REDAÇÕES NOTA MIL

Treino e atenção às notícias

Além de passar o dia inteiro no colégio e no cursinho, Amanda estudava cerca de sete horas diárias quando voltava para casa. A dedicação a ajudou a conquistar um lugar no seleto grupo de 104 estudantes que tiraram a nota máxima na redação do Enem de 2015. A estudante diz que teve de abdicar de muitos momentos de lazer, mas não de todos: "Saía com meus amigos sempre que podia e procurava aproveitar ao máximo os momentos de diversão. Isso é muito importante para esfriar a cabeça em meio a tanto conteúdo. Sem uma pausa, o estudo para de render", recomenda.

Além da leitura, que ela diz ser uma das atividades preferidas desde pequena, a receita para o texto nota mil incluiu muita atenção às notícias e a prática da escrita. O treino, garante, é o mais importante: "Fiz muitas redações ao longo do ano e isso ajudou no desenvolvimento do texto na hora da prova". Na redação, abordou a incoerência de serem registrados milhares de casos de agressões às mulheres em um momento em que elas vêm conquistando mais espaço nas relações sociais, políticas e econômicas. A estudante quer cursar direito, como o pai, e foi aprovada na PUC-SP, no Mackenzie, na UFMG (federal de Minas Gerais) e na Unesp. Decidiu, porém, fazer mais um ano de cursinho para alcançar seu objetivo, que é estudar na USP.

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Desconstruindo ideologias: sob a égide da democracia

O preconceito contra o sexo feminino é um problema que assola o cotidiano pós-moderno, sendo inúmeras as formas por meio das quais tal discriminação se apresenta. Seja por meio da violência física, psicológica, sexual ou patrimonial, as mulheres têm sofrido nas mãos de agressores que veem no sexo feminino um elemento "frágil", ideologia que é a completa antítese das democracias contemporâneas, supostamente liberais e igualitárias. Nesse contexto, deve-se discutir a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira.

Desde os primórdios da civilização, foi criado um estereótipo que reservava às mulheres apenas as funções domésticas e de procriação, excluindo a possibilidade de seu ingresso nas esferas da política ou mesmo do trabalho. Todavia, tal estereótipo vem sendo desconstruído, ao passo que as mulheres conquistam mais espaço nas relações sociais, políticas e econômicas ao redor do mundo. Toma-se como exemplo as lideranças políticas alemã, argentina e, principalmente, brasileira: hoje, tais cargos são exercidos por mulheres, realidade improvável há algumas décadas.

Todavia, ideologias preconceituosas e agressivas ainda são inerentes à sociedade brasileira, constituindo um entrave ao progresso da nação como um todo. Este quadro se torna evidente ao serem apresentados dados disponibilizados no site da revista "Istoé": no período de setembro de 2006 a março de 2011, mais de 330 mil processos com base na Lei Maria da Penha foram instaurados nos juizados e varas especializados. É no mínimo incoerente que, em pleno século XXI, junto a um cenário pautado pelas ideias de igualdade e liberdade como base fundamental de toda e qualquer democracia, ainda existam milhares de mulheres sofrendo por agressões de natureza absolutamente injustificável.

Assim, é imprescindível que medidas sejam tomadas para a compleição de uma democracia justa e igualitária em sua plenitude. Desse modo, cabe ao Governo tornar mais rígida a legislação concernente ao bem-estar do sexo feminino, tomando as devidas providências quando algo estiver em desacordo com o que prega a Lei; às escolas, cabe o dever de instruir as gerações futuras quanto à igualdade entre os cidadãos de uma democracia, conscientizando-os do caráter absurdo presente em atos discriminatórios e agressivos. Por fim, lança-se um apelo às vítimas, ressaltando-se que a denúncia é a forma mais eficiente de se combater o problema. Afinal, à guisa de Simone de Beauvoir, o opressor não seria tão forte se não encontrasse cúmplices entre os próprios oprimidos.