A Fama

Na vida pós-internet, comportamentos são pautados por vídeos, posts e likes

Andrew Harnik/Associated Press
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ANÁLISE

RICARDO KUCHENBECKER
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

A busca no Google sobre a origem e o conceito de "influenciadores digitais" diz muito sobre seu conteúdo e significado. As primeiras seis páginas da pesquisa apresentam links de acesso a conteúdo patrocinado.

De fato, o gigante das buscas na internet tornou a pesquisa influenciável por anúncios, transformados em informação, que estabelecem a ordem de aparecimento dos temas.

Influenciadores digitais são seres humanos que condicionam opiniões e comportamentos mediante atos volitivos como o compartilhamento de conteúdo percebido por sua audiência como relevante, incluindo comentários através de posts, likes, fotos, vídeos ou qualquer manifestação de apoio ou aprovação.

Tais atitudes e comportamentos são a mola propulsora de outros gigantes: Facebook, YouTube, LinkedIn, WhatsApp, Tinder, Snapchat, blogs, entre outros.

É difícil buscar a origem da expressão influenciadores digitais em sites patrocinados, cuja navegabilidade é constantemente interrompida pelo surgimento de propagandas que abrem automaticamente, como os galhos de uma floresta.

Com algum esforço, a mata densa mostra seus habitantes. Influenciadores digitais são de carne e osso. Crianças, adolescentes, jovens, gays, negros, feministas. São falastrões, sedutores e criativos. Às vezes, são auxiliados por robôs que deliberadamente inflacionam a audiência e replicam informações num contexto em que o boato frequentemente se dissemina mais rapidamente do que a informação verdadeira.

É interessante observar que a respeitada "Enciclopédia Internacional da Sociedade e Comunicação Digital" não reserva um verbete para "influenciadores digitais". Já congêneres eletrônicos, sim. Segundo a Techopedia, influência digital é a capacidade de gerar efeitos, mudar opiniões e comportamentos com resultados mensuráveis on-line. É, portanto, fenômeno gerado a partir de pessoas interagindo através de redes sociais.

Decisões e opiniões individuais passam a ser apoiadas por grupos através do meio digital. Dessa forma, pontos de vista se transformam em "opinião pública digital" e comportamentos resultam em padrões de consumo. A compra de um celular passa a ser motivada a partir de comentários on-line de influenciadores, que, numa estratégia entre iguais, influenciam a decisão.

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Entre as características de um influenciador estão o conhecimento que ele detém sobre um determinado assunto, sua proeminência, liderança e capacidade de persuadir uma audiência quanto a opiniões, comportamentos e decisões. Para a Techopedia, a habilidade de influenciar é mais complexa e abrangente que a capacidade de expor ideias através da retórica ou de técnicas de persuasão.

NADA DIGITAIS

Os influenciadores não nasceram na era digital. Ao contrário, há muito tempo já se sabe sobre os efeitos da comunicação na indução da formação de opiniões e comportamentos.

Na década de 1940, no livro "The People's Choice: How the Voter Makes up his Mind in a Presidential Campaign" (Columbia University Press, 1944), Lazarsfeldt e colaboradores desenvolveram a hipótese da comunicação em duas etapas: as ideias fluem dos meios de comunicação para líderes de opinião e, destes, para grupos populacionais.

O estudo identificou que as pessoas não são diretamente influenciadas pelos meios de comunicação de massa e sim a partir de formadores de opinião que interpretam informações da mídia e a contextualizam.

A influência digital é a contrapartida eletrônica da linguagem como fator de sociabilidade e da propaganda boca a boca. Se a linguagem aproxima, a transmissão boca a boca dá credibilidade aos indivíduos envolvidos, pois nos comunicamos preferencialmente com quem compartilhamos visões, valores, opinião e, sobretudo, relações de confiança.

A informação compartilhada ganha a credibilidade emprestada de quem a transmitiu. É quando o mensageiro e a mensagem se misturam.

A partir das redes sociais, a opinião passou a ser transmitida em caixas de ressonância capazes de atingir milhares de interessados instantaneamente. Este fenômeno possibilita que influenciadores não apenas transmitam conhecimento, mas ditem a ação, o que os transforma em instrumentos poderosos para incidir sobre opiniões e processos decisórios.

As eleições de Barack Obama, em 2008 e 2012, potencializadas por forte campanha na web, ou a Primavera Árabe, narrada no Twitter, são exemplos de relevância histórica.