enquanto a mãe trabalha", afirma a professora Silvia Colello, da Faculdade de Educação da USP. "Se a criança não aprende a gostar de aprender nessa etapa, vai ser difícil reverter no ensino fundamental e médio."

A defesa da qualidade na pré-escola tem respaldo em pesquisas recentes.

Estudos liderados pela professora Maria Malta Campos, da Fundação Carlos Chagas, mostraram que crianças que fizeram pré-escola de boa qualidade tiveram notas melhores na avaliação nacional de alfabetização na segunda série do fundamental.

Já levantamento do Banco Mundial destacou que fazer pré-escola de baixa qualidade tem quase o mesmo efeito de não cursar a etapa.

Raquel Cunha/Folhapress
Aluna brinca de amarelinha em escola em Jarinu, no interior de SP
Aluna brinca de amarelinha em escola em Jarinu, no interior de SP

O QUE FAZ A DIFERENÇA

Como, porém, identificar a qualidade da pré-escola?

Em estudo da Fundação Carlos Chagas, feito em três capitais brasileiras, considerou-se que a boa unidade tem espaços bem iluminados; boa supervisão de segurança; livros, quebra-cabeças e blocos de brinquedo; professores carinhosos; rotina diária para as crianças, com tempo para atividades individuais e em pequenos grupos; e informações regulares aos pais.

Os aspectos já haviam sido testados em outras pesquisas, que mostraram correlação com melhor desenvolvimento das crianças. E vale tanto para escolas públicas quanto para particulares.

O Conselho Nacional de Educação também recomenda número máximo de 20 crianças por professor, preferencialmente com ensino superior, segundo lei federal.

Os educadores entrevistados pela reportagem destacaram ainda a importância de a pré-escola ter plano pedagógico, que trace a evolução que as crianças terão no ano.

"Deve ter sobretudo linguagens artísticas, que permitem o desenvolvimento da sensibilidade das crianças", diz a doutora em educação Maristela Angotti, da Unesp.

"E não acho que nessa idade deva ter treino para alfabetização, que tira o tempo para atividades lúdicas", diz a coordenadora da ONG Todos pela Educação, Alejandra Velasco. "Claro que a leitura de histórias contribui para futura alfabetização, mas é prejudicial treinamento sistemático para alfabetizar."

Educadores apontam ainda que a escola não deve ser longe de casa nem comprometer muito a renda familiar. "Não adianta a escola ideal exigir horas de carro e acabar com o dinheiro da família. Se for assim, melhor procurar algo mais realista", diz Colello, da USP.

Colaborou CLÁUDIO GOLDBERG RABIN, de São Paulo