impressões digitais

Centro Tecnológico Gráfico-Folha, que imprime jornais, completa 20 anos

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O recinto tem uma iluminação delicada, que lembra um laboratório ou um estúdio de revelação fotográfica. Faz sentido, já que os espécimes paridos ali são tão sensíveis à luz quanto os humanos -e estão prestes a ser clonados em máquinas imensas, a uma taxa de 116 cópias por segundo.

É nesse lugar, por meio de aparelhos que lembram uma versão gigantesca de impressoras a laser alimentadas com chapas de alumínio em vez de papel, que começa a ser preparada a impressão de mais de 300 mil exemplares diários da Folha e dos jornais "Agora" e "Valor Econômico".

Todas as etapas desse processo acontecem no CTG-F (Centro Tecnológico Gráfico-Folha), que está completando 20 anos de existência nesta sexta-feira (4).

Atingir o ritmo máximo de produção -cerca de 70 mil cópias por hora por rotativa- exige uma combinação de capricho artesanal e precisão industrial, do ajuste das bobinas de papel de quase uma tonelada nas rotativas até o olho treinado para detectar pequenas variações na distribuição de tinta que podem levar a um resultado indesejável na qualidade das páginas finalizadas.

Um dos frutos recentes dessa atenção aos detalhes foi o Prêmio Brasileiro de Excelência Gráfica Fernando Pini de 2015, no qual a Folha venceu a categoria Jornais Diários Impressos em Cold Set. "O prêmio é um bom exemplo da importância do CTG-F como um dos pilares para o bom desempenho do jornal", diz Antonio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente da empresa Folha da Manhã, que edita a Folha.

Apesar de seu gigantismo, a estrutura não tem nada de imóvel. Ao longo das duas décadas de funcionamento, o sistema tem passado por "upgrades" periódicos, não muito diferentes dos que são necessários num computador.

SEMPRE EM MOVIMENTO

Originalmente, a transmissão das páginas da redação para o CTG-F era feita por rádio -o que exigia várias retransmissões por antenas intermediárias, já que não era possível "mirar" diretamente o sinal da região central de São Paulo para Tamboré.

Hoje, há uma conexão direta de fibra óptica entre a sede da Folha, no bairro paulistano de Campos Elíseos, e a gráfica. "Além disso, toda a parte eletrônica das rotativas já foi trocada", diz Luiz Antonio de Oliveira, diretor industrial do CTG-F.

Para ele, apesar do avanço das plataformas digitais, a vitalidade do jornal impresso não pode ser subestimada.

"As pessoas falam numa transição para o jornal eletrônico desde que a internet surgiu. Mas em países como o Japão, onde certamente não há falta de conectividade, há jornais com tiragens de 7 milhões de exemplares. Na Europa têm aparecido recentemente novos projetos de rotativas. Creio que está surgindo um equilíbrio entre o meio impresso e o digital", afirma.

Maria Antonia de Araújo, cujos 42 anos de Folha incluíram transições tecnológicas ainda mais radicais que a construção do CTG-F (em seu início de carreira, os textos eram datilografados e "traduzidos" para um código em fitas perfuradas), concorda.

Ela conta da adrenalina de presenciar a impressão do jornal todos os dias. "A gente sente falta de ter alguém gritando 'Vamos lá, faltam dois minutos!'", brinca ela. É improvável que esse elemento de aventura desapareça enquanto houver jornalismo.