Milho verde, ingrediente que será destaque no festival Fartura

Milho verde, ingrediente que será destaque no festival Fartura Keiny Andrade/Folhapress

Caminho da roça

Terceira edição paulistana do festival Fartura busca a base mais autêntica da cultura alimentar do Brasil

Capítulo 6
Confeiteiras

Doceira inventa coisinhas lindas, comíveis e magras

Maria Vilma Ferrato apresenta, depois de 157 tentativas, biscoito em forma de mandala com uma caloria por unidade

Biscoito em forma de mandala, criados por Maria Vilma Ferrato (Keiny Andrade/Folhapress)

Biscoito em forma de mandala, criados por Maria Vilma Ferrato (Keiny Andrade/Folhapress)

Cristiana Couto
São Paulo

Ela queria fazer uma comidinha que ainda não existisse. Algo diferente dos brigadeiros e dos cupcakes ensinados nos cursos de culinária que começou a frequentar quatro anos atrás.

A aventura de Maria Vilma Ferrato, consultora de TI por 44 anos, foi como a de um cientista em busca de uma nova ideia. O resultado são as delicadas mandalas comestíveis, que a profissional apresenta no Fartura São Paulo.

"Olhei uma flor e decidi fazer uma receita naquele formato", conta ela, sobre os biscoitos fininhos e coloridos, que prepara a partir de encomendas pelo site Flor Gourmet, para clientes na cidade de São Paulo.

Tal qual um pesquisador em seu laboratório, Maria Vilma encontrou, na cozinha do seu apartamento, a receita ideal durante sua 158ª tentativa -todas elas metodicamente anotadas num caderninho.

"A cada experiência, corria para o papel e anotava tudo o que havia feito. Quando algo dava certo, manifestava minha gratidão, voltava a experimentar e anotava", relata.

No início, desenvolveu uma massa para fazer uma flor tridimensional, com pétalas e recheio. A flor primeva ainda é produzida. "Mas eu levava uma hora para concluir seis flores com pétalas", lembra.

Do protótipo aos ajustes seguintes, moldaram-se os biscoitos que são o sucesso do negócio: feitos a partir de uma camada finíssima de massa, eles não têm glúten nem lactose, e quase nada de açúcar. "Coloco uma colher de açúcar para cada quilo de massa", revela. "Pelos meus cálculos, cada biscoito tem uma caloria."

Além da beleza dos formatos -são três flores diferentes, que para um de seus admiradores mais parecem mandalas, daí o nome-, os biscoitos são crocantes, leves e têm 12 sabores, entre eles cacau e avelã, mel, morango, gengibre e coco.

"A cada sabor, adapto um pouquinho a receita", segreda. "Se não tentasse aperfeiçoá-la, não teria chegado aos canudinhos", diz a doceira.

Canudos comestíveis, da Flor Gourmet
Canudos comestíveis, da Flor Gourmet - Keiny Andrade/Folhapress

Ao assistir a uma reportagem sobre canudos de plástico pela TV, Vilma teve mais uma ideia. Horas depois, tirou do forno os primeiros canudinhos de biscoito. "Peguei um hashi, enrolei a massa dos biscoitos em torno dele, pus para assar."

O canudo comestível da Flor Gourmet, criado no início deste ano, faz sua estreia na edição paulistana do Fartura.

Relativamente grosso e feito a partir de adaptações da massa das mandalas (com menos açúcar ainda), não transfere sabor ao líquido, aguenta uma hora num copo de suco, refrigerante ou chá, e até duas horas mergulhado numa caipirinha, sem amolecer. "O fato de não conter glúten talvez seja a resposta para sua resistência", diz Vilma.

Uma alternativa para a recente batalha de restaurantes contra as versões tradicionais de plástico, poluentes e desnecessárias. "É um produto sustentável, numa embalagem reciclável, que não agride o ambiente", diz.

A doceira pretende, em sua barraca no Fartura, mergulhar um canudo em um copinho de cachaça e marcar a passagem do tempo. O experimento dividirá as atenções com a bandeja forrada de açúcar cristal, onde Vilma exibirá as mandalas para degustação.

Experiências, mesmo controladas, também dão errado. "Só quebrei a cara uma vez", lembra Maria Vilma. Foi quando encomendaram um biscoito azul. "A natureza não fornece alimento azul. E que sabor tem o azul?"

A investigação produziu resultados que não a agradaram. "Usei corante alimentício, a língua ficava tingida", lembra. Da tentativa e erro, ficou uma lição: "Jurei que a única cor que nunca mais vou usar na vida é o azul".

E, afinal, qual é a receita do biscoito? É segredo. "Vai meia dúzia de ingredientes, é bem simples", desvia.

Maria Vilma quer que os caderninhos continuem vivos nas mãos de seus dois filhos. "Preciso deixar isso para alguém."