De perto, todo mundo é normal

Vendedor se dedica a execrar políticos nas redes após se sentir 'feito de trouxa'

THAÍSA OLIVEIRA
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

São 7h33 da manhã quando o vendedor de ferramentas João Carlos Nunes Silva, 58, posta o primeiro comentário político do dia para os seus 2.000 amigos do Facebook.

Morador da zona leste de São Paulo, decidiu dar "uma sacudida" nos brasileiros depois de perceber que "as coisas estavam descambando para o lado errado" no segundo mandato do ex-presidente Lula.

No Twitter, tem se esforçado para criar enquetes —costuma perguntar, por exemplo, se matar políticos corruptos é crime ou legítima defesa (em abril, a segunda resposta venceu com os únicos três votos postados).

O maior feito, até aqui, foi reunir 7.000 pessoas num grupo de Facebook que pedia Lula e Dilma na cadeia, antes da divulgação, em maio, das gravações do empresário Joesley Batista, dono da JBS.

Depois dos áudios, decepcionado com todos os políticos, o jeito foi mudar o nome da comunidade: "Eu quero Lula, Temer, Renan Calheiros, Rodrigo Maia, Dilma na cadeia, e você?". "É um grupo democrático. Entram também os petistas, mas a gente bane... Não é para 'petralha'."

Bruno Santos/Folhapress
O vendedor João Carlos Nunes, que conseguiu reunir 7.000
O vendedor João Carlos Nunes, 58, que conseguiu reunir 7.000 "coxinhas" no Facebook para pedir a prisão de políticos

Para alcançar mais gente, o vendedor traduz, com a ajuda do Google, as principais postagens para inglês, espanhol e coreano (por causa do "doidão" do "Shin-shan-shung", como chama o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un). "Eu acredito que eu sou um formador de opinião."

A inspiração para "lutar contra os problemas" que vê no Brasil vem da filha mais velha, de 30 anos, diagnosticada aos 11 com ataxia de Friedreich, doença neurodegenerativa rara e incurável que a levou a perder o movimento das pernas.

Além de se sentir "trouxa" com a situação política do país, Nunes afirma que se sente injustiçado: teve a conta do Facebook bloqueada após compartilhar uma montagem de Lula sem roupa com chifres de diabo. "Só se ofende quem tem culpa no cartório."