Time do sindicato

Time do sindicato dá esperança para garotos e veteranos desempregados

Campo do Mooquem, onde treina o time do sindicato Avener Prado/Folhapress
Campo do Mooquem, onde treina o time do sindicato

LUIZ COSENZO
RAFAEL VALENTE
DE SÃO PAULO

Às segundas, quartas e sextas, o paulistano Alex Fernandes da Silva, 23, acorda às 5h30 e inicia uma maratona que vai terminar quase no final da tarde. Residente no Parque Santo Antônio, na zona sul da capital paulista, ele vai até a Penha, na zona leste, para treinar. No trajeto, utiliza dois ônibus para chegar à estação de metrô do Capão Redondo, faz três baldeações até a estação de metrô do Tatuapé. Depois ainda pega um ônibus até o destino final.

A rotina matinal pode se assemelhar a de tantos trabalhadores, mas têm diferenças: Alex é jogador de futebol e tem clube para jogar.

Ele demora quase duas horas para chegar ao Campo do Mooquem, na zona leste, onde treina no time do Sindicato dos Atletas de São Paulo, o Expressão Paulista. O treino costuma durar até o final da manhã.

Com ele há outros 29 jogadores em situação parecida. Todos utilizam a estrutura, que é simples, com campo com partes de terra, sem academia, para manter a forma na expectativa de chamar a atenção de algum clube.

O Expressão Paulista existe há dez anos, mas estruturado como está hoje, isto é, com comissão técnica fixa e com treinos três vezes por semana, são quatro anos.

Os jogadores ficam em média oito meses na equipe. Há uma avaliação para admitir o jogador. A equipe comporta 30 atletas.

Alex está desempregado desde o final do ano passado e está no Expressão desde junho. Com trajetória por equipes pequenas, como Audax, Jacutinga e Guarulhos, ele ainda tem esperança de arrumar um time, mas já fez um plano B para o futuro.

"Só uma minoria explode no futebol. O restante passa dificuldade. Por isso, decidi ter um plano B. Faço curso de educação física na UniItalo. Também ganho a vida apitando jogos de futebol society aos sábados e domingos", diz.

"Vou procurar um clube até o início do Campeonato Paulista-2016. Tenho uma vivência na área e do jeito que o futebol está hoje o futuro é muito incerto", relata.

CONHECIDO NA CASA

Avener Prado/Folhapress
Ex-jogador da base do Corinthians, Lucas no caminho para treinar pelo Expressão
Ex-jogador da base do Corinthians, volante Lucas no caminho para treinar pelo clube Expressão Paulista

Jogador da base do Corinthians entre 2008 e 2010 e filho do ex-atacante Nilson– que defendeu Inter, Grêmio e Corinthians, entre outros clubes nas décadas de 1980 e 1990–, o volante Lucas, 22, é um dos jogadores do Expressão Paulista. Ele está no time desde o segundo semestre deste ano após deixar o Guaratinguetá. Mas não é a primeira vez que treina na equipe do sindicato.

"Para ser sincero, me ajudou muito. Consegui manter a forma e o ritmo de jogo e, assim que pintou a chance no Guaratinguetá, eu aproveitei. Hoje está mais difícil, mesmo com meu pai me indicando para clubes", disse.

Lucas ganhava cerca de R$ 1.500 mensais no Guaratinguetá, valor irrisório quando comparado aos clubes médios do país. Achou que poderia estender o contrato com o Guaratinguetá para jogar a Série C do Brasileiro ou aproveitar a visibilidade para arrumar outro clube, mas não deu certo.

"Ainda vou arriscar no futebol, minha prioridade. Vou tentar até o próximo ano. Se não der certo, vou estudar. O próximo ano é decisivo", promete.

VETERANO E GARÇOM

Avener Prado/Folhapress
O veterano jogador do Expressão, Ricardo Brito
O veterano jogador do Expressão, Ricardo Brito, 32; zagueiro ainda acredita que possa jogar num clube profissional

Apesar de a meta do Expressão Paulista ser trabalhar com jogadores de até 26 anos, há veteranos na equipe. Um deles é o zagueiro Ricardo Brito, 32.

Mesmo com idade já considerada alta no futebol, ele ainda acredita que possa jogar num clube profissional. Brito começou a carreira aos 25 anos no Guarani de Pouso Alegre. Em 2012, quando tinha 29 anos, teve uma lesão no ligamento do joelho e ficou afastado por seis meses.

Passou por equipes modestas, recebeu uma proposta para jogar na Finlândia.

"Mas um empresário me pediu R$ 6.000 para eu me manter. Era uma ajuda de custo, mas eu não tinha esse dinheiro", conta.

Desiludido, decidiu buscar outras formas de ganhar dinheiro.

"Faço eventos no fim de semana, trabalho como garçom, mas ainda tenho esperança de vingar como jogador. Por isso estou arriscando minha sorte no futebol. Treino e mantenho a forma a espera de oportunidade", diz.

DO EXPRESSÃO PARA A SUÍÇA

Arquivo pessoal
O jogador Guilherme Fiovaranti
O jogador Guilherme Fiovaranti; lateral esquerdo joga atualmente no Muri, clube da terceira divisão da Suíça

Para os jogadores que treinam pelo Expressão Paulista e tem dúvidas sobre o futuro no futebol, um nome é citado como exemplo: Guilherme Fioravante, 24.

O lateral esquerdo joga atualmente no Muri, clube da terceira divisão da Suíça. Ele treinou de fevereiro a maio no Expressão Paulista até conseguir um teste no clube, indicado por um jogador local.

Antes de ir para a Suíça, Fioravante teve uma trajetória bastante sinuosa. Começou com 17 anos em um time modesto da Finlândia, no FC Honka, em 2009.

Em 2010, teve uma passagem de três meses pelo Nacional-SP. Em seguida, passou pelo Catanzaro, da Itália, Portuguesa Santista, Grêmio Barueri, Água Santa, Real Valladolid, Audax-RJ e Bangu.

Considera que o auge foi ter disputado um jogo contra o Getafe pela primeira divisão do Campeonato Espanhol. Ele estava no time B do Valladolid e foi chamada para a equipe principal

Hoje, Fioravante recebe cerca de 3 mil euros (algo em torno de R$ 14 mil) e se diz satisfeito.

"Treinar no Expressão foi muito bom para mim. Sozinho é difícil, mas em grupo consegui me aproximar do que desejava", completa.