Exames são feitos com lanternas de camelô
DE SÃO PAULO
São em salas "fétidas" e com uso de equipamentos improvisados, incluindo lanternas compradas de camelôs, que grande parte dos exames de crimes sexuais é realizada pela polícia de São Paulo. Situação que, além de ameaçar a integridade das provas que podem levar um suspeito à prisão, também coloca em risco a saúde das vítimas.
Esse quadro de penúria da Polícia Científica da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) está descrito em um relatório sigiloso produzido pelo próprio governo de São Paulo no final de 2013, ao qual Folha teve acesso, e que, segundo peritos, continua atual.
O documento traz um Raio-X das unidades da IML (Instituto Médico Legal) espalhadas pela capital e pelo interior.
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Mesa de exames em IML dentro de sala de arquivo |
O relatório revela que a situação não poderia ser pior. "As mesas de exames ginecológicos estavam montadas nos mais diversos lugares, tais como salas emboloradas, úmidas e fétidas, salas de arquivo, dormitório de funcionários etc", diz o documento.
Em todo o Estado são 65 unidades do IML e apenas três equipamentos para análise de ataques sexuais em mulheres -o colposcópio- e apenas dois em funcionamento.
Com esse instrumento é possível analisar o interior da vagina da vítima em busca de uma prova, como um pelo ou lesões deixadas pelo agressor.
Na falta dele, os profissionais (especialmente no interior do Estado) improvisam. "Os focos encontrados e utilizados para tais exames eram adaptados (verdadeiras 'gambiarras') sendo que em alguns locais se fazia uso de lanternas de LED adquiridas em camelôs. Verdadeiro desrespeito às vítimas do sexo feminino", segundo o relatório.
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Mesa de exames e luminária improvisadas em IML do interior de São Paulo |
Na capital, onde a Polícia Científica não há nenhum colposcópio, os exames são realizados graças a uma parceria entre Secretaria da Segurança e o hospital Pérola Byington.
Relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado), também de 2013, mostra que 86% dos prédios do IML (56 deles) não tinham licença da Vigilância Sanitária para funcionamento, contrariando a legislação.
Também aponta que 88% deles (57) também não tinham AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) e 94% (61) alvará de funcionamento expedido pela prefeitura.
As mesas de exames ginecológicos estavam montadas nos mais diversos lugares, tais como salas emboloradas, úmidas e fétidas, salas de arquivo, dormitório de funcionários etc