CAPÍTULO 5

Após chegada da lama, desalento domina litoral do Espírito Santo

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LUCAS FERRAZ
AVENER PRADO

ENVIADOS ESPECIAIS A LINHARES (ES)

Ao desaguar na foz do rio Doce, ganhando o mar do litoral do Espírito Santo, a avalanche de lama da maior catástrofe ambiental do país deixou, no pequeno distrito de Regência, a mesma desesperança do ponto de partida.

Além da incredulidade, os moradores não sabem o que será do futuro, nem quando ele começará a ser reconstruído.

O sentimento é o mesmo das populações atingidas no epicentro do desastre, na região central de Minas Gerais, apresentando variações ao longo do leito do rio Doce, que corta 228 municípios de ponta a ponta e cuja população estimada é de 3,5 milhões de pessoas.

Desde que o rejeito de minério de ferro chegou ao litoral capixaba, em 21 de novembro, 16 dias após o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (a mais de 670 km), a mancha turva na praia da Regência só cresceu, espalhando-se pela costa e também mar adentro, graças ao comportamento das ondas e do vento marítimo.

Diariamente, helicópteros sobrevoam o local para monitorar o rastro da lama. Nos primeiros dias de dezembro, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que tem uma unidade na região, a mancha já superava os 50 km quadrados.

Avener Prado/Folhapress
Lama toma o litoral de Linhares (ES)
Lama toma o litoral de Linhares (ES)

A Samarco, que também monitora a área, informa que o avanço da lama é menor, estando ela ainda concentrada na região e com "remota" possibilidade de chegar ao litoral sul da Bahia.

Distrito de Linhares (cidade de 140 mil habitantes banhado pelo rio Doce e a 130 km de Vitória), Regência é um vilarejo de aproximadamente mil habitantes que vive da pesca e do ecoturismo, cujo desenvolvimento é recente.

Além das praias semidesertas e propícias ao surf, uma das atrações eram os lagos e ilhotas do rio Doce, hoje banhados pela lama da mineração.

A economia local, contudo, se voltou completamente para as atividades do pós-tragédia, situação comparável –durante todo o caminho da lama– somente aos distritos do epicentro do desastre em Minas.

A comunidade de pescadores de Regência, a maior prejudicada no local, está quase toda trabalhando para a Samarco. Dos 68 integrantes da associação de pesca, 45 trabalham com seus botes e barcos para a mineradora. O valor da diária é de R$ 150, menos do que eles poderiam ganhar pescando.

Uma das atividades dos pescadores é monitorar o trecho final do rio, que está cercado por 9.000 metros de barreiras, boias que foram instaladas nas duas margens com o objetivo de isolar a fauna e a flora do entorno.

"Se não tivéssemos esse trabalho, ficaríamos à toa, passando o dia a olhar para a água", conta Aldo Santos, 44, pescador nascido e criado em Regência.

Avener Prado/Folhapress
Barreira para contenção da lama na praia de Regência, em Linhares (ES)
Barreira para contenção da lama na praia de Regência, em Linhares (ES)

A ideia de aproveitá-los foi do próprio presidente da associação de pescadores do distrito, Leônidas Carlos, 68.

"A empresa nos deu essa bomba e agora estamos ajudando a apagar o fogo. O que iríamos fazer?", resigna-se.

Para ele, será impossível retomar a pesca. "Pela minha experiência, essa lama acabou com o rio, acabou com tudo. Nem daqui a dez anos será possível."

As pousadas, potenciais prejudicadas com a chegada da lama, que deve esfriar o turismo, estão agora ocupadas por dezenas de pessoas que vieram para trabalhar: oceanógrafos, ambientalistas, funcionários de empresas contratadas pela mineradora, pilotos de helicóptero e muitos pesquisadores.

Em algumas pousadas, funcionários asseguram que há interessados fazendo reservas para se hospedar em Regência no Réveillon, como se não houvesse uma mancha de lama na costa.

