7 A 1, um ano depois

Análise

PVC: Diagnóstico errado agrava a doença

PAULO VINÍCIUS COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

O diagnóstico precisa ser exato, porque tratar uma pneumonia como se fosse um resfriado mata o doente. Mas tratar uma gripe dando remédios para tuberculose também pode matar. Há um ano, o Brasil passou o maior vexame de sua história e até hoje busca a explicação. Depois do novo fiasco na Copa América, ficou fácil: falta jogador.

Não é tão simples. Ou pelo menos não é só isso.

"Está todo mundo com medo de ser Barbosa", disse o zagueiro campeão mundial, Márcio Santos, logo depois do Brasil passar raspando pelo Chile, nas oitavas-de-final. Era visível o abalo emocional da seleção, que jogava em casa 64 anos depois do Maracanazo.

Ninguém queria ser vilão.

As discussões sobre quanto o aspecto emocional envolveu a campanha ruim do Brasil na Copa tiveram argumentos justos. Os jogadores estavam arruinados psicologicamente porque temiam o fracasso? Ou temiam o fracasso por saber ser inevitável, pela insuficiência do trabalho de Felipão e Parreira?

O fato é que todos estavam em cacos e a seleção discutiu isso depois de Brasil x Chile. Melhorou contra a Colômbia, fez sessenta minutos de bom futebol e, então, perdeu seu craque e seu capitão contra a Alemanha.

Do cardápio do vexame, também faz parte a incrível incapacidade de o futebol brasileiro fazer trabalhos de médio e longo prazo. Felipão começou a montar sua seleção em janeiro de 2013. Joachim Löw iniciou oito anos antes. E já fazia parte da comissão anterior.

O trabalho foi curto e teve como agravante possuir protagonistas jovens demais. Neymar e Oscar, os pontos de referência do ataque, tinham 22 anos. O fim precoce da geração de Kaká, Robinho, Ronaldinho Gaúcho e Adriano criou um hiato entre os nascidos em 1982 e a geração de Neymar, de 1992.

Não se ganha a Copa do Mundo com as referências tão jovens - Pelé tinha 17 anos em 1958, mas o craque do time era Didi, com 29. Falta de talento, excesso de juventude ou as duas coisas combinadas? Trabalho precário nas divisões de base ou na transição da base para os times profissionais?

O Brasil chegou a três das últimas quatro finais de Mundiais sub-20. Nas três campanhas, 43 convocados. Só três disputaram a Copa América - Douglas Costa, Casemiro e Phillippe Coutinho. Campeões em 2011, Oscar e Danilo não estavam no Chile por lesão e Neymar não disputou o mundial, mas venceu o Sul-Americano de 2011 - é da mesma geração.

Não é totalmente verdadeiro o argumento de que o Brasil não revela mais jogadores e por isso levou 7 x 1. É mais justo dizer que desperdiça.

O cardápio do vexame é composto por muitos detalhes, embora hoje seja muito mais simples dizer que os alemães eram os melhores do mundo e o Brasil um bando desorganizado.

Lembre-se que a Alemanha chegou às semifinais depois de ganhar da Argélia na prorrogação e da França por 1 x 0, jogando feio.

A Alemanha hoje é melhor, não há dúvida. Nem se discute que o Brasil precisa trabalhar pela recuperação. Mas o diagnóstico errado só agrava a doença.