Publicidade
Notícias

Centro volta a atrair moradores com prédios para jovens

TAÍS HIRATA
DE SÃO PAULO

O centro da cidade está de volta ao radar dos paulistanos. Depois de décadas perdendo moradores -quase 500 mil pessoas deixaram a região entre 1970 e 2000-, as áreas centrais da capital voltaram a crescer.

A tendência pode ser notada em números. De 2000 a 2014, a população do centro cresceu 20,49%, segundo os dados mais recentes do IBGE e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.

Atrativos não faltam: além da boa oferta de transporte público e de serviços, iniciativas culturais recentes e promessas de revitalização funcionam como chamarizes para novos moradores.

A efervescência chegou ao mercado imobiliário. No momento, há 2.276 imóveis novos à venda na região, 55 deles prontos para morar. A expansão é recente: 89% dos empreendimentos foram lançados nos últimos 12 meses, segundo levantamento da consultoria Geoimovel.

IMAGEM NOVA

Isso é só o começo, segundo quem entende. "Há um potencial muito grande na região. Estima-se que o centro pode receber mais um milhão de moradores", diz o presidente do IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil em São Paulo), José Armênio Cruz.

Outro arquiteto, Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade, lembra que a retomada do centro se dá graças a uma mudança de mentalidade. "Por muito tempo se vendeu a imagem de que o centro não é habitável nem seguro", diz.

Nos últimos cinco anos, foram 41 empreendimentos lançados na região, que inclui bairros como República, Campos Elíseos e Bela Vista. Mais de 90% dos apartamentos têm apenas um quarto.

MAIS JOVEM

O público-alvo é gente como como Aline Fantinatti, 31: adultos jovens, sem filhos, que estão trocando o carro pelo metrô e querem usufruir mais do espaço público.

Em janeiro último, Aline, que é gerente de desenvolvimento de negócios trocou Moema, na zona sul, pela República. Ela mora em uma das unidades do edifício Mood, da incorporadora Cyrela, uma torre com 27 andares e quase 400 unidades, na rua Álvaro de Carvalho, região do viaduto 9 de Julho.

Os novos empreendimentos fogem do antigo padrão de construções e mudam a paisagem do velho centro: suas áreas de lazer incluem academia e salas temáticas, de "gourmet" a "zen".

No caso do Mood, há duas piscinas: uma climatizada e outra externa. O preço da unidade parte de R$ 635.980.

A urbanista Beatriz Kara José, que analisou em sua tese as transformações na região, teme que a onda de glamourização provoque a gentrificação, fenômeno que eleva os valores do metro quadrado tornando o lugar inacessível para moradores antigos. Segundo ela, a "mistura social", um dos charmes do centro, "é ideal, mas difícil de acontecer".

Já a nova moradora, Aline, diz que a troca de endereço valeu. "É uma região democrática. No antigo bairro, encontrava sempre o mesmo perfil. Aqui, convivo com todo tipo de pessoa. É uma experiência mais rica."