O que será da política externa

Diplomacia de novo presidente dependerá de sua força em casa

Fotomontagem com Hillary Clinton e Donald Trump Fotomontagem/Reuters

MATIAS SPEKTOR
COLUNISTA DA FOLHA

Em uma das peças publicitárias de Hillary Clinton, uma explosão atômica ilustra como seria a diplomacia de Donald Trump. Na campanha dele, ela é apresentada como uma louca disposta a empurrar os Estados Unidos para a "Terceira Guerra Mundial".

Retóricas à parte, em temas de política internacional os dois candidatos possuem mais elementos em comum do que seus respectivos estilos pessoais deixam transparecer.

O fator comum mais significativo é a instabilidade política que um ou outro pode levar à Casa Branca. Acossados por investigações que podem consumir todo o mandato, eles pedem votos a uma sociedade polarizada que promete eleger um parlamento dividido. Na prática, isso antecipa a batalha pela sucessão de 2020. Essa dinâmica de política interna será o principal condicionante da política externa do governo que virá.

Neste cenário, quem for eleito não terá boa chance de arrumar o problema da imigração ou de aprovar novos acordos comerciais, dois golpes duros contra a economia do país.

Para dificultar as coisas, o próximo presidente receberá enorme pressão parlamentar para aumentar o gasto de defesa enquanto o Fed (banco central americano) promete subir a taxa de juros, acendendo a faísca que pode detonar uma explosão nuclear na política fiscal. Poucas coisas enfraquecem mais a diplomacia dos EUA que um deficit galopante.

Há outras áreas de consenso. Hillary e Trump concordam que a competição geopolítica global está em alta. Ela pretende fazer mais que ele, mas ambos enxergam na Rússia e na China um desafio aos interesses americanos que demandará resposta.

Ambos tendem a focar a diplomacia presidencial na Coreia do Norte, assim como fizeram Bush com o Iraque e Obama com o Irã. Nesse processo, quem estiver no comando correrá o alto risco de espezinhar parceiros tradicionais dos EUA, como Coreia do Sul e Japão. A América do Sul promete continuar fora do radar em caso de vitória de um ou de outro, com uma ressalva feita à Venezuela.

Quais as diferenças, então?

Hillary é experiente em temas internacionais, preocupa-se com a mudança do clima, enxerga vantagens no comércio livre e vê o gasto em diplomacia como investimento. Trump sabe pouco sobre isso, evita onerar a indústria americana com restrições ambientais ou competição externa, e pensa que, muitas vezes, fazer diplomacia é caro demais.

Trump representa o risco do desconhecido e, devido às barbaridades que diz, é objeto de ojeriza da maioria de estudiosos da política internacional no Ocidente. Hillary representa o risco do conhecido, e goza do prestígio e apoio da maioria avassaladora da comunidade de política externa americana.

Na prática, a diplomacia do novo presidente dependerá de sua força em casa. As coisas sempre podem mudar, mas, ao menos hoje, é difícil imaginar Hillary ou Trump criando um consenso de política externa entre democratas e republicanos centristas. Nem Hillary é garantia de liderança positiva mundo afora, nem Trump está fadado a provocar uma catástrofe global.