Testemunhas do Mineirão
JOSÉ MARQUES
DE BELO HORIZONTE
Locutora oficial do Mineirão desde 1999, Pollyanna Andrade, 34, viveu seu momento mais marcante no estádio justamente quando não tinha o microfone em mãos.
Substituída por uma equipe da Fifa durante a Copa do Mundo, estava na torcida no dia 8 de julho do ano passado, quando a seleção brasileira foi eliminada pela Alemanha por 7 a 1.À exceção do Mundial, Pollyana é responsável por anunciar informações como escalação dos times e público pagante da arena. "Nesses mais de 16 anos que trabalho aqui, nenhuma partida foi mais expressiva", afirma, e brinca com o próprio nome, que homenageia a personagem literária que vê o mundo pelo lado positivo.
"Foi uma lição para a seleção e uma oportunidade para rever muita coisa, dentro e fora do campo. Se bem que essa derrota para o Paraguai [na Copa América] mostra que não aprendemos ainda."Como a locutora, pessoas que trabalharam ou assistiram ao "mineiraço" -como o jogo foi apelidado- no estádio afirmam que, apesar da derrota, presenciaram um capítulo importante para os mundiais de futebol."Não me arrependi. Eu não fui a um evento esportivo, mas a um momento histórico", exalta a publicitária Patrícia Abranches, 35, que pagou "caro", no próprio dia do jogo, por um ingresso -e pediu à reportagem para não revelar o preço.
Seu assento ficava no setor atrás do gol que a Alemanha defendeu no primeiro tempo. "Depois dos 20 minutos, quando começou a goleada, a torcida começou a ir embora e pude assistir mais perto dos camarotes, onde só dava para entrar quem tivesse pulseirinha. Entrei sem", riu.O primeiro gol da equipe alemã foi marcado pelo atacante Müller, aos nove minutos, após cobrança de escanteio. Aos 23, Klose marcou o segundo e, antes dos 30, o Brasil já perdia de 5 a 0."Foi muito estranho, algo meio sem reação. A torcida começou a xingar a Dilma [Rousseff], misturar política com futebol", lembrou Higo Horta, 29, que ganhou o ingresso na promoção de uma loja.
"Achei que ia ser um jogo duro, um grande jogo, mas foi uma mega decepção. Apagou o passado, bom e ruim, da seleção nas copas", completou.A debandada de torcedores após o primeiro tempo também impressionou Renato Almeida, 22, que coletava o lixo da arena.Na área externa, Bruno Carvalho, 30, vendia cerveja em caixas de isopor e, de vez em quando, com o pretexto de buscar mais latinhas, dava um jeito de assistir a trechos do jogo. "Eu parei, rapidinho, para assistir quando estava nos 2 a 0. Nesse tempo, o Brasil levou mais dois gols. Quando voltei para o isopor, já tinha tomado outro", disse. "Pensei que ia ser como quando o Atlético perdeu para o Cruzeiro de 6 a 1. Mas foi pior", comparou, lembrando o clássico mineiro no Brasileirão de 2011. Na semifinal da Copa, a venda de cerveja também "foi uma derrota", diz.
"Ninguém queria beber, só ir para casa".Pollyanna, a locutora, também faz comparação com os times locais. "Sei que não é a mesma coisa, mas a postura do Cruzeiro no 3 a 0 para o River Plate, na Libertadores desse ano, me pareceu muito com a da seleção. Um time apático, sem reação, parece que sofreu uma pane. A seleção estava assim", descreveu.