Nas redes, ninguém finge que não é parcial, afirma ativista LGBT
FABRÍCIO NEVES
DA EDITORIA DE TREINAMENTO
Débora Baldin Fernandes, 23, faz da internet a sua principal ferramenta de militância política.
Nas redes sociais, ela encontra liberdade para dizer o que pensa e fazer o que gosta. Sua plataforma principal de atuação é o YouTube, onde elabora e grava vídeos desde 2013 para o Canal das Bee, que se dedica à causa LGBT. O canal conta atualmente com quase 300 mil inscritos e uma média de 25 mil visualizações diárias.
Leitora ávida, Débora entusiasmou-se na adolescência com "Orlando", romance de Virginia Woolf que trata da diferença entre os papéis sociais do homem e da mulher -Orlando é, alternadamente, uma coisa e outra. Embalada pela leitura do livro, começou aí a se incomodar com estereótipos sexistas e a descobrir sua bissexualidade.
Aos 18 anos, quando entrou para a universidade, tomou coragem e "saiu do armário". Nada traumático, se comparado ao processo por que passou Jéssica Tauane, criadora do Canal das Bee e católica. Jéssica é lésbica e quase se suicidou por isso.
Paulistana, Débora conheceu Jéssica na universidade, a PUC de São Paulo, onde cursou relações internacionais. A identificação foi tão grande e imediata que, convidada a princípio para fazer um vídeo sobre bissexualidade, Débora não parou mais de colaborar.
Sem sofrer pressão da família -a mãe, pedagoga, encarou sempre com naturalidade sua orientação sexual-, Débora não tem vergonha de mostrar a cara na rede social. Relatou em vídeo que já teve medo de sofrer preconceito (e que sofre), mas hoje diz que "não está nem aí".
Como outras participantes do canal, é diariamente alvo de ódio de homofóbicos e transfóbicos, mas também do amor de quem abraça a sua causa. Aí está, segundo ela, uma das virtudes da internet: na rede, as pessoas dão opinião, ninguém finge que não é parcial, "como fazem os veículos de comunicação tradicionais, que vendem uma falsa neutralidade".
Débora diz que é de esquerda, mas acha que a polarização política e ideológica só enfraquece a causa LGBT, que, em sua opinião, deveria ser pensada pela sociedade como uma agenda dos direitos humanos, acima e a despeito de partidos e movimentos sociais. Assim, lamenta que a bandeira LGBT, assim como a dos afrodescendentes, não seja também levantada pelo Movimento Brasil Livre (MBL), que atua intensamente nas redes sociais e tem Fernando Holiday, negro e homossexual, como um de seus principais representantes.
Débora também atua em outras causas sociais, como a feminista e a contra o preconceito racial, tendo já gravado vídeos com expoentes desses segmentos, como a atriz Taís Araújo. O vídeo, postado há quatro meses, teve quase 90 mil visualizações.
Para Débora, postar vídeos na internet é dialogar com a sociedade. "O YouTube é uma ferramenta importante de diálogo", diz ela. O canal é usado por jovens LGBT para se comunicarem com a família e a sociedade em geral. "Não adianta falar só para os nossos. É preciso educar a sociedade para falar com a gente", afirma.
A despeito do ódio e da violência contra LGBT, acredita que a diversidade sexual é caminho sem volta. É essa a ideia que passa às grandes empresas em busca de recursos para projetos do canal, como, por exemplo, o "Bee Ajuda", que presta atendimento psicológico a jovens LGBT com dificuldade de de se aceitarem ou de serem aceitos, às vezes pela própria família.
"O canal é uma forma de dar às pessoas que assistem a chance de mudar de opinião", declara.