Maus-tratos

Mobilização contra o uso de animais

MARCELO TOLEDO
DE RIBEIRÃO PRETO

Afinal, há maus-tratos nos rodeios? As entidades de proteção animal afirmam não ter dúvidas disso, enquanto a organização da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos diz que, em suas provas, os touros têm toda a atenção necessária e são muito bem cuidados.

O maior imbróglio envolvendo o mundo dos rodeios ganha novo capítulo aos 60 anos da mais tradicional festa do gênero no país, celebrados neste ano em Barretos.

ONGs enviaram à "capital nacional do rodeio" observadores para tentar coletar imagens de supostos maus-tratos aos animais, com o objetivo de embasar processos judiciais contra a realização de eventos do gênero. Avaliam que, se conseguirem vencer alguma batalha contra Barretos, outros rodeios cairão como um "castelo de cartas".

A batalha entre entidades e rodeios já fez com que um evento em Hortolândia fosse cancelado este ano, além de atrasar em um dia as montarias numa festa em Franca.

"Não gosto, acho cruel e ponto final. É desnecessário usar animais. As pessoas vão lá pelos shows, não pelo rodeio", afirmou Carlos Rosolen, diretor-geral do PEA (Projeto Esperança Animal).

A entidade trava há quase uma década uma disputa jurídica com Os Independentes, associação que organiza a festa de Barretos, que está no STF (Supremo Tribunal Federal).

Após perder o processo em duas instâncias, a ONG recorreu ao Supremo, com o objetivo de garantir que possa emitir sua opinião sobre o tratamento dado aos animais nos rodeios no país.

O STF suspendeu a decisão, mas o caso ainda não tem julgamento final. Barretos alega que, com a divulgação de imagens falsas atribuídas ao seu rodeio, perdeu R$ 8 milhões em patrocínios.

As principais acusações das ONGs são de que os animais só pulam por terem o equipamento chamado de sedén preso aos testículos e de que são conduzidos com choques elétricos nos currais atrás dos bretes –locais de onde saem as montarias.

Além disso, dizem que os animais são submetidos a estresse por serem usados num local com muita luminosidade dos refletores e barulho excessivo das caixas de som.

"Os animais sofrem muito. Se o sedén não judia, porque usam? Se tirar, duvido que algum boi vai pular", disse Claudia de Carli, presidente da ONG Amor de Bicho Não Tem Preço, que foi à Justiça contra rodeios na região de Campinas.

Diretor de rodeio de Os Independentes, o veterinário Marcos Sampaio de Almeida Prado afirmou que não há maus-tratos e que a festa toda é acompanhada por quatro veterinários e dez estudantes da área.

"A festa precisa de animal que dê espetáculo, e ele tem de estar bem. As ONGs são mal informadas. Para criticar, é preciso conhecer", disse.

A organização alega que, se o touro tomasse um forte choque, a sua musculatura relaxaria e ele não teria condições de pular na arena. Além disso, diz que o sedén somente gera incômodo, não dor.

PRESERVAR A CULTURA

Embora críticas aos rodeios, as entidades de proteção animal afirmam serem favoráveis à manutenção da cultura sertaneja, sem o uso de touros.

"Passei minha infância na roça, sei do valor que as tradições têm, como músicas e danças típicas. Mas nunca vi um peão montado no lombo de um boi no dia a dia. Esse é o problema. A festa cultural a gente apoia, mas não a submissão do animal", disse Rosolen.

Claudia, da Amor de Bicho, disse que já trabalhou na Festa do Peão de Barretos, em 1998, quando era modelo, e que defende as tradições. "Mas sem crueldade com animais", afirmou ela, militante desde 2009.

A Festa do Peão de Barretos termina neste domingo (30), com montarias em touros e cavalos. O principal destaque é a realização do Barretos International Rodeo, com competidores brasileiros e estrangeiros.