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Show de Roger Waters transforma Donald Trump em um porco

Roger Waters em show no último dia do festival Chris Pizzello/Invision/AP

THALES DE MENEZES
ENVIADO ESPECIAL A INDIO (EUA)

Escalado para encerrar no domingo (9) o primeiro final de semana do Desert Trip, festival que reúne seis lendas do rock na cidade de Indio, na Califórnia (EUA), o inglês Roger Waters, 73, deu a impressão de que mostraria apenas mais do mesmo em seu show dedicado a canções de sua antiga banda, Pink Floyd.

Como costuma fazer em seus shows grandiosos, a apresentação se desenrolava mais nos grandes telões atrás do palco, com efeitos visuais, animações e imagens psicodélicas, do que na performance de Waters e sua banda de jovens músicos no palco.

Quando o show já atingia duas horas, com altos e baixos, uma parte do público começou a deixar o local, que estava lotado com 70 mil pessoas. Na base do "olhômetro", é possível dizer que cerca de 20% da plateia tinha ido embora quando o show esquentou de verdade.

O telão gigantesco ganhou uma projeção que o deixou parecido com a fábrica que aparece na capa do álbum "Animals" (1977), que mostra o prédio com quatro chaminés e um porco voador flutuando em torno delas.

Quatro chaminés cênicas, enormes, surgiram por trás do palco. No topo de cada uma, alho que simulava fogo e fumaça. E, lógico, um balão no formato do porquinho apareceu junto às chaminés.

Nesse momento, Waters passou a tocar músicas daquele álbum. A primeira foi "Dogs", seguida de "Pigs", que tem uma letra muito agressiva. Aí surgiram nos telões imagens de Donald Trump, o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, ao qual Waters declara ódio absoluto. O público enlouqueceu, enquanto Waters cantava com um sorriso safado.

Mas a coisa não ficou por aí. Um balão de plástico gigantesco, também com formato de um porco e com o rosto de Trump pintado nele, flutuou sobre a plateia extasiada. Quando estava próximo ao palco, o telão exibiu em letras garrafais a frase "Trump is a pig" (Trump é um porco).

O tom político virulento marcou outros momentos do show. No bis, antes de encerrar a noite com a sempre bela "Comfortably Numb", Waters atacou um desafeto antigo, o ex-presidente e também republicano George W. Bush.

Descontada a parte do ativismo político, o show foi irregular. Algumas canções se estenderam em versões um tanto aborrecidas, mas quem tem o repertório do Pink Floyd à disposição nunca vai ficar na mão. O público viu alguns momentos grandiosos, como nas lentas e bonitas "Wish You Were Here" e "Shine On You Crazy Diamond" ou na versão destruidora de "Run Like Hell".

Foi um show bem diferente dos outros cinco que o antecederam no festival. Bob Dylan, Rolling Stones, Neil Young, Paul McCartney e The Who fizeram apresentações mais despretensiosas, uns empolgando mais do que outros. O mesmo sexteto de atrações volta ao palco do Desert Trip no próximo final de semana, entre os dias 14 e 16.