O ídolo

Após série de acasos, goleiro-artilheiro acumulou marcas e se tornou um mito

ADRIANO MANEO
DE SÃO PAULO

O jogador com mais partidas com a camisa de um clube na história do futebol se despediu dos gramados nesta sexta-feira (11). Após 25 anos, parte deles de glórias, e 1.237 jogos pelo São Paulo, a história de Rogério Ceni no campo chegou ao fim.

A despedida foi marcada por uma festa com show do Ira! e uma partida entre os campeões mundiais de 1992/93 e os de 2005.

O caminho de Ceni foi marcado por alguns acasos que abriram portas e garantiram boas oportunidades ao goleiro. Seus concorrentes de posição tiveram lesões em sequência, casos de indisciplina e até um trágico acidente.

Ceni estreou como jogador profissional pelo Sinop (MT), em 19 de abril de 1990. Com apenas 17 anos, ele era terceiro reserva da equipe que jogava o Campeonato Mato-grossense daquele ano.

Logo na primeira fase do campeonato, os dois goleiros da equipe se lesionaram e Ceni foi escalado. Na estreia, garantiu o empate do time ao defender um pênalti e, depois de mais 11 jogos, veio o primeiro título: campeão mato-grossense.

Ainda em 90, o jovem atleta foi levado ao São Paulo para ser avaliado pelo treinador de goleiros Gilberto Morais, que lembra do dia em que conheceu o goleiro.

"Quando Rogério chegou, era molecão, tinha cabelo! Eu o avaliei no CT da Barra Funda, nesse primeiro campo, o campo 1. Aprovei e mandei inscrever", recorda.

Dois anos depois, em 1992, Ceni passou a treinar com o time principal do São Paulo. Sua estreia, no entanto, só viria um ano mais tarde, depois da morte de Alexandre, então reserva de Zetti, aos 20 anos (leia mais no tópico 1 vs 33).

Após a tragédia, Ceni, que ainda transitava entre os juniores e os profissionais tornou-se o terceiro reserva.

Em 25 de junho, o goleiro estreou como titular pelo São Paulo na vitória por 4 a 1 contra o Tenerife, com direito a defesa de pênalti. A equipe estava em excursão de dois meses pela Europa, sem Zetti, na seleção brasileira.

No meio da viagem, Rogério teve que voltar ao Brasil porque sua mãe havia falecido, mas, em um caso de indisciplina, Gilberto, goleiro que havia sido contratado no começo do ano para fazer sombra a Zetti, foi dispensado.

"A gente saiu à noite e no outro dia Telê Santana mandou embora Marcos Adriano, Lula e eu. Viemos para o Brasil e ficamos sem goleiro nenhum lá", explica Gilberto.

Sem goleiro, Telê pediu a volta de Ceni, que se apresentou para a partida seguinte. A partir dali, não saiu mais da cola de Zetti. Foi ao Mundial de Clubes no Japão em 1993 como reserva e assistiu ao título do banco, onde ficou até assumir a titularidade.

Em 1997, após a saída de Zetti, Ceni virou titular e, em fevereiro, a torcida assistiu ao primeiro gol de falta cobrada pelo goleiro, contra o União São João de Araras. Segundo o reserva Paulo Sérgio, poderiam ter sido dois.

"Teve um pênalti e, na época, eu lembro que o Serginho era o batedor. Só que o Rogério correu para bater e o Muricy não aceitou. Ele falou, 'Vai para o gol que você já fez o seu", explica Paulo Sérgio.

Já naquele ano, Ceni foi convocado para a Copa das Confederações e ganhou seu primeiro título como jogador da seleção brasileira. Cinco anos mais tarde, na Copa de 2002, seria campeão do mundo como terceiro goleiro, reserva de Marcos e Dida.

"Não teve oportunidade [na Copa] porque o Felipão era o treinador do Marcos no Palmeiras e o Parreira gostava muito do Dida. Quer dizer, ele foi para fazer parte do grupo", diz Haroldo Lamounier, treinador de goleiros do São Paulo há 14 anos.

ANOS DE GLÓRIAS

Em 2005, Ceni se tornou o jogador com mais partidas pelo São Paulo, foi campeão da Libertadores, do Mundial e artilheiro do time na temporada, com 21 gols.

Nos anos que se seguiram, foram três Brasileiros consecutivos (2006, 2007 e 2008). Foi a época de ouro do goleiro.

A partir dali os títulos minguaram, mas os recordes de Ceni começaram a se acumular. Em 2006, se tornou o maior goleiro artilheiro do futebol mundial, com 63 gols –encerrou a carreira com 131.

Em 2013, chegou a 1.117 partidas, ultrapassou Pelé com o maior número de jogos por um clube e se mostrou um "mito", apelido que a torcida usa para se referir ao goleiro.