7 A 1, um ano depois

Análise

Juca: Se algo mudou, está 10 a 1 para a Alemanha

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Parece que foi ontem e jamais será esquecido. Não como o luto de 1950, mas como o vexame de 2014.

Verdade que, graças às redes sociais, um vexame amenizado por muita piada, muito humor tipicamente brasileiro tão logo a goleada acabou no Mineirão perplexo.

Também, pudera.Uma Copa que começou com um gol contra num estádio que até hoje não está pronto e com uma virada graças a pênalti inexistente tinha de ter o desfecho que teve.

O que mudou de lá para cá? Nada! Trocar Felipão por Dunga foi pior emenda que o soneto porque por mais críticas que o primeiro mereça não dá para comparar a folha de serviços como técnico de um e outro.

Felipão, aliás, pagou caro pela ousadia de não querer entrar para a história como "covarde", segundo suas próprias palavras:"Como tu achas que vou jogar amanhã? Na defesa ou no ataque?", perguntou. "Se te conheço, na retranca", devolvi. "Pois te enganas. Se tiver que perder vou perder atacando.

Não quero que amanhã me chamem de covarde", respondeu. "Vais de William?", quis saber. "Talvez, ou de Bernard", respondeu.

Foi de Bernard e foi o que foi. Jamais esquecerei do encontro com a jornalista alemã Martina Farmbauer no intervalo do massacre, 5 a 0 para os compatriotas dela: "O que está acontecendo?",indagou. "Eu não sei", respondi. "Não consigo estar feliz", ela disse. "E eu não consigo estar triste", devolvi. "Parece um jogo de adultos contra crianças", ela arrematou.

De fato, parecia. Só sei que foi o meu "fechamento" mais fácil na Copa. Quando o segundo tempo começou minha coluna nesta Folha, minha nota no blog do UOL e o comentário para a rádio CBN estavam praticamente prontos.

Só faltava acrescentar o placar final. Disse que nada mudou, exagerei. Mudaram algumas moscas, para não mudar. O presidente da CBF que começou a preparação para o Mundial, com Mano Menezes, teve de se escafeder para Boca Raton e de lá viu a troca de Mano, quando começava a acertar um time, por Felipão. O presidente que o sucedeu e fez a troca, anda preso em Zurique, sucedido por um terceiro que além de ter trocado Felipão por Dunga e posto um empresário de jogadores para comandar a seleção, se esconde por aí, temente de tratados de extradição e do trabalho conjunto do Ministério Público Federal e do FBI.

De resto, tudo como dantes no quartel de Abrantes. Aqui na terra estão jogando futebol (mal), exportando pé de obra a preços vis, os cuidados com a base são insignificantes, a presença de público nos estádios segue abaixo da liga dos Estados Unidos e o Paraguai segue eliminando o Brasil da Copa América o que, segundo Dunga, não tem importância porque ninguém dá bola quando se ganha o torneio.

Há, é verdade, um esforço no Congresso Nacional, sabotado pela CBF, para romper com tal estado de coisas, por meio do Profut, a Medida Provisória do Futebol. E tem gente boa pensando numa liga de clubes.Mas por enquanto está 10 a 1 para Alemanha.