Regime conquista rede de apoiadores das ideologias nacionais pelo mundo

JOHANNA NUBLAT
ENVIADA ESPECIAL A PYONGYANG
GUILHERME MAGALHÃES
DE SÃO PAULO
Duminda Perera, 43, integrou uma comitiva de quatro pessoas do Sri Lanka que foi à Coreia do Norte, em setembro, para participar de um seminário sobre a ideia Juche —base teórica lançada por Kim Il-sung (1912-1994).
Em sua primeira viagem ao país, a convite, ele diz ter visitado várias cidades norte-coreanas e conversado com segmentos sociais distintos.
"Muitas pessoas falam que há violações de direitos humanos aqui, mas visitamos cidades, discutimos com intelectuais, fazendeiros e a classe média, e percebemos que não há essas violações", disse à Folha na capital, Pyongyang.
"Acho que esse governo tenta dar coisas boas às pessoas, todos os benefícios vêm do governo (eletricidade, água, educação, saúde). Temos que apoiá-los, construir sua imagem no mundo", diz.
Uma comissão das Nações Unidas publicou um relatório, em 2014, listando a ocorrência de diversos crimes contra a humanidade, como assassinatos e prisões.
Perera integra, no Sri Lanka, um dos grupos internacionais de apoio à ideia Juche. Ele diz ser partidário do ex-presidente cingalês Mahinda Rajapaksa, que governou o país de 2005 a 2015 e enfrenta críticas internas e externas. "Mahinda se aproxima da ideia Juche: temos que fazer nós mesmos pelo nosso país. Por isso, apoiamos a ideia Juche", afirmou Perera.
Assim como o cingalês, o congolês Roland Vele, 48, foi a Pyongyang para o seminário e aproveitou para dar andamento à tese de doutorado que desenvolve na Universidade Kim Il-sung —onde fez também o mestrado.
Vele, professor universitário na República Democrática do Congo, nunca morou na Coreia do Norte. Ele se envolveu com a ideologia coreana ainda na graduação e, em 2003, criou o círculo universitário das ideias Juche.
Hoje estuda o quanto a África —e, em particular, a República Democrática do Congo— poderia se beneficiar da política Songun norte-coreana, que prioriza a força militar. Vele frequenta um templo da Assembleia de Deus em seu país, foi eleito suplente de deputado em 2011 e vai se candidatar de novo em 2017.
AMIGOS
Na Espanha está talvez o maior expoente da rede de amigos da Coreia do Norte.
Alejandro Cao de Benós, 41, já chamado de "embaixador" estrangeiro do país, preside a Associação dos Amigos da Coreia (KFA, em inglês), que tem representantes em vários países —até no Brasil.
À Folha, Benós diz que é natural um país ter sua rede de amizades, mas que, no caso coreano em especial, frente às pressões militares e os embargos, é relevante ter uma rede de solidariedade de pessoas que entendem o país.
"Não só a política é diferente, mas as culturas asiática e coreana", afirma ele. "Atuamos como tradutores culturais da Coreia do Norte."
Nos últimos dez anos, seu principal trabalho é favorecer contatos culturais, políticos e de negócios com o país.
Além da KFA, outro divulgador da ideia Juche no Brasil é o Instituto da Amizade Brasil-Coreia. Procurada pela Folha, uma de suas representantes, Rosanita Campos, se recusou a falar com a reportagem. "Para publicar o mesmo que a imprensa americana propaga mundo afora, vocês não precisam perder tempo em conversar comigo, não tem sentido."
Campos já foi vice-presidente do PPL (Partido Pátria Livre), que defendeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a realização de novas eleições. Ela é viúva de Claudio Campos, fundador do partido e que se dizia amigo de Kim Il-sung.