INDICAÇÃO BRASILEIRA

Indicação de Wagner Moura é cala-boca, mas briga com Rami Malek será dura

LUCIANA COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

A associação dos correspondentes estrangeiros em Hollywood –estrangeira que é– não se importou com sotaque. O brasileiro Wagner Moura, interpretando o colombiano Pablo Escobar, foi considerado um dos cinco melhores atores do ano em série dramática por seu papel em "Narcos", do Netflix.

Mesmo que não ganhe o Globo de Ouro, é um cala-boca para quem se importa com seu acento destoante (apesar de se expressar corretamente), e não com o de Javier Bardem fazendo um brasileiro em "Comer, Rezar, Amar", por exemplo, ou para, como lembrou uma amiga, gladiadores em Roma Antiga que falam inglês.

Não que as chances de Moura sejam altas, apesar da performance arrebatadora.

Divulgação
Wagner Moura como Pablo Escobar e Paulina Gaitan como sua mulher, Tata Escobar, em 'Narcos
Wagner Moura como Pablo Escobar e Paulina Gaitan como sua mulher, Tata Escobar, em 'Narcos'

Ele terá que derrotar Jon Hamm, excepcional na temporada derradeira de "Mad Men" e claro favorito –é sua sexta indicação por Don Draper, e só a primeira se converteu em prêmio; além disso, já levou o Emmy neste ano.

Precisa bater também o consistente Liev Schriber (o escroque "Ray Donovan"); Bob Odenkirk ("Better Call Saul"), cuja performance no papel em "Breaking Bad" rendeu-lhe uma série só para ele; e, claro, o egípcio-americano Rami Malek, talvez a melhor revelação do ano, magistral como o Elliot de "Mr. Robot".

Mais ousado do que seus pares normalmente, o Globo de Ouro deste ano trouxe poucas surpresas. Além da indicação para o brasileiro Moura, apenas Lady Gaga chama a atenção entre as melhores atrizes em minisséries ou séries do tipo antologia (em que as temporadas não se relacionam), competindo com Kirsten Dunst (favorita, por "Fargo" ), Felicity Huffman ("American Crime"), Queen Latifah ("Bessie") e Sarah Hay ("Flash and Bone").

A distopia cáustica "Mr. Robot" deveria ganhar a categoria de melhor drama, mas "Empire", que se firma como a melhor coisa na TV aberta americana, é uma concorrente respeitável.

"Game of Thrones" é uma aposta fácil, mais ainda neste ano, após sua melhor temporada; "Narcos" corre por fora e "Outlander", épico do pequeno canal Starz, fecha a lista sem maior aspiração.

ERA DO STREAMING

Já a lista de comédias mostra duas coisas: foi um ano ruim para quem quis dar risada (duas das concorrentes, "Orange is The New Black" e "Transparent", pendem para o drama); e os formatos tradicionais ficaram de vez para trás, já que quatro das seis concorrentes estão on-line.

As duas séries citadas são, respectivamente, do Netflix e da Amazon; entrou ainda a estranha "Mozart in the Jungle", também da Amazon, e "Casual", do Hulu. As demais são da HBO ("Veep" e "Silicon Valley", ainda maravilhosas), que lançou seu próprio serviço on-line neste ano.

A ausência injustificável (sempre há uma) é a falta de "Master of None", do Netflix, entre as comédias. Essa pequena obra preciosa e despretensiosa –coisa rara hoje em dia–, escrita, produzida e protagonizada pelo comediante indo-americano Aziz Ansari honra a trinca de ouro da comédia de neurose americana, um gênero em si: Woody Allen, Jerry Seinfeld e Louis C.K.

Ansari concorre a melhor ator cômico, com Jeffrey Tambor (que é magnífico, mas faz drama em "Transparent"), Gael García Bernal ("Mozart in the Jungle"), Patrick Stewart ("Blunt Talk", sobre um âncora inglês transplantado para os EUA) e Rob Lowe ("The Grinder").

Se não ganhar, é piada.

Veja a íntegra da lista de indicados na premiação