SÉRGIO RANGEL
DO RIO

A CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) escolheu um paraíso do surfe brasileiro nos anos 1970 para construir o seu centro de treinamento.Localizado numa área de 108 mil m² entre a praia e a lagoa de Saquarema, o CDV (Centro de Desenvolvimento de Vôlei) conta com uma estrutura quase perfeita para os atletas das seleções principais e das categorias de base.

O local tem quatro quadras cobertas (que podem ser divididas e se transformarem em até oito para treinamento), seis de vôlei de praia, um campo oficial de futebol, duas quadras de tênis e uma piscina de 25 metros.A estrutura de apoio também é grande com, por exemplo, salas de musculação, fisioterapia e pesquisa, restaurante, auditórios, saunas, banheiras de hidromassagem e salão de jogos. O local pode receber até 314 pessoas.

"Isso aqui é maravilhoso. Você fica concentrado totalmente no vôlei. Ninguém perde tempo aqui. O atleta tem que andar no máximo uns cinco minutos para ter tudo ao seu alcance", elogia a técnica de vôlei de praia Letícia Pessoa, antes de iniciar um treino com Ricardo e Emanuel, que conquistaram o ouro em Atenas-2004.

Inaugurado em 2001, o centro de treinamento foi apontado como um dos trunfos para a hegemonia que os brasileiros alcançaram no esporte na década passada.

Antes das competições, as seleções ficam concentradas em Saquarema ensaiando o seus esquemas táticos e estudando adversários.Alguns optam por usar o CT como base por longos períodos, como Ághata e Bárbara, que ficarão nos próximos meses treinando em Saquarema antes da disputa dos Jogos Olímpicos do Rio

."O grande trunfo daqui é este tempo exclusivo para o vôlei. Não tem a confusão da cidade grande. No Rio, pego trânsito, por exemplo, da praia para a academia. Aqui é só vôlei", diz Bárbara, que treina na praia do Leblon.

"A vida aqui gira em torno do vôlei 24 horas. Nós treinamos mais e também descansamos mais. Isso faz diferença", completa Ághata.

Para as seleções, os períodos costumam ser menores, já que os atletas têm compromissos com seus clubes.

O oásis do vôlei hoje não é privilégio dos brasileiros. No ano passado, Japão, Bulgária, Alemanha e Holanda treinaram em Saquarema.

O local também atrai delegações de outras modalidades. O judô, por exemplo, organizou na última temporada um torneio internacional com participação de atletas brasileiros e de 12 países.

Até equipes de futebol procuram os atrativos do CT para realizaram suas pré-temporadas. Em janeiro, o Boavista fez ali parte da preparação para o Estadual do Rio. Botafogo e Fluminense são outros clubes que já treinaram à beira da praia.

O CT também já foi notícia por abrigar convidados do então presidente da entidade, Ary Graça Filho, durante o Carnaval em 2006. O mandatário renunciou em 2014, após denúncias de mau uso de verba pública.

Neste ano olímpico, a confederação vai gastar R$ 4,5 milhões no espaço."Procuramos de todas as formas ajudar os atletas. O centro está sempre se renovando", disse o gerente administrativo do CDV, Hernani Pereira, que tem uma equipe de 40 profissionais.

Em fevereiro, funcionários vão instalar holofotes para iluminar as quadras de areia. A intenção é fazer treinos noturnos antes da Olimpíada carioca. Parece exagero? Mas pode ser um grande diferencial para os brasileiros, já que o vôlei de praia terá jogos bem tarde da noite em Copacabana.

	Ricardo Borges/Folhapress
	Vista do CT de Saquarema, que também é usado por outras modalidades

"Este centro é o melhor do mundo. Venho para cá desde 2008, quando estava na seleção infanto-juvenil de quadra. O atleta tem paz o suficiente para se concentrar e treinar no mais alto nível", afirmou Evandro, que migrou para o vôlei de praia e vai representar o Brasil nos Jogos ao lado de Pedro Solberg.

A dupla ficou hospedada por uma semana no CT com os oito integrantes do seu estafe se preparando para esta temporada. Eles começavam os treinos às 8h e terminavam apenas por volta das 21h."Se o trabalho não der certo dentro de quadra, não tem desculpa. Tudo nos foi oferecido", acrescentou Evandro.