A Influência

Com recusa de redes sociais a auditoria, medição de influência ainda é problema

DANIELA MARTINS
J. MARCELO ALVES

DA EDITORIA DE TREINAMENTO

Visualizações, cliques, curtidas, comentários, tempo: números não faltam para medir o engajamento digital. O problema, dizem profissionais da área, é que audiência não é sinônimo de influência.

É essencial diferenciar fama de prestígio, dois conceitos que nem sempre andam juntos, e descobrir a capacidade do influenciador de falar sobre determinado tema, produto ou marca. No mundo de youtubers, vloggers, blogueiros, facebookers e afins, autenticidade é a característica mais valorizada.

"Na TV, o público sabe que a propaganda é um filme em que há um ator. Na internet, a expectativa é de que haja engajamento real do influenciador com a marca, que a experiência seja verdadeira", afirma Manoel Fernandes, dono da Bites, empresa de consultoria estratégica para internet e redes sociais. "Enquanto a mídia clássica vende produto, a mídia nova vende opinião."

Se faltar conexão entre marca e o influenciador, pode haver rejeição dos seguidores e virar um tiro no pé: "Quem assiste também pode emitir opinião, então esta é uma arena arriscada", diz Fernandes.

Nesse contexto surgiram empresas que fazem rankings de influência e softwares que varrem as redes em busca de informação mais precisa sobre o que se fala, quem fala, para quem e para quantos.

Ferramentas como a canadense comScore, a israelense Sysomos e a irlandesa Spike permitem mapear quantidade, gênero, perfil social, interesse, localização geográfica, tempo de visualização de vídeos e de permanência na página.

O cruzamento desses dados com critérios como constância de publicação e volume de interação com cada postagem dá pistas mais sólidas do alcance real de um comunicador.

Editoria de arte/Folhapress
como identificar um influenciador na redeEngajamento deve ser medido em mais de um nível

Os softwares, contudo, ficam devendo no quesito interpretação. Não detectam ironia nem percebem quando algo negativo está sendo dito sarcasticamente. Também precisam ser adaptados ao idioma local.

Foi o que fez a startup mineira Stilingue ao desenvolver o programa WarRoom, que, segundo seu CEO, Rodrigo Helcer, 34, leva em conta o léxico brasileiro. Todas as boas ferramentas disponíveis atualmente chegam a resultados muito similares, diz Helcer.

O que explicaria então a existência de rankings com resultados tão diferentes? Empresários e estudiosos citam dois fatores principais: os critérios estabelecidos para a análise e o trabalho conjunto de softwares e profissionais que interpretam os resultados, algo que robôs coletores de números não são capazes de fazer.

Outro conceito central a ser avaliado são os grupos de afinidade. "Influenciador digital individual é como lobisomem, um mito", afirma Ronaldo Lemos, colunista da Folha e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

"A verdadeira influência precisa alcançar três níveis da rede para ser bem-sucedida. Isso quer dizer que é necessário considerar não apenas a figura central, mas também seus seguidores e os amigos dos seguidores." Quanto mais heterogêneos os grupos, maiores a disseminação e o alcance da ideia original. Pessoas participando de diferentes grupos fazem a ponte e levam a informação mais longe.

FALHAS

As maiores plataformas digitais têm suas próprias métricas, mas estas são olhadas com desconfiança, sobretudo as de Facebook e Google. Seus critérios são mantidos em sigilo, alimentando acusações de conflito de interesse: a mesma plataforma veicula, mede o alcance e cobra, sem nenhum tipo de auditoria independente.

Em agosto, o Facebook admitiu ter errado o cálculo do tempo despendido com seus vídeos. O algoritmo somava exibições de menos de três segundos, que deveriam ser descartadas. O erro superestimava a audiência e, por consequência, o valor dos anúncios. A empresa corrigiu o problema, mas ficou a desconfiança.

Outros aspectos que assombram as mídias digitais são a visibilidade reduzida de anúncios, os bloqueadores de publicidade e as fraudes causadas por robôs.

Em 2013, o grupo de pesquisa do professor Fabrício Benevenuto, da UFMG, criou uma conta-robô no Twitter -identificada como Carina Santos, jornalista-, programada para imitar um usuário real, postando links para assuntos populares, seguindo outros usuários e sendo seguida.

Usuários e métricas foram enganados: após três meses de atividade, o robô alcançou 86 pontos no Twitalyzer, ferramenta que analisa o impacto do usuário na rede. Na mesma época, Barack Obama e Justin Bieber tinham 83 e 67, respectivamente. Oprah Winfrey "minguava" nos 40 pontos.