Mapa do voto

Estados indefinidos viram campos de batalha eleitoral

Hillary Clinton durante comício em Ohio John Minchillo/Associated Press
Hillary durante comício na Universidade de Kent, no Estado de Ohio

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TOLEDO (OHIO)
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE NOVA YORK

A sonolenta Toledo, no Estado de Ohio, já teve dias melhores. Vai longe o tempo em que era uma das "oito grandes", como ficaram conhecidas as cidades que até meados do século 20 faziam de Ohio o coração industrial dos EUA.

Ao contrário de outras, o declínio econômico manteve-se nas décadas seguintes e foi agravado pela "grande recessão" em que o país mergulhou em 2008, deixando Toledo para trás na retomada recente.

"Fomos abandonados", diz Robin Dickens, 52, que perdeu o emprego quando a fábrica de autopeças em que trabalhava transferiu a maior parte de suas operações para o México, no auge da recessão. Desde então, vive de bicos em restaurantes e luta contra a depressão.

Para ela e tantos outros na mesma situação, a esperança de mudança tem nome: Donald Trump. "Ele vai acabar com os acordos comerciais desastrosos e trazer os empregos de volta aos EUA."



Por seu perfil próximo da média demográfica nacional, Ohio é um dos mais simbólicos dos chamados "Estados-pêndulo" —sem preferência partidária clara—, que são decisivos nas eleições presidenciais americanas.

Nas duas últimas disputas, os democratas venceram com Barack Obama. Neste ano Ohio parece inclinada ao partido rival, com pesquisas indicando pequena dianteira de Trump sobre Hillary Clinton.

No mapa geral do país, o republicano também aparece à frente da democrata na maioria dos outros "campos de batalha" que poderão definir a eleição, incluindo Iowa e Nevada. Na Flórida e na Carolina do Norte, eles estão empatados.



Se o desgosto com a recuperação econômica desigual impulsiona o voto pró-Trump em lugares como Toledo, onde a taxa de desemprego é quase três vezes a média nacional (5%), mudanças demográficas favorecem Hillary em outros Estados.

Um exemplo é o Colorado, que até a primeira vitória de Obama, em 2008, tinha dado a vitória aos republicanos em 9 das 10 eleições anteriores. Neste ano a tendência pró-democrata parece se repetir, com vantagem de dois pontos para Hillary na média das pesquisas compiladas pelo site Real Clear Politics.

Os principais fatores são o aumento da população de origem latina, que compõe 15% do eleitorado e tende a votar na democrata, e a rejeição a Trump entre mulheres brancas de nível universitário, que se inclinavam para os republicanos nas últimas eleições.

"Não gosto de nenhum dos dois candidatos, mas Trump se queimou com o discurso contra imigrantes e o desrespeito às mulheres", diz José Vasquez, filho de mãe brasileira e pai porto-riquenho, dono de uma pequena construtora em Colorado Springs.



Num país tão polarizado e no qual o presidente é escolhido não pela maioria dos votos em escala nacional, como no Brasil, mas pela soma dos representantes eleitos por cada Estado, as atenções se voltam a cada quatro anos para esses "campos de batalha", em que o destino da Casa Branca é definido.

O mapa é semelhante ao da eleição de 2012, mas Estados que tinham fidelidade histórica a um partido passaram a balançar para o outro lado. É o caso do Arizona, onde democratas só venceram uma vez desde que Harry Truman foi eleito, em 1948, e que agora está em disputa, em parte devido ao aumento dos latinos (31% da população).

Uma das diferenças marcantes em relação a eleições passadas é o foco na personalidade dos candidatos. Embora os temas mais citados entre as preocupações dos eleitores mantenham-se parecidos -economia e terrorismo, nesta ordem-, os níveis recordes de rejeição a Hillary e Trump terão peso determinante neste ano, diz Geoffrey Skelley, editor do boletim de análise eleitoral Sabato's Crystal Ball, da Universidade da Virgínia.

"Com exceção de grandes propostas, como o muro na fronteira com o México de Trump e o plano de Hillary de universidade gratuita para algumas pessoas, a campanha foi dominada pelo medo do que o rival fará se chegar à Presidência", afirma Skelley.

A antipatia por ambos os candidatos é perceptível em qualquer parte do país. Uma resposta comum de eleitores quando questionados sobre quem gostam é "nenhum dos dois". A imagem de desonesta de Hillary e a reputação de destemperado de Trump podem virar o pêndulo entre eleitores indecisos.



Mas o republicano só levará Estados-pêndulo importantes como a Pensilvânia se ampliar sua base para além dos eleitores brancos de classe média baixa, diz Terry Madonna, diretor do Franklin & Marshall Poll, que acompanha a política do Estado.

"Os temas continuam os mesmos, economia, empregos e terrorismo. O que há de novo é a impopularidade dos candidatos e o fato de haver tantos eleitores que se sentem obrigados a escolher entre o menor dos males", diz.