Clube de futebol

Corinthians: da bola à natação

MARCEL MERGUIZO
DE SÃO PAULO

Em uma tarde ensolarada no clube da zona leste de São Paulo, é mais fácil encontrar crianças em meio às braçadas na piscina do que correndo atrás de uma bola de futebol.

O terrão, que revelava jogadores para o Corinthians, já não existe mais. O elemento que predomina agora na rua São Jorge, 777, é a água.

Desde 2010, o futebol corintiano tem seu próprio centro de treinamento, no Parque Ecológico do Tietê.

Na mesma época, o clube passou a investir em um esporte com tradição entre os alvinegros, mas que já não estava apresentando bons resultados: a natação.

Tricampeão consecutivo (1964/65/66) do Troféu Maria Lenk -o campeonato brasileiro da modalidade-, o Corinthians voltou a ganhar a competição apenas em 2014. Fruto do investimento de cerca de R$ 2 milhões ao ano nos esportes chamados amadores.

"Houve uma mudança de patamar quando assumimos [em 2010]. Se deu com a contratação de técnicos, estruturação da metodologia de trabalho e investimento, praticamente tudo do próprio clube, sem verbas de lei de incentivo", diz o diretor de esportes aquáticos, Oldano Carvalho.

Hoje, o supervisor técnico de natação no Corinthians é Carlos Matheus, que acompanha seus atletas como técnico quando estão na seleção.

À disposição, há uma piscina olímpica (50 m) e uma curta (25 m), ambas descobertas, com uma academia logo ao lado. Existe uma plataforma para saltos ornamentais, mas a modalidade não é mais praticada no clube.

A estrutura aquática ainda tem duas piscinas cobertas, uma delas aquecida e com raias de 25 m. Esta, porém, é utilizada para o desenvolvimento de novos nadadores e não para o alto rendimento.

A prática de natação começa com bebês, a partir dos 6 meses de idade. No total, são cerca de 1.400 nadadores no clube. Destes, 210 federados, ou seja, competidores nas mais diversas categorias.

Brandonn Almeida foi uma destas crianças. Aos 6 anos, ele começou a nadar no clube. Hoje, aos 18, é recordista mundial júnior dos 400 m medley, mesma prova em que ganhou a medalha de ouro no Pan de Toronto, em 2015.

"A estrutura que o Corinthians me oferece com certeza é uma das melhores do Brasil. Pude acompanhar, mesmo pequeno, a evolução que teve desde que cheguei em 2005", diz Brandonn.

Além dele, o clube conta com outros nadadores de destaque internacional, como Leonardo de Deus, Thiago Simon e Felipe França.

Nos Jogos de Londres-2012, outros dois nadadores que já não estão no clube representaram as cores alvinegras: Poliana Okimoto, na maratona aquática, e Thiago Pereira, prata nos 400 m medley.

No Pan de Toronto, além de sete atletas (e oito medalhas) na natação, o Corinthians contou com um representante no futebol, o atacante Luciano, e outro no remo, Gabriel Campos. Esta modalidade, retratada até no escudo do clube, porém, não está em atividade no clube.

Esportes olímpicos como basquete, tênis, futebol, handebol, judô, taekwodo e vôlei podem ser praticados pelos cerca de 19 mil sócios aptos a frequentar o clube.

Mas as equipes competitivas existem graças a parcerias, como a feminina de basquete, com Americana.

Independentemente da modalidade, o que não muda é o apoio e a pressão da Fiel.

"Com certeza nossa responsabilidade aumenta por estar representando tantos corintianos dentro d'agua. Porque lá é assim, se é Corinthians tem que sempre buscar o melhor em qualquer coisa que leve esse nome", afirma Leonardo de Deus, 25, bicampeão dos 200 m borboleta nos Jogos Pan-Americanos.

"É sempre bom ter um clube forte por trás, com estrutura, apoio, torcida, tradição. Nosso clube é um lugar onde existe esporte de altíssimo nível, não só no futebol", diz o campeão mundial dos 50 m peito, Felipe França, 28.

Eles entenderam que ali tem um bando de loucos, loucos também por natação.