Shows

Com voz de garoto, Neil Young conquista plateia na Califórnia

Neil Young durante apresentação deste sábado (8) Kevin Winter/Getty Images/AFP

THALES DE MENEZES
ENVIADO ESPECIAL A INDIO (EUA)

Se é verdade que muitos americanos não gostam de canadenses, algo semelhante à animosidade entre brasileiros e argentinos, parece que Neil Young tem uma espécie de imunidade musical. Ele foi recebido pela plateia com tremendo entusiasmo na noite de sábado, segundo dia do festival Desert Trip, que reúne veteranos do rock na Califórnia. E Young retribuiu com um show espetacular.

O que mais surpreendeu foi a voz poderosa exibida pelo cantor. Aos 70 anos, Young está berrando como um garoto. Bem, berrando não é bem o termo, porque ele continua muito afinado, tanto para baladas como para rocks furiosos.

O show trouxe realmente esses dois lados de sua produção musical. Ele começou sozinho no palco, ao piano, cantando "After The Gold Rush" e "Heart of Gold". Foi só a partir da quinta música, "Out of the Weekend", que entrou sua banda atual, Promise of The Real, garotada que toca uma barbaridade. Com esse acompanhamento luxuoso, Young passou alternar baladas e músicas mais aceleradas.

E foi justamente com uma balada que o primeiro momento mágico da noite aconteceu. Depois de apresenta-lá como uma velha companheira de muitos anos, Young cantou "Harvest Moon" para uma plateia que parecia hipnotizada.

Outras grandes performances viriam depois, como "Powderfinger" e "Down by The River", esta numa longa verdão com o cantor solando na guitarra feito um alucinado, mostrando também que continua em ótima forma nas seis cordas.

Com repertório de canções clássicas, o público foi seduzido totalmente. Sentindo isso, o cantor ficou a cada música mais descontraído, conversando com a plateia.

Depois de 17 músicas, veio a notícia que o público não queria ouvir. "Os caras aqui estão me dizendo que eu só tenho mais 46 segundos de show. É o mesmo pessoal que faz o Coachella, não?", alfinetou o músico, referindo-se ao megafestival realizado pelos mesmos produtores que tem o hábito de cortar o microfone de artistas que estouram seu tempo no palco.

"Se é assim, vamos fazer 'Rockin' on the Free World' em 40 segundos." Então, para provocar a produção, ele estendeu este que é um dos hinos do rock por mais de 11 minutos. A plateia estava quase quebrando as cadeiras de tanta empolgação.

Young deixou o palco com um grande sorriso, parecia satisfeito de ter mostrado que um trovador como ele não tinha deixado nada a dever em relação a mitos como Rolling Stones e Paul McCartney, que tocam no mesmo festival.