Folha, 20 anos na internet

A GERAÇÃO CONECTADA

Jovens brasileiros têm sonhos e valores bem tradicionais

Ilustração João Montanaro

PAULA LEITE
MATEUS LUIZ DE SOUZA
DE SÃO PAULO

Perto de completar 95 anos, a Folha é jovem. Deixou de ser só de papel e estreou na internet há apenas 20 anos, com a FolhaWeb, lançada em 9 de julho de 1995.

Por volta dessa mesma época, nascia uma geração chamada por especialistas de "nativa digital". Quando seus integrantes foram alfabetizados, já existia no Brasil a internet comercial, que chegou ao país em 1995 --ainda que levasse alguns anos até que ela se popularizasse.

Esses jovens podem não ter acessado a internet na infância, mas boa parte passou a pré-adolescência e a adolescência em lan houses, jogando on-line e tendo o primeiro gostinho de rede social com o Orkut, que arrastou multidões no Brasil a partir de 2004 até ser ultrapassado pelo Facebook em 2011.

No início era caro ter computador em casa. Mas quase não deu tempo de os PCs e a banda larga se popularizarem e já foram logo atropelados pela explosão da telefonia celular.

GERAÇÃO SMARTPHONE

Pesquisa Datafolha encomendada pelo jornal para entender essa geração que cresceu conectada confirma a preferência explícita pelo celular. O levantamento, feito em junho em 175 municípios, ouviu 2.437 pessoas, destes 1.036 jovens de 16 a 24 anos, além de 1.072 adultos com 25 anos ou mais e 329 adolescentes de 12 a 15 anos.

Dos brasileiros que têm entre 16 e 24 anos, 78% têm o próprio smartphone ou moram em uma casa com um desses aparelhos --ante apenas 52% daqueles com 25 anos ou mais.

Nenhum dos outros aparelhos pesquisados -computador de mesa, notebook, tablet, smart TV e videogame- alcança esse percentual, e nenhum deles ultrapassa 50%.

E há jovens que nem sentem falta do resto desses produtos, desde que tenham seu companheiro smartphone. O blogueiro Leonardo Moya, 23, é um deles. Ele escreve e publica textos, além de filmar, editar e postar vídeos, tudo pelo dispositivo móvel.

"Desde que comecei a usar meu smartphone, não senti mais necessidade de um computador. Meu notebook ficou parado, até simplesmente não funcionar mais", diz.

VIDA ON-LINE

O mesmo jovem que aceitou tão rapidamente as novidades tecnológicas mostra também um lado tradicional.

Os itens que considera mais importantes em sua vida são saúde, família, trabalho e estudo --esses aparecem à frente de quesitos como amigos, sexo e beleza.

O objetivo mais citado não é ficar rico nem mesmo ser feliz. É alcançar a profissão dos sonhos, o que geralmente envolve um curso superior.

Bruno Komatsu, pesquisador do Centro de Políticas Públicas do Insper, diz que pesquisas mostram que o aumento da renda dos adultos está relacionada a uma maior possibilidade de os jovens continuarem os estudos.

Isso, junto a outros fatores como programas do governo, levou mais jovens ao ensino superior: em 2010, segundo o Ipea, 14% dos jovens de 18 a 24 anos estavam no ensino superior, ante 7,4% em 2000.

O maior medo é a morte de um parente ou alguém próximo --quesito em que os jovens diferem dos brasileiros de 25 anos ou mais, cujo maior pesadelo é a violência.

O brasileiro jovem, em sua maioria, rejeita o aborto, a maconha e os vídeos pornográficos.

Neste especial, você lerá mais sobre essa geração e conhecerá a história da presença digital da Folha.