Tecnologia

'Não dá pra escolher entre TV e internet, são a mesma coisa', diz Valentina, 7

PAULO SALDANA
DE SÃO PAULO

Em um mundo de tecnologia por todos os lados, Valentina Elias Orlando, 7, é categórica na avaliação: "ia ser horrível a vida sem celular e internet. Eu ia só jogar jogo de tabuleiro. Jogar, jogar, jogar".

Aluna do segundo ano no Colégio Agostiniano Mendel, na região do Tatuapé, zona leste de São Paulo, Tina, como é chamada, mora com o pai publicitário, a mãe advogada e a cachorra Cher –a origem do nome do pet é um mistério para a garota.

"Ela é muito fofinha. Ela parece que vai morder a gente, mas não morde", conta Valentina sobre a cachorrinha que pode ser um Shih-Tzu ou Lhasa Apso. "Minha mãe está desconfiando".

Com seu próprio celular e uma playlist com seu nome na conta da família no Netflix, Tina diz que adora tecnologia, mas não das coisas "feias" que vê em filmes e noticiários.

Tina, você estuda aqui há quanto tempo? Você gosta de estudar?
Há uns quatro anos. Já foi jardim, pré, primeiro ano e agora o segundo. É muito bom, eu adoro estudar aqui. Tipo, eu tenho várias amigas, todas as meninas da sala são minhas amigas. Todas.

Todas? Então você não tem problema com amigos.
Não tenho problema com amigo. Só hoje que eu briguei com uma menina, mas a gente já se desculpou. Ela é minha melhor amiga. Eu achava que ela ia pedir desculpa amanhã, ela pediu hoje. Aí eu fiquei animada.

Por que é legal ter amigos?
Ah, porque a gente brinca, a gente faz amizade. Ficar sozinho não é bom, tomar lanche sozinho não é tão bom, mas às vezes eu gosto de ficar sozinha pensando nas coisas.

O que você mais gosta de fazer na escola? Qual é a sua matéria predileta?
A minha matéria predileta é língua portuguesa e história. Eu gosto da história porque ela conta várias histórias, ela é bem divertida.

Conta um pouco como é seu dia a dia.
Eu acordo na hora que o meu pai me chama. Vou no banheiro, escovo os dentes, aí eu sento no sofá um pouco, espero 10 minutos, até meu pai começa a fazer o almoço. Eu tinha violino, mas eu mudei o dia só pra ser entrevistada.

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 23-08-2017: Especial Superpauta Criancas. Serie de entrevistas com criancas. Garota Valentina Elias Orlando, 7 anos, mostra seu protetor de ouvidos que usa nos dias frios e leva para a escola. Ela cursa o 2o ano no colegio Agostiniano Mendel (no Tatuape) (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Valentina Elias Orlando, 7 anos, mostra seu protetor de ouvidos, que ela usa nos dias frios

E você já está tocando bem o violino?
É, mais ou menos. Eu aprendi na terça-feira a tocar a música da "Bela e a Fera".

Que legal... Por que você escolheu o violino e não guitarra, bateria?
Porque a minha mãe me obrigou a fazer violino, ela não deixou eu fazer violão. Eu era a mais baixinha e mais criança da sala. Mas aí eu gostei. Eu tenho um professor que é muito bom. Um dia, eu pedi pra ele tocar [a música de] "Star Wars", e ele tocou.

Sério? E você quer tocar "Star Wars"?
Um dia eu vou. No bar-mitzvá do meu primo, quando eu tiver dez anos, eu vou ter que tocar [as músicas dos filmes] "Violinista do Telhado" e "Star Wars". Eu não sei ainda onde vai ser, mas vai ser um festão.

Que música você gosta além de "Star Wars"?
Ah, eu gosto da Shakira, gosto bastante da Ludmilla, da Taylor Swift e um monte mais que não dá pra lembrar, né?!

E onde você assistiu "Star Wars"? Você gosta desse filme?
Na casa da minha tia e na minha casa. Foram os únicos lugares que eu já assisti "Star Wars". E eu adoro, gosto das explosões.

