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BM&F: refúgio do atletismo

PAULO ROBERTO CONDE
DE SÃO PAULO

O atletismo tem um refúgio em 31 mil metros quadrados -quase três campos de futebol- entrecortados por duas largas avenidas de São Caetano do Sul, no ABC paulista.

Fincado às margens de um parque, entre verde e concreto, repousa a pista azul, em reforma, e a estrutura coberta que identificam o Centro de Treinamento do Clube de Atletismo BM&F Bovespa, o maior do país.

A área, em princípio, não salta aos olhos. Mas abriga boa parte dos principais nomes do atletismo nacional, modalidade que já rendeu 14 pódios olímpicos ao Brasil.

A grande aposta da modalidade para os Jogos do Rio, em agosto, defende as cores do time: Fabiana Murer.

Criada oficialmente em 2002, a equipe viu seu embrião nascer em 1988, quando a BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) resolveu ofertar um prêmio, chamado "Ouro Olímpico", a medalhistas dos Jogos de Seul-1988. O mimo era 4 kg em ouro, que foram divididos entre os atletas. O Brasil chegou seis vezes ao pódio (um ouro, duas pratas e três bronzes).

Como o mecenato pegou bem para a BM&F, a Bolsa resolveu estender seu vínculo com o esporte.

Em vez de transitar por várias modalidades, a opção, ainda no início dos anos 1990, foi pelo atletismo.

"Primeiro, a BM&F se associou à federação paulista e começou a patrocinar atletas ligados a ela", conta Ricardo D'Angelo, técnico principal do clube e da seleção."O patrocínio era pago em dólar. Depois, virou uma coisa mais abrangente, nacional."

A BM&F também manteve premiações pontuais.

"Eu nem ganhei medalha no Pan de Winnipeg, em 1999, mas me deram 300 gramas de ouro", recorda Fabiana Murer, que tinha 18 anos e era uma ex-ginasta que tentava a sorte no salto com vara.

Hoje, aos 34, soma quatro medalhas em Mundiais ao ar livre e indoor. "No começo, tínhamos que recorrer ao improviso. Em vez de um colchão profissional, juntávamos espuma para saltar."

Para Elson Miranda, seu técnico e marido, a reviravolta que a BM&F promoveu foi o "intercâmbio" que possibilitou a seu trabalho dar frutos.

Entre trancos e barrancos, Fabiana virou testemunha do nascimento do clube, em 2002. A nova equipe absorveu a estrutura da Funilense, então dominante no cenário nacional. A base do grupo era o complexo do Ibirapuera, que cinco anos depois foi trocado por São Caetano do Sul.

Nestes 14 anos, a BM&F conquistou o Troféu Brasil, principal competição do país, 14 vezes. E seus atletas somam duas medalhas olímpicas, com Vanderlei Cordeiro na maratona, em Atenas-2004 (bronze), e Maurren Maggi no salto em distância, em Pequim-2008 (ouro).

Apesar do sucesso, há muitos senões. D'Angelo diz que a equipe já foi maior. "Se em 2008 tínhamos cerca de cem atletas, hoje temos 55."

Um motivo para a redução é a atual crise econômica. Outro foi uma decisão, há três anos, de registrar todos os atletas. "O clube tinha muitos processos trabalhistas e teve de fazer o ajuste. Isso causou redução de 25% da equipe."

O contrato de técnicos e competidores é renovado anualmente. "Para facilitar, a Fabiana é demitida e recontratada ao final de cada ano."

Adriano Vizoni/Folhapress
Caixa de areia para saltos na pista interna da BM&F
Caixa de areia para saltos na pista interna da BM&F

A BM&F disponibiliza para D'Angelo e outros gestores R$ 9 milhões por temporada -outras fontes de recurso são os patrocínios da Caixa, Nike, Pão de Açúcar e do município de São Caetano do Sul.

Em 2009, o clube sofreu com a rivalidade da equipe Rede Atletismo, de Presidente Prudente (SP), que lhe tirou atletas como Maurren Maggi. "Ficamos bem fragilizados, é preciso reconhecer", diz D'Angelo. "A continuidade da BM&F foi posta em dúvida pela comunidade atlética."

A Rede, porém, enfrentou um escândalo de doping e encerrou as atividades.

Hoje, o maior desafio é outra crise: a econômica. O investimento tende a ser reduzido após os Jogos. Mas, segundo D'Angelo, a Bolsa garantiu que manterá o projeto. Tudo ficará mais fácil se vierem ouros no Rio.