Atletismo - Quênia

Medalhista olímpico diz que exigência levou ao sucesso do Quênia; 'Prata não vale nada'

DE SÃO PAULO

O queniano Mike Boit, 67, teve como principal façanha na carreira esportiva a medalha de bronze nos 800 m nos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, em 1972.Ele acompanhou e foi um dos que protagonizaram o nascimento e a evolução do domínio dos corredores de seu país no atletismo internacional.

Até hoje, o Quênia soma 79 medalhas em Jogos Olímpicos –é uma das dez nações com mais pódios. Boit há décadas se afastou das pistas, mas não do atletismo. Ele é professor da Kenyatta University, em Nairóbi, no departamento de ciência do esporte e exercício.O ex-atleta credita à cultura exigente criada pelas conquistas ao longo dos anos o sucesso do atletismo queniano, e não a qualquer motivação genética. E que a expectativa do país para os Jogos do Rio é de uma avalanche de pódios nas provas de fundo.

Por que os fundistas quenianos são tão dominantes?

O Quênia estabeleceu uma tradição em excelência nas corridas nos últimos 50 anos. Os jovens atletas treinam confiantes de que podem ser bem sucedidos. Também considero importante a expectativa do público queniano. Para ele, uma medalha de prata não é suficiente, a menos que o campeão seja outro queniano. A recepção no país a um medalhista de prata sempre será morna, e os atletas estão muito cientes disso. Em minha opinião, os quenianos não configuram essencialmente uma cultura superior em corridas de um ponto de vista genético, mas é possível que eles tenham desenvolvido uma adaptação única devido aos muitos anos de corrida em alta altitude através de terrenos difíceis.

O que pode dizer especificamente sobre treinos? Eles são diferenciais em relação ao restante do mundo?

Creio que já respondi parte da questão acima. Porém, estudos científicos sobre o tema endossaram constantemente a visão de que os quenianos são iguais a todos os outros [corredores do mundo] no que diz respeito a parâmetros genéticos.

O investimento das autoridades é grande no atletismo ou os resultados advêm de proezas individuais?

O apoio tradicional fica na mão do setor privado e voluntários. O governo do Quênia entra, geralmente e principalmente, para respaldar seleções do país em participações em campeonatos internacionais, como os Jogos Olímpicos. Dado o desempenho excelente dos corredores quenianos em nível internacional, poderia se esperar investimentos colossais, mas o Quênia é uma nação em desenvolvimento que tem numerosos desafios. Isso à parte, o país dá muita importância ao desenvolvimento por meio do esporte.

Qual é a expectativa em relação à participação dos quenianos nos Jogos do Rio?

A expectativa é a de que nosso atletas vençam todas as provas dos 400 m à maratona tanto entre homens quanto entre mulheres. É isso o que o Quênia exige e espera de seus atletas.

Há um crescente alarme sobre o doping no atletismo queniano. Qual o seu sentimento sobre isso?

Todos concordamos que o doping é a um desafio global. Estamos felizes com o fato de a nova liderança da IAAF [Associação Internacional das Federações de Atletismo] se mostrar determinada em deixar o esporte limpo. Isso está entre os interesses dos quenianos, que sempre se fiou no talento puro e em uma determinação sem igual. A maioria dos atletas de alto nível do Quênia é limpa, e o governo e o povo do país estão unidos na luta contra o doping. Em abril, o Parlamento queniano aprovou uma lei que vai criminalizar uma violação de doping em um espectro mais amplo, que vai instituir medidas rigorosas contra qualquer um envolvido com doping.