Avener Prado/Folhapress
À esq., a água do rio colorida pela lama; à dir., o mar de Regência (ES)
À esq., a água do rio colorida pela lama; à dir., o mar de Regência (ES)

A dúvida é até quando a tragédia norteará a economia local –e, sobretudo, como a região atingida poderá se normalizar. A Samarco, presidida por Ricardo Vescovi e controlada pelas gigantes Vale e BHP Billiton, tampouco tem alguma previsão.

A desinformação e falta de perspectiva são comuns em todos os municípios e vilarejos visitados pela reportagem da Folha nas últimas duas semanas, quando percorreu mais de 2.600 km por terra e rios de Minas Gerais e do Espírito Santo para mostrar as consequências ambientais, econômicas e sociais do histórico desastre.

RESERVA AMBIENTAL

A praia da Regência está ao lado da reserva ambiental de Camboios, uma das bases do Projeto Tamar, centro de preservação de animais marinhos ligado ao ICMBio, órgão federal vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Área de desova das tartarugas, que estão sendo monitoradas e foram transferidas para um local distante da foz do rio Doce, Regência virou um grande laboratório para se estudar e tentar mitigar os impactos da catástrofe, mesmo que ainda não hajam respostas.

"Uma vez interrompido o aporte [entrada] de rejeitos no rio, a tendência é que a água volte ao normal. Normal em termos de coloração, turbidez, mas não sabemos quanto tempo levará", afirma o ambientalista do ICMBio Antônio de Pádua Almeida, 47, chefe da reserva de Camboios.

Avener Prado/Folhapress
Encontro das águas do rio Doce com as do mar
Encontro das águas do rio Doce com as do mar

"Qualquer previsão, mesmo que feita pelo mais renomado cientista, nada mais é do que mera especulação", ressalta.

Os ribeirinhos que vivem ao longo do rio Doce, em Minas e no Espírito Santo, torcem por chuva, que poderia ajudar na limpeza das águas barrentas.

Um mês depois do rompimento da barragem de Fundão, que provocou o vazamento de mais de 40 bilhões de litros de lama, a Samarco ainda não sabe o número total de pessoas afetadas –de Mariana até o litoral do Espírito Santo– pela catástrofe.

A empresa disse ter contratado um grupo para elaborar um estudo socioeconômico das áreas atingidas e que, ainda neste mês, começará a pagar um auxílio –um salário mínimo, mais 20% do valor para cada dependente da família e uma cesta básica– para as vítimas que já foram cadastradas.

PRAIA DA SAMARCO

Outra lacuna é a ausência de dados sobre a composição química dos rejeitos de minério de ferro e os eventuais danos à saúde.

Nenhum órgão –municipal, estadual ou federal– apresentou até o momento um estudo a respeito. O que existe são análises da qualidade da água do rio Doce, e ainda assim os resultados são contraditórios.

"Faltam-nos informações adequadas para tomar decisões. Há uma falta de comunicação dos diferentes atores envolvidos em todo o processo que prejudica a atuação", ressalta Antônio de Pádua Almeida.

Avener Prado/Folhapress
Vista aérea da mancha de lama do rio Doce invadindo o mar no Espírito Santo
Vista aérea da mancha de lama do rio Doce invadindo o mar no Espírito Santo

Ao contrário do que aconteceu em praticamente todas as cidades banhadas pelo rio Doce, a mortandade de peixes na foz do rio não foi tão grave como nos trechos anteriores, dizem ambientalistas.

Há razões para isso ter acontecido, segundo eles: a lama já estava mais diluída na água ao chegar na área de deságue no mar, onde há mais vazão e, consequentemente, mais oxigênio para os peixes. As principais vítimas da lama na região foram os crustáceos e as aves marinhas.

Apesar da enorme mancha de rejeito na praia, espalhando marcas de minério de ferro pela areia, alguns ainda se aventuram em suas ondas.

No cair da tarde da primeira quinta-feira de dezembro, um morador entrou num ponto do mar deserto onde a água já não era tão turva. Ao sair, comentou à reportagem: "Essa é a minha praia, a praia da Regência".

Olhando para o norte da costa, a cerca de 200 metros e onde a mancha da lama era ainda mais forte, completou: "Aquela ali é a praia da Samarco".