O que a Miss Internacional 2016, Kylie Verzosa, o boxeador Manny Pacquiao, o diretor de cinema Brillante Mendoza e a stripper Krista Miller têm em comum?

Os quatro são garotos-propagandas do presidente filipino Rodrigo Duterte —e de sua guerra contra as drogas, que deixou quase 6.000 mortos no país de julho a dezembro deste ano.

Mas estão em lados opostos.

A "sexy star" Krista Miller é uma das celebridades presas com alarde pelo governo para "servir de exemplo" na guerra contra as drogas.

A ela fizeram companhia o ator Marc Anthony Fernandez —que pode pegar prisão perpétua por uso de maconha— e outra stripteaser, Sabrina M., detida depois que um vídeo em que fumava shabu (metanfetamina) viralizou na internet.

Duterte e a polícia nacional (PNP) vêm ameaçando tornar pública uma lista com cerca de 50 nomes famosos envolvidos com entorpecentes.

"Vamos reunir todos eles, com transmissão pela TV, e dizer: 'Por favor, parem. Vocês estão envergonhando a todo um povo e aos jovens de quem são ídolos' ", disse no final de outubro o chefe da PNP, Ronaldo dela Rosa, conhecido como "Bato" (rocha).

Na época, o plano era convidar a mídia a acompanhar a "cerimônia", mas o governo recuou da intenção, por enquanto.

	Ezra Acayan - 3.out.2016/Reuters
	A "sexy artist" Krista Miller (centro) é presa sob acusação de usar metanfetamina

Do outro lado estão a Miss Internacional, o diretor de cinema e o campeão de box, que têm dado declarações de apoio ao presidente e sua guerra às drogas.

Verzosa estava entre as centenas de mulheres filipinas que lotaram um auditório em Tóquio na noite de 25 de outubro para aplaudir Duterte, em visita oficial ao premiê Shinzo Abe.

A dois dias de vencer o concurso internacional, ela postou nas redes sociais a selfie que tirou ao lado do presidente e se declarou "a mais sortuda das mulheres" na legenda.

O governo já planeja realizar nas Filipinas o Miss Internacional 2017, como parte de sua campanha de promoção.

	Noel Celis - 10.nov.2016/AFP
	O boxeador e senador Manny Pacquiao durante sessão que investiga a morte de um prefeito por envolvimento em drogas

Pacquiao, seis vezes campeão mundial de boxe, é um aliado com peso também político.

Também senador, ele é um dos principais defensores do presidente no Congresso.

"Deus o colocou aqui para disciplinar o povo filipino, que não respeita as leis nem as autoridades. Duterte os fará respeitá-las", afirmou no final de novembro.

Ex-usuário confesso de drogas, Pacquiao apoia o enfoque radical defendido pelo presidente filipino desde antes de ser eleito, quando prometeu matar 100 mil traficantes.

Brillante Mendoza, que concorre ao Oscar de 2017, diz que é preciso entender as Filipinas antes de julgar seu presidente.

"Os que criticam Duterte não o entendem nem conhecem a realidade. Falam do ponto de vista de quem vive em um país de Primeiro Mundo", disse em entrevista à agência AFP no mês passado.

Mendoza já havia tratado em seus filmes de questões sociais como criminalidade e pobreza. Diz que entendeu melhor a gravidade das drogas durante a rodagem de "Ma'Rosa", que deu à atriz Jaclyn Jose o prêmio de melhor atriz em Cannes.

O filme mostra uma mulher que vende drogas para sustentar a família e é presa por policiais corruptos.

"Quando você testemunha de perto a realidade, entende que a única forma de lidar com ela é a de Duterte", disse o diretor.

Ele ressalva que não defende que os suspeitos sejam assassinados. "Mas essa não deveria ser a única perspectiva. Há muitos lados a serem analisados."

[Depois da publicação deste especial, Brillante Mendoza falou em entrevista à Folha sobre seu próximo filme, suas escolhas como diretor e seu apoio a medidas tomadas por Duterte.]