20 anos da Internet

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Bem-vindo a 1º de maio de 1995. Você não entrou no Facebook nem viu mensagens no WhatsApp ou tirou dúvidas no Google. Nada disso é possível, já que esses serviços só serão lançados ao longo dos próximos 20 anos. Mas já dá para, ao menos, acessar a internet e mandar um e-mail.

Naquele dia, começou a ser oferecida no Brasil a conexão comercial à rede mundial de computadores, abrindo para pessoas comuns as possibilidades já disponíveis para acadêmicos e pesquisadores.

Nesta página, com formato inspirado no desenho do site que a Folha viria a lançar dois meses depois, em julho de 1995, você vai conhecer os pioneiros da rede no Brasil e saber como os internautas mudaram nessas duas décadas.

OS PIONEIROS

A eterna busca por um negócio na internet

NEGÓCIOS EM SÉRIE - Aleksandar Mandic, que teve de servidor a coletor de wi-fi

DIEGO IWATA LIMA
DE SÃO PAULO

Há uns quatro anos, o país vive uma espécie de "febre das start-ups", com jovens aproveitando o maior volume de investimento de capital de risco no Brasil para tentar criar a partir do nada um caso de sucesso que se pareça com algo como o Google, o Facebook ou o Instagram.

Toda uma comunidade de empreendedores, como eles gostam de ser chamados, de investidores e de palestrantes se formou em torno do tema. De certa forma, Aleksandar Mandic, 60, foi o precursor de tudo isso, há 20 anos.

Primeiro a explorar comercialmente uma BBS –espécie de avó da internet– por aqui, Mandic também desenvolveu um dos primeiros provedores comerciais de acesso à rede, que levava seu nome. Mais tarde, foi um dos fundadores do IG. Também já apostou em e-mail corporativo, em um rival do serviço de armazenagem Dropbox e em sistemas de armazenamento na nuvem.

Atualmente, ele, que não concluiu o ensino superior e não fala inglês (fala alemão, sérvio, croata e espanhol), está envolvido com o que considera mais quente no setor: os aplicativos para smartphones.

"Eu mantenho esse desktop aqui por força do hábito", disse à Folha, apontando para um Mac.

Filho de uma bielo-russa e de um sérvio, ele mora sozinho no bairro do Morumbi, em São Paulo, em um apartamento com poucas paredes, onde também fica seu atual escritório.

"O negócio hoje está aqui, ó", diz, enquanto segura o seu iPhone.

"Cada vez menos as pessoas vão usar computadores. Esse aqui é da minha namorada. Ela não vem aqui há dois dias", diz, apontando para um laptop.

Seu aplicativo Mandic Magic surgiu de uma demanda não sanada, segundo ele, por nenhum aplicativo disponível na Apple Store.

Trata-se de uma rede colaborativa, na qual as pessoas cadastram as senhas das redes wi-fi abertas dos ambientes que visitam.

"Imagine você na França, em um restaurante com wi-fi. A senha pode ser algo simples, como 'aeiou'. Mas o cara vai dizer em francês, e você pode não entender bem. Com o aplicativo, basta consultar o que o usuário anterior deixou registrado", diz.

Criado em 2013, o Magic conta com 10 milhões de usuários. A meta é chegar a 100 milhões.

BBS

Em 1990, o empresário iniciou a sua BBS (bulletin board system, na sigla em inglês). Apenas dois anos depois de comprar seu primeiro PC.

As BBS eram as irmãs limitadas da internet. Tratavam-se de pequenas redes particulares que interligavam computadores. Eram usadas por empresas para integrar funcionários e equipes de vendas, por exemplo.

Logo se tornaram também fonte de diversão, com jogos em rede e mecanismos primitivos que possibilitavam chat entre os usuários.

O empresário não teve a primeira BBS nacional. "Mas fui o primeiro a estruturar uma BBS como empresa", afirma.

Com aporte de um grupo de investimentos, o empresário transformou a Mandic BBS na Mandic Internet, um dos primeiros provedores de acesso à rede no país em 1995.

"Lembro-me do primeiro dia, aquele 28 de agosto de 1995. A gente tinha o acesso, mas não tinha o que acessar. Fomos para o site da Nasa", relembra-se.

Mandic tem seu quê de visionário, mas assume que também teve uma boa parcela de sorte.

Como no fim de 1999, por exemplo, quando decidiu vender sua empresa para o grupo argentino O Site, dois meses antes do estouro da bolha da internet, que levou muita gente à falência, devido à especulação desmedida no setor.

"Havia a impressão de que aquele crescimento todo não se sustentaria, mas não foi por isso que vendi a companhia", admite.

Mandic já era o vice-presidente do iG, presidido pelo publicitário Nizan Guanaes, quando a bolha estourou, em março de 2000. Mas, como executivo remunerado, ele sofreu menos do que sofreria como empresário.

Em 2002, reabriu uma empresa com seu nome, focada em e-mail corporativo sem limite para as caixas postais. Dez anos depois, vendeu a Mandic Mail para um fundo de investimentos.

"Se tem algo em que falhei foi em conseguir me aposentar", brinca.

Essa não foi a sua única falha. Em 2010, também não se elegeu deputado estadual pelo DEM, em São Paulo. Sua principal proposta era oferecer wi-fi em áreas públicas e menos privilegiadas.

INTERFACE

Dono de um avião Cessna modelo Citation Mustang, avaliado em cerca de US$ 3 milhões (R$ 9 milhões), Mandic graduou-se comandante de avião há pouco tempo.

O Mustang é a quarta aeronave do empresário, e esse hobby inclui algo mais prosaico: um Fusca modelo 1972.

No apartamento em que mora, mantém uma adega climatizada com diversos rótulos de vinho, várias garrafas de outros tipos de bebida, uma churrasqueira e a pequena Fox Paulistinha Domus.

Mandic, que já é avô, foi casado três vezes. Tem um filho de cada casamento.

"A Mariana [Agneli] vem aqui nos finais de semana, mas tem a casa dela", conta, sobre a namorada, 20 anos mais jovem, que conheceu via Facebook.

Para ele, a próxima grande revolução da internet se dará na interface com as máquinas. Ou seja, na maneira como os usuários interagem com seus aparelhos.

"Hoje, mesmo algumas tentativas de interação um pouco mais inteligentes, não funcionam muito bem", diz.

"Eu já desabilitei a Siri, por exemplo", disse sobre o software da Apple que emula inteligência artificial, fala e tenta entender o usuário.

Mandic não conhecia o filme "Her", de Spike Jonze, que trata justamente das relações entre usuários e um sistema operacional de inteligência artificial, em um futuro próximo.

Durante a entrevista, ao ficar saber do roteiro do filme, mostrou interesse pela obra e anotou seu nome em um bloquinho, apesar de ter à mão um computador desktop, um laptop, um iPad e um iPhone.

"Aprender um hábito novo é muito mais fácil do que abandonar um antigo", concluiu o empresário, com a caneta na mão.

Lembro do primeiro dia, aquele 28 de agosto de 1995. A gente tinha o acesso, mas não tinha o que acessar. Fomos para o site da Nasa

Aleksandar Mandic, empresário de internet