Viver com a doença

Professora diagnosticada com doença faz sozinha o caminho de Santiago

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A professora aposentada Claudia Barbeito, no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, em abril de 2017

LÍGIA MORAIS
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

Claudia Barbeito, 50, pretendia passar seu aniversário, em setembro de 2016, no caminho de Santiago de Compostela. A carioca já se preparava para percorrer a rota de 800 km, mas teria de cumprir uma promessa feita a uma das filhas: só viajaria sozinha se ficasse um ano inteiro sem os sintomas mais complicados da esclerose múltipla, que levam à internação.

Em abril daquele ano, porém, teve um surto grave. A viagem foi adiada em um ano: em março de 2017, ela embarcou. Claudia levaria pouco mais de 30 dias para percorrer a rota que vai da França à Espanha.

Depois dos primeiros 100 km, quando estava em Estella (Espanha), vieram a fraqueza nas pernas, o formigamento nos membros e a visão embaçada. Eram sintomas da esclerose múltipla recorrente-remitente. Teve que parar e repousar por três dias. Foi o primeiro susto da viagem.

Percorridos 700 km –a pé, de táxi, ônibus e de trem–, teve a pior fadiga desde o diagnóstico da doença, aos 37 anos. Faltando 100 km para chegar a Santiago, caiu no caminho sem conseguir se levantar.

Claudia diz que não tinha forças nem para assoprar o apito, que carregava no pescoço para o caso de emergência. Foi socorrida por um casal holandês, que a levou para o albergue mais próximo, em Portomarín (Espanha). Depois de uma noite, acordou recuperada.

"Portomarín foi o lugar de que mais gostei, onde senti que o meu caminho tinha terminado. Fui até o final, Santiago, apenas porque era a minha meta." A professora não é religiosa, como parte dos peregrinos que decidem fazer essa viagem. Completou o caminho pelo desafio de atravessar um país inteiro, diz.

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Claudia Barbeito levou pouco mais de 30 dias para percorrer o caminho de 800 km, que vai da França à Espanha

ANTES DA VIAGEM

Na época do diagnóstico, Claudia era professora universitária no Rio de Janeiro e equilibrava as aulas com o doutorado em filosofia. A esclerose lhe causou uma cegueira temporária –por cinco anos, ficou sem 90% da visão. Então, deixou os estudos e acabou se aposentando por invalidez.

Em 2015, mudou-se para Saquarema (100 km da capital carioca). "É uma doença cruel, mas eu gosto de dizer que a esclerose salvou a minha vida. A doença fez com que eu me mudasse para uma cidade pequena. Se não fosse por ela, eu ainda estaria trabalhando desesperadamente no Rio."

Apesar da internação na época do seu aniversário de 50 anos, sua filha decidiu apoiar a viagem. "Se eu morresse no caminho, tinha certeza de que seria a pessoa mais realizada do planeta, pois estaria fazendo algo que realmente queria", diz Claudia.

A preocupação das filhas vem desde que soube o diagnóstico. Mesmo crianças, elas ajudavam a mãe com a medicação. "A esclerose acabou roubando um pouco da infância delas, que amadureceram muito rápido para me ajudar", diz Claudia.

Ela já publicou três livros de contos e ensaios. Agora está escrevendo o quarto, com a história do seu trajeto. Claudia já tem planos para a próxima viagem, que pode ser de novo para Santiago de Compostela, mas dessa vez pela rota que passa por Portugal.