O que você mais gosta daquelas coisas tecnológicas?
Eu gosto quando eles estão na nave, eles ficam vendo os asteroides. Aí eles veem a nave do Darth Vader. Nossa, é muito legal. Uma vez, eu fui na Disney e tinha uma brincadeira que você ficava com uma espada igual, de luz [imita o movimento com uma espada imaginária]. Era muito legal, mas eu não participei porque a gente não tinha se inscrito.

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 23-08-2017: Especial Superpauta Criancas. Serie de entrevistas com criancas. Quadra coberta do colegio Agostiniano Mendel (no Tatuape) onde estuda a aluna Valentina Elias Orlando,7 anos (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Tina, como é chamada, estuda no colégio Agostiniano Mendel; à direita, quadra da escola

Você tem ideia de como eles conseguem fazer essas naves? Acha que é difícil?
Eu acho. Mas eu faço robótica, então, é como a gente constrói os robôs. A gente vai fazendo até ficar pronto, tira foto, mas não pode trazer pra casa, só quando tiver, tipo, no 10º ano do Mendel. Aí você pode levar pra casa algum projeto.

E você gostaria de construir um robô?
Queria. Se eu pudesse levar as pecinhas pra casa eu ia fazer um robô, claro, e uma nave espacial. Ia ser legal. Tipo uma exposição só de coisas de "Star Wars". Ia ser legal.

Quando você está na aula de robótica, por exemplo, como é? Meninos e meninas fazem juntos? Todo mundo se dá bem?
É. Todo mundo é muito legal lá, mas os meninos são mais bagunceiros que as meninas. As meninas são mais calminhas. Como na aula de religião, só os meninos ficam em pé e as meninas ficam sentadas. Os meninos vão lá na frente, dançam. Eles não obedecem.

Conta pra mim quais são suas brincadeiras preferidas...
As minhas brincadeiras preferidas... Eu e meus primos adoramos brincar de "Descendentes". Adoramos! A gente de fantasia, é muito legal.

Mas como é que é essa brincadeira? Me explica.
É sobre os filhos dos vilões. Eu adoro essa brincadeira! Eu sinto que eu tô lá dentro do filme. Você já assistiu "Descendentes 2"?

Não...
Ah! Não foi pro cinema, foi direto pra TV. Eu assisti no Disney Channel, 602. A gente brinca de "Descendentes 2" e "Descendentes". É muuuito legal!

Você assiste a muita televisão?
Assisto. Hoje de manhã, meu pai foi me acordar, escovei o meu dente e fui sentar porque ele já linha ligado "Descendentes". Essa é a quarta vez que eu assisti "Descendentes 2".

Mas o que mais você assiste na TV?
Ah! Um monte de coisa que passa. Primeiro eu assisto Disney Channel. Se é coisa chata, que eu já conheço, eu troco o canal, boto no 601, o Gloob. Se tiver chato, passo para o 603, que é da Disney, só que não é igual o Disney Channel.

Você prefere TV ou ficar na internet?
TV e internet, claro. Não tem como escolher, porque os dois são a mesma coisa. Algumas TVs não têm Youtube e Netflix, mas na minha, do meu quarto, tem. No celular sempre tem também. E eu adoro, muito, muito, muito, um programa chamado "Liv e Maddie". Eu assisto no Box, que é um videogame, onde a gente tem vários vídeos.

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 23-08-2017: Especial Superpauta Criancas. Serie de entrevistas com criancas. Area coberta de refeitorio e playground do colegio Agostiniano Mendel (no Tatuape) onde estuda a aluna Valentina Elias Orlando,7 anos (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Pátio e refeitório do colégio Agostiniano Mendel, no Tatuapé, zona leste

Mas como aparecem todos esses programas lá?
É meio esquisito, porque vai carregando. Tem várias playlists, do Clayne, da Janice e da Tina. Eu sempre boto no Tina e os dois ficam sobrando. Aí eu entro, tem só programa de criança.

Você acha que tem diferença entre programas de criança e de adulto?
Eu acho que sim. As crianças não podem assistir programa de adulto. Tem um programa que já foi do Netflix e, graças a Deus saiu, que chama a "Festa da Salsicha". É muito horrível, horrível. Minha mãe me explicou uma vez que tem um homem sempre vigiando as crianças. Se botar na coisa de adulto, ele sabe que é um adulto, mas se for uma criança ele manda uma mensagem dizendo: "Onde você mora?". Por isso é muito perigoso. Por isso que eu não mexo mais no Youtube.

