De perto, todo mundo é normal

Ateu usa YouTube para atacar religiosos, políticos e feministas

KLEBER NUNES
THAIZA PAULUZE
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

"Meu nome é Francisco Demilson de Oliveira, no YouTube sou Chico Oliveira." A apresentação, no início da entrevista, revela a vida dupla do vigia noturno de 52 anos, youtuber nas horas vagas.

Solteiro e sem filhos, Francisco mora com a mãe evangélica na periferia de Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo. Chico, ateu, mantém o canal "Perguntar não ofende", no qual despeja críticas generalizadas, sobretudo a religiosos.

O Chico da rede não tem pudor nem economiza palavrões e gestos obscenos para seus 1.978 seguidores. Em casa, o Francisco afina: sua entrevista foi gravada na calçada. Maria Aparecida, 73, mulher franzina de 1,50 m, proibiu a conversa em casa.

No portão, Chico lê trechos do que diz em seus vídeos, que começou a gravar há cinco anos. "Filho da puta, feminazi, evangélica vagabunda, evanjegues fundamentalistas. É isso, xinguei mesmo. Fui eu mesmo. O problema é que estou na porta da minha casa, não posso falar."

Bruno Santos/Folhapress
O vigia noturno e youtuber Francisco Demilson de Oliveira na periferia de Mogi das Cruzes, onde mora
O vigia noturno e youtuber Francisco Demilson de Oliveira na periferia de Mogi das Cruzes, onde mora com a mãe

De voz calma e vestindo camiseta da Mulher-Maravilha, ele diz que há violências aceitáveis. Xingar, por exemplo, está liberado. "Discurso de ódio é falar que tem que matar."

Mantém o canal com a ajuda de amigos: não tem internet, computador nem smartphone, só câmera digital.

Sua atuação on-line rendeu um convite do Pros (Partido Republicano da Ordem Social) para concorrer a uma das 23 vagas de vereador na Câmara Municipal de Mogi das Cruzes em 2016. Conquistou apenas 32 votos.

Da imagem de "hater", Chico acha graça. "Às vezes eu acho que eu sou, não sempre." Logo depois emenda: "Sou 'hater', sim, xingo pra caramba."

Ao final da entrevista, Francisco dá de presente à repórter um livro com capa rosa florida: o romance "Quase Tudo Bem", de Adriana Rocha, autora de Mogi das Cruzes. A dualidade surpreende mais uma vez.