LEGADOS

Transporte quer ser legado de R$ 17,5 bilhões

Yasuyoshi Chiba - 5.jun.2016/AFP
VLT no Rio de Janeiro

A escolha do Rio como sede dos Jogos desencadeou um investimento de R$ 17,5 bilhões no sistema de transporte coletivo da cidade. Representa a maior parte do legado de infraestrutura, tão propagado nos últimos anos pelas autoridades, que começa a ser apresentado à população.

Coube ao município do Rio a parcela de R$ 5 bilhões nesses gastos, correspondentes à criação de três corredores viários que somam 117 quilômetros em faixas exclusivas para os ônibus articulados da rede BRT (Transporte Rápido por Ônibus, na sigla em inglês). São as vias Transcarioca (Barra-Aeroporto Internacional do Rio), Transoeste (Barra-Campo Grande) e Transolímpica (Recreio-Deodoro).

O governo federal, por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Mobilidade, destinou R$ 532 milhões ao projeto do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), uma espécie de nova geração de bondes, que atravessa o centro da cidade e, por enquanto, faz a conexão entre o aeroporto Santos Dumont e a rodoviária Novo Rio.

Outros R$ 625 milhões da obra do VLT foram pagos por empresas privadas.

Para o governo do Estado do Rio ficou a missão de estender o metrô de Ipanema, na zona sul, até a Barra, na zona oeste.

Com 14,7 quilômetros de extensão, a nova Linha 4 representou um gasto de R$ 8,5 bilhões para os cofres públicos. A concessionária Rio Barra, responsável pela gestão desta rede, pagou mais R$ 1,2 bilhão.

Para entrar em funcionamento antes da Olimpíada, houve até decreto de calamidade pública assinado pelo governador interino do Rio, Francisco Dornelles, em busca de recursos federais às vésperas do evento.

Após uma série de adiamentos, a inauguração do metrô está prevista para o dia 31, a cinco dias da cerimônia de abertura no estádio do Maracanã.

Além disso, a prefeitura investe R$ 1,4 bilhão no futuro BRT Transbrasil, que não integra o legado olímpico.

POLÍTICA PÚBLICA

A profusão de gastos públicos em transporte desperta discussão entre especialistas. Para Sérgio Magalhães, urbanista e conselheiro do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), o problema está na ausência de uma política integrada de mobilidade para a região metropolitana.

Ele cita a divisão existente entre município (responsável pelo sistema de ônibus), Estado (metrô e trem) e governo federal (transportes aéreo e marítimo).

"Seria mais eficiente investir na transformação das linhas de trem já existentes em metrô. Isso agilizaria o deslocamento entre o centro e a Baixada Fluminense", disse Magalhães. "Como existe essa divisão na gestão do transporte público, a prefeitura acaba escolhendo o BRT como modal prioritário."

O engenheiro de transportes Marcus Quintella, professor da FGV, assinala que o BRT é insuficiente para atender à demanda. "Esse sistema já nasceu sobrecarregado por ser de média capacidade."

Para Alexandre Rojas, engenheiro de transportes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o BRT foi a solução viável diante do deficit de mobilidade urbana.

O ideal seria um metrô. Mas é um projeto de bilhões e que leva tempo para implantar. O BRT foi a melhor opção considerando preço e prazo."

OPERAÇÃO NA OLIMPÍADA

Durante os Jogos, o novo trecho do metrô (Ipanema-Barra) e os três corredores de BRT recém-inaugurados funcionarão apenas para o transporte de torcedores, voluntários e profissionais ligados à produção do evento. Será necessário um cartão especial (RioCard Jogos Rio 2016).

A Transolímpica foi a última a ser entregue, no dia 9, a menos de um mês do início dos Jogos.