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País precisa acabar com feudos públicos e privados, diz Maia

Presidente da Câmara diz que novo governo pode aprovar reforma da Previdência

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante entrevista na Redação da Folha

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante entrevista na Redação da Folha

Fernando Canzian Alexa Salomão
São Paulo

Rodrigo Maia, 47, candidato à Presidência pelo DEM e presidente da Câmara dos Deputados, afirma que o Brasil precisa ter coragem para enfrentar "feudos públicos e privados".

"Há desonerações, incentivos e benefícios que vão para o setor privado e que muitas vezes não sabemos se estão gerando emprego e melhora de vida da sociedade ou apenas garantindo um setor ineficiente", afirma.
Em entrevista à TV Folha, Maia disse acreditar que, eleitos, novo governo e Congresso terão condições de aprovar a reforma da Previdência e contornar a atual crise fiscal.

O presidente da Câmara afirma que, se o presidente eleito quiser tentar votar a Previdência antes de assumir, ele poderá colocar o tema em votação.

PREVIDÊNCIA
Há uma compreensão da sociedade em relação à distorção dos sistemas de Previdência público e privado. Não é normal que um servidor possa se aposentar com 50 anos e que um trabalhador que ganha salário mínimo, e que representa quase 70% de nossos aposentados, só consiga se aposentar com 60.

Essa compreensão se reflete no atual Congresso e no de amanhã (pós eleição).

O que não há ainda é uma compreensão em relação a uma idade mínima no regime geral. A sociedade ainda entende que há um outro caminho para se financiar a Previdência no regime geral.

Isso sempre vai se refletir no Congresso e também no próximo ano se os candidatos não colocarem de forma clara que essa é uma agenda decisiva para que o Brasil possa entrar num caminho de crescimento econômico.

Estamos no limite do que dá para fazer sem precisar gerar nenhum dano a nenhum servidor ou cidadão. Portugal chegou a um ponto em que o direito adquirido acabou. O sistema quebrou e tem gente até hoje que teve 30%, 40% do salário cortado. Não precisamos chegar nesse ponto.

FEUDOS
É preciso ter a coragem de enfrentar alguns feudos, não apenas no serviço público, mas também no privado. Há desonerações, incentivos e benefícios que vão para o setor privado e que muitas vezes não sabemos se estão gerando emprego e melhora de vida da sociedade ou apenas garantindo um setor ineficiente da economia.

Em um país com todas as desigualdades que temos, explicar isso para o cidadão muitas vezes não é fácil. Muitas vezes o grupo que comanda um feudo desse vai para o debate não defendendo a posição dele publicamente, mas dizendo que aquilo é contra o trabalhador, que o consumidor está sendo prejudicado.

DENÚNCIA CONTRA TEMER
Não estou atrás de informações e não tenho informação. A melhor coisa que faço é continuar com a pauta da Câmara, não tratando desse tema.

Já temos muitos problemas no Brasil e estamos vivendo momentos de instabilidade econômica e política. Esse é outro assunto que vai gerar instabilidade. Se essa for a decisão do Ministério Público, vamos pautar, como pautamos as duas últimas denúncias.

FORO E PRISÕES
Sou a favor que se garanta as mudanças que estão sendo colocadas e de que a decisão do Supremo seja para todos e não exclusiva para parlamentares. De que desça para a primeira instância e só mantenha (o foro) para os casos cometidos dentro do exercício do mandato.

O ideal é sempre que o Congresso legisle. Eu digo aos deputados que ficam na dúvida que temos de legislar sobre o foro, sobre a [prisão] em segunda instância. Porque quando a gente reclama do ativismo do Supremo e não faz nada, estamos concordando com aquela decisão.

LULA E IMPEACHMENT
As pessoas têm uma memória do governo Lula, de quando o Brasil crescia, mas não têm memória do final do governo dele, muito expansionista nos gastos. O que gerou a eleição da presidente Dilma, escolhida por ele, e que gerou uma crise econômica enorme, talvez a maior da história.

O atual governo não conseguiu mostrar que [a recessão] veio dos dois anos de Lula e da escolha dele pela presidente Dilma.

O presidente [Temer] passou por todas essas crises [com as denúncias do Ministério Público], o que tirou dele as condições de construir essa narrativa verdadeira de como era o Brasil em 2016 e como é o de hoje.

De fato há uma certa dúvida da sociedade em relação ao impeachment, mas não tenho dúvida de que, se ele não tivesse acontecido, a vida dos brasileiros hoje seria muito pior, com inflação e juros altos e a recessão aumentando.