TRINTONA

Trilogia chega aos 30 com status de cult

O ator Michael J. Fox com um modelo estilizado do carro DeLorean Divulgação

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

"Quem não gostaria de poder voltar ao passado e modificar o próprio futuro?" Assim começava, em 1985, crítica publicada pela "Ilustrada" sobre a estreia no país do filme "De Volta para o Futuro", de Robert Zemeckis.

O ano de 2015, mais precisamente esta quarta-feira, 21 de outubro, é a data para a qual viaja Marty McFly (Michael J. Fox) no segundo filme da trilogia, de 1989, o que tem gerado na internet comparações entre as previsões futuristas do filme e o que de fato se cumpriu: a start-up Hendo anunciou skates que flutuam por alguns minutos, e a Nike informa que sai nos próximos meses o tênis que se amarra sozinho (leia mais abaixo).

A trintona comédia narra a viagem, dos anos 1980 para os 1950 e, depois, para 2015, de McFly em uma engenhoca criada pelo cientista maluco Emmett Brown (Christopher Lloyd). No passado, o protagonista tem de assegurar que seus pais, então colegiais, fiquem juntos e ainda se desvencilhar das investidas amorosas de sua futura mãe, que desconhece a verdadeira identidade dele.

O filme fez a fama de Michael J. Fox, ator canadense então com 24 anos e mais conhecido por seus papéis na TV, e trouxe no elenco Lea Thompson, figurinha fácil nas produções teen da década de 80, como a mãe de McFly.

Para o papel do cientista Emmett Brown, foi escalado Christopher Lloyd, que desde "Um Estranho no Ninho" (1975) se notabilizou pelo portfólio de personagens esquisitos.

Fox continuou na ativa, mas o mal de Parkinson, diagnosticado em 1991, prejudicou sua carreira e o fez interromper a série "Spin City" (1996-2002), que ele protagonizava.

O ator, contudo, continua atuando: faz, por exemplo, um papel coadjuvante na série "The Good Wife", o do advogado Louis Canning, portador de uma doença que causa problemas motores. Fox também criou, em 2000, uma fundação que leva o seu nome e se dedica a pesquisar a cura do Parkinson.

Thompson foi para a TV nos anos 1990 e alternou participações em filmes de Clint Eastwood ("J. Edgar", 2011) e no filme-catástrofe "O Apocalipse" (2014). Lloyd seguiu interpretando tipos bizarros e reprisou o doutor Brown na comédia faroeste "Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola" (2014).

Thomas F. Wilson, o eterno antagonista Biff Tannen da trilogia, continuou atuando, dublou personagens do desenho "Bob Esponja" e se descreve como alguém que "transcendeu as limitações da celebridade pop para se tornar um artista honesto e sério": além de atuar, fotografa, canta, pinta e desenha.

Filme mais visto em 1985 —rendeu US$ 381 milhões na época—, ganhou duas continuações (a última em 1990) e status de cult: chegou a ser citado em discurso do ex-presidente Ronald Reagan, fã declarado do filme, e aparece em listas de melhores longas da história de veículos como o jornal "The New York Times" e a revista britânica "Empire".

No ano passado, Zemeckis anunciou que pretende transformar a história numa peça musical.

DELOREAN NA GARAGEM

Para criar a máquina do tempo de seu filme, Zemeckis topou com um carro de linhas futuristas e carroceria em aço inoxidável cujas únicas 8.583 unidades haviam sido fabricadas entre 1981 e 1983 por uma montadora americana na Irlanda do Norte. Hoje, o automóvel é peça de colecionador, especialmente entre fãs de "De Volta para o Futuro".

É a bordo de um dos poucos modelos existentes no Brasil que circula pela Granja Viana (Grande São Paulo) o músico Luiz Schiavon, tecladista e fundador do RPM, outro símbolo dos anos 1980.

Adriano Vizoni/Folhapress
Retrato do músico Luiz Schiavon com seu carro do modelo DeLorean, o veículo do filme
Retrato do musico Luiz Schiavon com a replica do DeLorean, o veiculo do filme "De Volta para o Futuro"

"É um filme que fez parte da minha juventude. Tenho toda a coleção em DVD", afirma Schiavon, 56, abrindo uma das portas em estilo asa de gaivota do veículo que ele mantém na garagem, junto a outros 15 carros antigos, incluindo um Sunbeam Alpine 1962, do seriado "Agente 86".

Segundo o músico, o DeLorean foi comprado há cinco anos por US$ 25 mil, do inventário de uma família que queria se desfazer do veículo nos EUA. "É meu brinquedo de fim de semana", afirma. "Quem vê fica tirando foto."

Do automóvel usado no filme falta, por exemplo, uma réplica do capacitor de fluxo, o dispositivo que permite a viagem no tempo, entre os dois únicos assentos do carro. "Aí já era demais", diz Schiavon.