Introdução

Prisão de advogados foi duro golpe e exigiu mudança de estratégia

Luiz Carlos dos Santos, ex-vice-presidente do conselho de direitos humanos do Estado, ao ser preso Reprodução - 22.nov.2016/TV Globo
Luiz Carlos dos Santos, ex-vice-presidente do conselho de direitos humanos do Estado, ao ser preso

ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL A PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

Durante a chamada Operação Ethos, deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo em novembro e que levou à prisão 35 advogados ligados ao PCC, o delegado Éverson Contelli, de Presidente Venceslau (a 611 km de SP) recebeu a ligação de um colega delegado de Presidente Prudente (a 558 km da capital).

Um advogado da cidade se apresentava para ser preso e, mesmo com a informação de que não estava na lista, insistia em sua detenção. "Eu estou na lista sim", repetia. O temor do advogado, acreditam os policiais, era o de que pudesse passar por constrangimentos diante de parentes e vizinhos ao ser preso. Assim, já que realmente havia prestado serviços à facção criminosa, seria melhor evitar uma cena e se antecipar à chegada dos policiais à sua porta.

Tal advogado continua solto, mas, segundo defensores de integrantes do PCC ouvidos pela Folha, o medo demonstrado por ele também atingiu uma série de profissionais que, obrigados pela família, deixaram os clientes ligados à quadrilha. A debandada é confirmada pelo Ministério Público de São Paulo.

Assim, até o momento, segundo Contelli, que coordenou a operação, não há indícios de que a quadrilha de Marcos Camacho, o Marcola, tenha conseguido reorganizar o chamado "setor de gravatas": um grupo de advogados que, de acordo com a investigação da polícia, além de trabalharem na defesa de clientes, também funcionavam como transmissores de recados entre criminosos.

"Alguns deles nem sabiam quem eram os clientes que defendiam", disse o delegado. Também há suspeita de que esses profissionais levantavam informações de funcionários do sistema prisional para eventuais ataques.

Foi nessa operação que foi preso o então vice-presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Luiz Carlos dos Santos, que não é advogado, mas foi cooptado pelos "gravatas" para prestar serviços encomendados pelos criminosos. O principal trabalho dele, ainda de acordo com a apuração, era tentar prejudicar a imagem do sistema prisional com denúncias.

Santos confessou o envolvimento com o grupo. Diz que tentou interromper os pagamentos e negou alguns dos pedidos feitos pela quadrilha, mas foi ameaçado mais de uma vez e os pagamentos continuaram, sendo aumentados em várias ocasiões e chegando ao valor de R$ 5.000.

Um total de 41 advogados (incluindo estagiários) fazia parte desse setor. Todos recebiam um salário fixo mensal, em torno de R$ 3.000 a R$ 5.000, além de bônus. No setor também havia advogados contratados esporadicamente, como o que se apresentou espontaneamente na delegacia de Presidente Prudente.

O grupo ainda servia para o acionamento do chamado "Protocolo Fantasma". Quando um integrante do grupo ficasse sabendo da prisão de qualquer um deles, por qualquer motivo, todos precisariam destruir as provas que pudessem ligá-los uns aos outros e ao PCC.

Foi em razão disso que a Polícia Civil realizou todas as prisões dos suspeitos simultaneamente no dia 22 de novembro. Cinco continuam foragidos. Também por causa dessa investigação, 13 chefes do PCC foram indiciados, entre eles Marcola, que acabou sendo mandado para o RDD –regime mais duro de prisão existente no Estado, que mantém o preso em isolamento quase total.