Quando eu tinha a sua idade praticamente não tinha celular. Você já pensou no mundo sem celular e internet?
Ia ser horrível! Sem a TV também, né?! Eu ia só jogar jogo de tabuleiro. Ia jogar, jogar, jogar.

Você acha que o celular é bom? Não é ruim ficar muito tempo?
É bem legal ficar bastante tempo porque minha mãe me proíbe às vezes. Ela fala "Tina, você vai ficar viciada", e eu fico mesmo. Quando a moça está me arrumando eu só tô assistindo Netflix. Só largo o celular quando eu tenho que tirar a blusa do pijama, eu boto aqui [o celular], tiro... e pego de novo.

Sabendo que antes não tinha computador e agora tem. Como você acha que a tecnologia vai ser no futuro? Vai ser tudo tecnológico, vai ter robô?
Vai, vai ter robô. Vai ter um monte de coisas que não existem agora. Se não existe nesse ano, vai existir no ano que vem. Se não no outro, no outro ou no outro.

Estão desenvolvendo um carro sem motorista. Você teria coragem de andar?
Ia ser bem assustador. E se a gente falar e ele errar o caminho, né?! Ia ser horrível. "O carro errou o endereço, agora a gente tá atrasada pra festa". Ia ser horrível.

E você assiste jornal, vê notícia com seu pai e sua mãe?
Não é muito pra criança. Tipo ontem, quando eu fui na casa do meu vô, tava passando umas coisas feias, de tiros assim, pá, pá, de ladrão. E eu não gostei muito. Então eu subi e fiz uma costurinha com a minha vó.

Bem mais legal, né?!
É, bem melhor! Ficar lá assistindo, entediado, muito chato. Você sente que o ladrão está lá, né?! É horrível, eu odeio essas coisas quando passam.

E você acha que aparece muita criança na televisão? Dando entrevista como você?
Hum, nunca vi.

Tinha que ter mais?
Eu acho que sim. As crianças devem falar, principalmente, as mais boazinhas.

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 23-08-2017: Especial Superpauta Criancas. Serie de entrevistas com criancas. Sala de aula 2o ano no colegio Agostiniano Mendel (no Tatuape) onde estuda a aluna Valentina Elias Orlando,7 anos (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Sala de aula do 2º ano, onde Valentina e seus colegas estudam

E você é uma criança boazinha?
A minha mãe fala bastante que eu sou. Minha cachorra também é boazinha, ela só parece que vai morder a gente, mas não morde.

Qual o nome dela?
Cher. Ela tem uma marquinha aqui porque ela já tá ficando velhinha. Eu cuido dela. Ontem, quando a gente tava assistindo MasterChef, eu fiz um carinho assim, aí eu cobri ela e ela ficou parecendo um coelho, assim, muito fofo. É a coisa mais fofa que eu já vi.

Mas você sabe o por quê desse nome?
Ah, não sei. Porque a minha mãe escolheu. Quando ela era pequena ela nem tinha forças pra andar, ela cabia na palma da mão. Olha, abre a sua mão [e eu abro]... não tem a palma da mão? Então, ela era desse tamanho.

Você sabe qual é a raça dela?
Sim, Lhasa Apso. Mas minha mãe tá desconfiando que é Shih-Tzu, depois de todos esses anos.

E como você se vê você no futuro, Tina? Quando você for adulta...
Eu ainda não sei como eu vou ser, mas eu me vejo bem bonita.

Bem bonita?
Sim. Mas eu não vou abandonar minha mãe. Mesmo quando eu tiver um esposo ou namorado eu nunca vou deixar minha mãe pra trás. Porque eu quero aproveitar enquanto ela estiver aqui. Então é sempre bom aproveitar.

E os estudos? Vai continuar estudando pra sempre?
Sim. Na verdade, eu vou parar só quando tiver juíza, eu vou ser juíza e médica. Médica de plástica.

Nossa, difícil né?!
Sim. Porque minha mãe quer fica bem magrinha, então vou fazer uma plástica nela quando eu crescer.

E por que juíza?
Ah! Porque eu gosto de ser juíza. Eu vejo juízas que julgam a pessoa, prendem. Eu adoro.

(COLABOROU FERNANDA PEREIRA NEVES)