Mais de 30% dos atletas que disputaram o Paulista estão sem clube
LUIZ COSENZO
RAFAEL VALENTE
DE SÃO PAULO
O desemprego é uma realidade para quase um terço dos jogadores que atuaram nas três principais divisões do Campeonato Paulista em 2015. Cinco meses após o encerramento do Estadual, 31% dos atletas inscritos no torneio não têm clube para atuar, mostra levantamento da Folha.
A pesquisa foi feita com base no registro dos clubes na FPF (Federação Paulista de Futebol), bancos de dados on-line e com checagem com jogadores. Dos 1.704 jogadores inscritos no Paulista, 523 não estão atuando de forma profissional.
A taxa de jogadores sem clube do Estado de São Paulo supera a taxa registrada no país no último trimestre (abril, maio e junho), que foi de 8,6%.
"Os números de desemprego comprovam que a situação é crítica. São Paulo ainda tem a Copa Paulista para amenizar o problema, mas no restante do Brasil o desemprego é maior", diz o ex-lateral Ruy Cabeção, 37, um dos líderes do Bom Senso FC, movimento de atletas criado há dois anos para reivindicar melhorias no futebol.
"Achar que a crise no futebol é conjuntural é um erro. Ela é estrutural. Nos últimos 30 anos, houve fragilização dos clubes pequenos pela forma como são divididas as receitas. O calendário não trouxe avanços, muitas equipes ficam inativas em boa parte do ano e não há incentivo para revelar jogadores", avalia o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente do Palmeiras e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo de José Sarney.
O discurso de Belluzzo é compartilhado por jogadores e pelo Bom Senso FC. Segundo eles, a solução deve iniciar com a reforma no calendário. Cada um propõe um calendário que deixe as equipes grandes, médias e pequenas ocupadas durante todo o ano. Para eles, isso amenizaria o desemprego. Apontam ainda que a responsabilidade de mudar o cenário atual cabe à CBF e à FPF.
"O desemprego no futebol é fruto da má organização. Os clubes e investidores não fazem contrato de um ano porque não sabem o que vão jogar no segundo semestre. Se um time pequeno não se classifica para a Série D do Brasileiro [a última divisão nacional], fica sem calendário para jogar e por isso faz contratos curtos [o mínimo exigido por lei é três meses]. Com isso, o jogador tem de tirar dinheiro do próprio bolso para bancar os compromissos assumidos", diz o goleiro Roberto, 36, ex-Vasco e ex-Ponte Preta, e membro do Bom Senso.
O arqueiro está desempregado desde abril. Defendeu o XV de Piracicaba no Campeonato Paulista, e está parado desde maio. Mantém a forma por conta própria, pagando academia e um preparador físico.
"Graças a Deus tenho condições de ficar parado, mas tenho amigos que estão desempregados e não têm como se sustentar. Não dá para chamar de jogador de futebol quem atua quatro meses e fica parado oito", diz Roberto.
"Estamos fiscalizando a questão do desemprego, mas têm clubes que não possuem a mínima estrutura. É o subemprego, não queremos que jogador jogue de graça nem pague para jogar. Tem que ter boas condições. Senão a qualidade cai e o produto fica ruim", diz Rinaldo José Martorelli, presidente do sindicato e da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol.
A FPF (Federação Paulista de Futebol) afirmou que analisa medidas para tornar a Copa Paulista, competição que é realizado no Estado no segundo semestre, mais atrativa e, assim, mais clubes ficariam em atividade.
"A FPF pediu e negocia com a CBF para que o campeão da Copa Paulista garanta vaga na Série D do Brasileiro. A nova gestão da FPF também analisa outras medidas para incrementar a Copa Paulista a partir de 2016, tornando a competição mais atrativa", diz a entidade.