Ano do clima

Análise: o efeito estufa e a sua lata de lixo

Danilo Verpa/Folhapress
Lixão em Caieiras (SP)

[ MARA GAMA ]

Para tratar duas fontes de gases do efeito estufa, o Brasil poderia olhar com seriedade para um de seus problemas sanitários e sociais mais graves: o sistema que alimenta a disposição inadequada de resíduos nos lixões.

Os lixões são como fábricas descontroladas de produção de metano, porque são locais onde se amontoam resíduos para livre fermentação e lenta decomposição. Além disso, os lixões são o ponto final de longos trajetos diários de uma enorme frota de caminhões que trança o país emitindo carbono, também responsável pelo aquecimento.

De acordo com o relatório "Waste Atlas 2014", cerca de 75 milhões de brasileiros usam os 3.000 lixões ou aterros inadequados ativos no país. Como atacar o problema? Adotando soluções localizadas e sustentáveis como:

1) instituir a separação do lixo doméstico em três frações: recicláveis secos (alumínio, plástico, papel e vidro); orgânicos; rejeitos (o que não é reciclável).

2) incentivar compostagem caseira ou envio de resíduos orgânicos para centrais regionais de compostagem e usinas de biogás.

3) reintroduzir na cadeia produtiva os recicláveis secos, com um plano industrial para a reciclagem e a desoneração de impostos para os produtos feitos com matéria reciclada.

4) investir em pesquisa para ampliar o rol de matérias recicláveis.

5) construir aterros para rejeitos, com captação de gás metano.

Um passo importante foi dado em novembro para avançar no item 3. Foi assinado o maior acordo de logística reversa no país, o das embalagens, que regulamenta o fluxo dos vasilhames pós consumo. Segundo o acordo, as 12 capitais brasileiras que foram sedes da Copa de 2014 terão metas de recolhimento dos descartáveis e incremento das coletas.

Com isso, deve triplicar o número de postos de entrega voluntária, e as empresas que criam, usam e revendem embalagens têm de investir em coleta, separação, tratamento e compra.

Falta muito chão. Mas dá para começar a fazer a sua parte, em casa, gastando um tempinho a mais com a sua lata de lixo.

Mara Gama é jornalista, roteirista e consultora de qualidade de texto da Folha; escreve sobre utilização do lixo