Tratamento

SUS distribui novo medicamento até outubro; Anvisa avalia duas drogas

JESSICA MARQUES
LOBO BRAGA
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

Até outubro, deve chegar ao SUS a primeira droga ministrada por via oral nas fases iniciais de tratamento da esclerose múltipla. É a teriflunomida, que vem em comprimidos e trata o tipo mais comum da doença, a recorrente-remitente (85% dos casos).

A novidade pode significar o fim das agulhas para alguns dos cerca de 15 mil brasileiros com esclerose múltipla que, segundo o Ministério da Saúde, são tratados no sistema público. No SUS, a primeira linha de ataque à doença conta com remédios aplicados de forma subcutânea ou endovenosa (direto na veia).

A teriflunomida tem efeito imunomodulador no organismo. Isso significa que o funcionamento das células é modificado para regular o sistema imunológico e diminuir o aparecimento dos sintomas, como explica o neurologista da PUC-SP Paulo Diniz da Gama.

A droga é produzida pelo laboratório Sanofi. O tratamento mensal custa de R$ 6.000 a R$ 7.500. Cada caixa vem com 30 comprimidos e dura um mês.

Ainda na linha de novos medicamentos para esclerose múltipla, dois fármacos estão sendo analisados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para vir para o Brasil. Ainda não há prazo definido para aprovação.

Um deles, o Ocrelizumabe (Roche), é a primeira droga desenvolvida para tratar a esclerose múltipla primária progressiva, tipo que representa 15% dos casos (leia abaixo). A droga é de uso hospitalar, aplicada semestralmente de forma endovenosa. O custo anual estimado é de US$ 65 mil (pouco mais de R$ 200 mil).

Outra droga na fila da Anvisa é o daclizumabe, que atua no tipo mais comum da doença. O medicamento foi desenvolvido pela Biogen com a farmacêutica AbbVie e aprovado em maio de 2016, também nos Estados Unidos.

É uma injeção subcutânea aplicada mensalmente pelo próprio paciente. O custo estimado é de US$ 7.000 por dose (cerca de R$ 22 mil por mês). Isso representa um custo de aproximadamente R$ 260 mil por ano.

Os dois medicamentos são imunossupressores, ou seja, reduzem o funcionamento do sistema imunológico e diminuem os surtos dos pacientes. Esse tipo de remédio está na segunda linha de tratamento da doença, por ser mais agressivo em eficácia e efeitos colaterais.

Entre os imunossupressores, o natalizumabe (Biogen) é um dos medicamentos mais comuns no Brasil para tratar esclerose múltipla. Atualmente, o SUS fornece a aplicação endovenosa hospitalar, que é feita uma vez por mês.

A incorporação do medicamento aos planos de saúde está sendo avaliada pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). A ideia é que o tratamento esteja no novo rol de procedimentos a partir do dia 1º de janeiro. A consulta pública foi finalizada em 26 de julho e o resultado está previsto para ser divulgado na segunda semana de agosto.

A justificativa principal, segundo Rodrigo Thomaz, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, seria diminuir o número de pacientes que buscam o procedimento no sistema público e precisam entrar na Justiça para consegui-lo.

NOVA DROGA PARA TIPO MAIS GRAVE

A primeira droga para tratamento da esclerose múltipla primária progressiva está em análise pela Anvisa, entidade que aprova medicamentos para comercialização no Brasil. Em uso nos EUA desde março deste ano, quando foi aprovado pela FDA (agência americana que regula medicamentos), o ocrelizumabe age em células específicas do sistema imune, reduzindo a exposição dos usuários a infecções oportunistas.

Fabricada pela Genentech (subsidiária da farmacêutica Roche) nos EUA, a substância será comercializada no Brasil pela própria Roche. A Anvisa tem 90 dias após o pedido de registro para emitir a primeira manifestação sobre a droga, mas nem a agência nem o fabricante divulgaram a data em que ele foi protocolado.

Na esclerose múltipla, células de defesa (linfócitos autorreativos) que circulam pelo sangue invadem o sistema nervoso central e atacam a bainha de mielina, estrutura responsável pela transmissão de impulsos nervosos. O resultado é uma grande variedade de sintomas motores, sensitivos e cognitivos -perda de força muscular e cegueira temporária são exemplos.

A patologia é comumente dividida em quatro tipos, sendo que dois deles podem ser tratados pelo ocrelizumabe: recorrente-remitente e progressiva primária.

O primeiro acomete cerca de 85% dos pacientes diagnosticados e é caracterizado por surtos (ataques intensos à mielina, provocando surgimento brusco dos sintomas) seguidos de possível estabilização. O segundo não tem surtos, mas a piora é progressiva e, normalmente, o paciente não sabe definir com clareza o momento de início dos sintomas.

Uma das características do tipo progressivo primário é a permanência da inflamação no sistema nervoso central. Basicamente, após invadirem o sistema, os linfócitos se organizam em aglomerados e continuam agredindo a mielina. Os sintomas avançam sem que seja necessário o acesso de novos linfócitos.

A droga mata células de defesa específicas, inclusive aquelas que já invadiram o sistema nervoso central, daí sua indicação para o tratamento da esclerose múltipla progressiva primária.

"[Em geral,] as medicações existentes agem impedindo a entrada de novas células de defesa no sistema nervoso central, o que não funciona para a esclerose múltipla progressiva primária", diz o presidente do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa da Esclerose Múltipla, Jefferson Becker, destacando que o tipo mais grave da doença exige ação nos linfócitos que já atingiram o sistema e nele se instalaram.

De aplicação semestral endovenosa em ambiente hospitalar, o ocrelizumabe pode causar uma série de efeitos colaterais, como febre, náusea e dificuldades respiratórias. Apesar de o medicamento não enfraquecer o sistema imune tanto quanto outros tratamentos, os usuários não estão livres de infecções. Há, também, possibilidade de reativação do vírus da hepatite B (para aqueles que já o têm) e aumento do risco de desenvolvimento de cânceres.