PERFIS

Por que vim a Guaianases?

LEANDRO MACHADO
AVENER PRADO
DE SÃO PAULO

Os estrangeiros que nos últimos anos chegaram a Guaianases (zona leste de SP) têm trajetórias parecidas: vieram para o Brasil fugindo de guerras civis, falta de oportunidades ou da extrema pobreza de seus países. Abaixo, três nigerianos e uma haitiana contam como foram parar no bairro da periferia da cidade.

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VICTOR CHUKWUEBULKA, 31
nigeriano

Avener Prado/Folhapress
Victor Chukwuebulka, 31, em sua LAN house
Victor Chukwuebulka, 31, em sua LAN house

"Cheguei a São Paulo no dia 26 de fevereiro de 2006. Na Nigéria não tinha muitas oportunidades. O país não é ruim, mas falta oportunidade de trabalho. Vim para o Brasil ganhar a vida. Quando cheguei, morei por um mês em um hotel na praça da República. Meu primeiro emprego aqui foi em um restaurante. Nessa época, conheci minha mulher, brasileira, em um pagode, na avenida Rio Branco. Nos casamos em 2008, hoje temos um filho. Saí do restaurante e, por muitos anos, trabalhei na construção civil. Vim para Guaianases porque aqui é mais barato. O aluguel é mais barato. Fui um dos primeiros nigerianos no bairro, em 2009. No ano passado, montei a LAN house que faz ligações internacionais. Atendo muitos clientes haitianos, nigerianos e até brasileiros. Estou pensando em abrir um restaurante típico de comida africana por aqui, só estou procurando um espaço para alugar."

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AYODEJI VICTOR IBIRONKE, 38
nigeriano

Avener Prado/Folhapress
Ayodeji Ibironke, 38, nigeriano (de terno escuro e camisa azul), em culto de Testemunhas de Jeová em Guaianases
Ayodeji Ibironke, 38, nigeriano (de terno escuro e camisa azul), em culto de Testemunhas de Jeová em Guaianases

"Me mudei para a região de Guaianases há seis anos. Diferente de outros nigerianos, vim para o Brasil para conhecer, não para fugir da guerra. Era minha lua de mel. Me casei no sábado, na segunda-feira já estava em São Paulo. Nunca mais voltei para a Nigéria. Meus filhos nasceram aqui. Digo sempre que continuo vivendo a lua de mel. Frequentamos uma igreja de brasileiros, nunca tive problemas com isso. Em nossa igreja, só se fala inglês. Me formei em engenharia na África, mas aqui no Brasil é muito difícil conseguir trabalhar com o que você se formou no exterior. Agora sou professor de inglês e tenho uma escola de idiomas na Vila Olímpia."

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ROSELINA JOACHIN, 40
haitiana

Avener Prado/Folhapress
Roselina Joachin, 40, haitiana
Roselina Joachin, 40, haitiana

"Cheguei há quase dois anos ao Brasil. Deixei minhas três filhas no Haiti. Os dois pais das minhas filhas morreram no terremoto [tragédia que matou cerca de 200 mil pessoas em 12 de janeiro de 2010]. O Haiti é muito pobre, o Brasil está melhor. Eu pagava R$ 600 para viver em um quarto no centro de São Paulo. Guaianases é mais barato. Meu irmão, Jimmi, agora mora comigo. Trabalho na cozinha de um restaurante indiano na Consolação, o dono é brasileiro. Todos os dias pego o trem lotado de manhã e à tarde. O Brasil é difícil para estrangeiros, muitas pessoas não gostam de imigrantes. Na feira, ouço os brasileiros falarem que no Haiti não tem comida, que no Haiti estão todos mortos. Mando dinheiro para minha família, mas estou mandando pouco. Você sabe por que o dólar está mais caro no Brasil?"

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MARY BARINEM, 42
nigeriana

TV Folha
A nigeriana Mary Barinem, 42, moradora de Guaianases
A nigeriana Mary Barinem, 42, moradora de Guaianases

"Cheguei há sete anos ao Brasil. Meus filhos continuam na África, com minha mãe. Estou aqui sozinha. Moro na Cohab, porque é perto dos meus serviços. Vim para o Brasil porque tem guerra na Nigéria. Guerra de política, matam o povo, jogam bomba nas pessoas, nós temos que correr. Duas irmãs minhas morreram na guerra, e eu corri para o Brasil. São Paulo é linda. Se você quer trabalho, você consegue. A vida é boa, mas é difícil para estrangeiro, tenho dois serviços. Trabalho de manhã numa fábrica, volto para casa, tomo banho e vou para o outro trabalho. Mando dinheiro para a família, mas o dinheiro [dólar] subiu, né? Gosto do Brasil, aqui ninguém joga bomba em você, não preciso correr [das bombas]."